ENTRE O ESCREVER E O REMEMORAR
A POESIA TESTEMUNHAL DE LARA DE LEMOS SOBRE A DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA
DOI:
https://doi.org/10.20873.24.4012Palabras clave:
Autoritarismo, Testemunho, Trauma, Direito e LiteraturaResumen
Lara de Lemos foi uma escritora com olhar atento às questões sociais à época do regime militar brasileiro (1964-1985). Presa política e torturada pelos militares, sua obra intitulada “Inventário do Medo” (1997) apresenta, de maneira sequencial, os fatos vivenciados pela autora, de modo a ser um projeto político-estético, por meio do qual testemunha a violência e a barbárie por ela sofridas. Cientes das nuances de um autoritarismo que ainda se faz presente, vislumbramos na voz e escrita poética de Lara de Lemos uma inscrição memorialística por meio da qual violações a direitos fundamentais são denunciadas. Buscamos, portanto, analisar as formas de resistência em sua poesia, em que a sua escrita de si compreende, para além da sua própria voz, as vozes das vítimas do regime ditatorial. A pesquisa, que se insere no âmbito da interlocução entre Direito e Literatura, busca, assim, contribuir para se fazer justiça a Lara e aos seus direitos à memória, à história, ao seu corpo e sua existência. Para isso, aplicamos a técnica da pesquisa bibliográfica e, como percurso teórico-metodológico, se analisa um poema de cada capítulo do livro (conforme a cronologia dos fatos), a saber: invasão de domicílio; tempo de inquisição; celas; reminiscências.
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