O DIREITO À TOLERÂNCIA COMO LIMITE AO DISCURSO DE ÓDIO
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2359-0106.2023.v10n2.p18-44Palavras-chave:
Liberdade de expressão, Discurso de ódio, Tolerância, Jeremy Waldron, Ronald DworkinResumo
O discurso de ódio é um problema importante para o debate jurídico brasileiro. A sua reverberação pode ser vista como reflexo do nosso passado, recheado de injustiças contra grupos minoritários. Ocorre que é um argumento famoso na teoria política estadunidense de cunho liberal a ideia de que o discurso de ódio estaria abarcado pela liberdade de expressão, cabendo a sua restrição prévia apenas em casos de incitação direta à violência. Este artigo busca problematizar essa tese. Propõe-se que a tolerância é um bem comum e difuso que gera direitos a todos, em função de ser condição para o exercício da autonomia que acompanha o status moral da dignidade humana. O discurso de ódio volta-se a dilapidar esse bem, gerando uma situação de limitação injusta da autonomia das pessoas à qual o discurso se volta. O trabalho parte dos argumentos de Jeremy Waldron no livro “The harm in the hate speech” (2012), apoiados na teoria da justiça de John Rawls, para fins de promover uma crítica fundada em princípios de justiça à corrente liberal, aqui resumida a partir dos argumentos de Ronald Dworkin. Após a exposição da tese de Waldron contra Dworkin, propõe-se uma releitura dos seus argumentos em consonância com uma teoria dos bens, para fins de elucidar a natureza da relação política que une pessoas de diferentes grupos e origens, obrigando-as a produzir e garantir a manutenção de um ambiente político de tolerância.
Referências
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado. 10ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2, parte especial: crimes contra a pessoa. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
BLONDE. Direção: Andrew Dominik. Produção de Dede Gardner et al. Brasil: Netflix, 2022. Streaming.
ME CHAME PELO SEU NOME. Direção: Luca Guadagnino. Produção de Peter Spears et al. Brasil: Sony Classics Pictures, 2017. Streaming.
DARWALL, Stephen L. Respect and the second-person standpoint. Proceedings and Addresses of the American Philosophical Association, Vol. 78, No. 2 (Nov., 2004), pp. 43-59.
DWORKIN, Ronald. Justice for hedgehogs. The Belknap Press of Harvard University Press, 2011.
DWORKIN, Ronald. Legal theory and the problem of sense. In: GAVISON, Ruth (Ed.). Issues in contemporary legal philosophy: the influence of H. L. A. Hart. Oxford: Clarendon Press, 1987.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. 3ª ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.
DWORKIN, Ronald. O direito da liberdade: a leitura moral da Constituição norte-americana. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2019.
DWORKIN, Ronald. O império do direito. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
DWORKIN, Ronald. Objectivity and truth: you’d better believe it. Philosophy and Public Affairs, Vol. 25, No. 2. (Spring, 1996),
ESTLUND, Cynthia L. Freedom of expression in the workplace and the problem of discriminatory harassment. Texas Law Review, Vol. 75, No. 4, 1996-1997, pp. 687-778.
FINNIS, John. H.L.A. Hart: A Twentieth-Century Oxford Political Philosopher. American Journal of Jurisprudence, vol. 54, no. 1 (2009): 161-186.
FINNIS, John. Natural law and natural rights. 2nd edition. Oxford: Oxford University Press, 2011.
FINNIS, John. Reason and Passion: The Constitutional Dialetic of Free Speech and Obscenity. University of Pennsylvania Law Review, vol. 116, no. 2, December 1967, pp. 222-243.
HART, H.L.A. O conceito de direito. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
HERMANN, Julia. On moral certainty, justification and practice: a Wittgensteinian perspective. New York: Palgrave MacMillan, 2015.
LAWRENCE III, Charles R. If he hollers let him go: regulating racist speech on campus. In: MATSUDA, Mari J. et al (Eds). Words that wound: critical race theory, assaultive speech, and the First Amendment. New York: Routledge, 1993.
LOPES, José Reinaldo de Lima. Curso de filosofia do direito: o direito como prática. 2ª ed. rev. e atual. Barueri: Atlas, 2022.
MACKINNON, Catharine. Weaponizing the First Amendment. Virginia Law Review, October 2000, Vol. 106, No. 6, pp. 1223-1283.
MILL, John Stuart. On liberty. Mineola: Dover Publications Inc., 2002.
MOREIRA, Adilson. Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica jurídica. São Paulo: Contracorrente, 2019.
MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo. Pólen Produção Editorial LTDA, 2019.
NUSSBAUM, Martha. Sem fins lucrativos: por que a democracia precisa das humanidades. WMF Martins Fontes: São Paulo, 2017.
Ó, PAÍ, Ó. Direção: Monique Gardenberg. Produção de Augusto Case, Paula Lavigne, Sara Silveira. Brasil: Europa Filmes, 2007. Youtube.
XXX. Xxxxxxxx. xxxxx, xxxx, v. xx, n. xx, p. xx, xx.
RAWLS, John. A theory of justice. Revised edition. Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press, 1999.
RAWLS, John. Political liberalism. Expanded edition. New York: Columbia University Press, 1993.
RAWLS, John. Social unity and primary goods. In: FREEMAN, Samuel (Ed.). John Rawls: Collected papers. Cambridge: Harvard University Press, 1999.
TAYLOR, Charles. As fontes do self: a construção da identidade moderna. 4ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
TAYLOR, Charles. Irreducibly social goods. In: TAYLOR, Charles. Philosophical arguments. Cambridge: Harvard University Press, 1995.
WALDRON, Jeremy. Can communal goods be human rights? European Journal of Sociology, Vol. 28, Issue 02, November 1987, pp. 296-322.
WALDRON, Jeremy. Commentary on Mary Kate McGowan’s ‘Just Words: on speech and hidden harm: an overview and an application.’ Australasian Philosophical Review, Vol. 5, No. 22, 2021, pp. 170-178.
WALDRON, Jeremy. The harm in hate speech. Cambridge: Harvard University Press, 2012.
WITTGENSTEIN, Ludwig. On certainty. Oxford: Basi, 1969.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Martin Magnus Petiz
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os trabalhos aprovados para publicação tornar-se-ão propriedade da Revista sem qualquer ônus para a mesma. A Equipe Editorial se reserva o direito de promover as adequações necessárias para publicação.
O conteúdo dos trabalhos publicados na Revista Jurídica eletrônica Vertentes do Direito - inclusive quanto à sua veracidade, exatidão e atualização das informações e métodos de pesquisa - é de responsabilidade exclusiva dos autores. As opiniões e conclusões expressas não representam posições da Revista nem da Universidade Federal do Tocantins.