Ser e Não-Ser
o problema da identidade pessoal diante do paciente com baixos níveis de consciência
Palavras-chave:
Percepção de aspectos, Identidade Pessoal, Pessoa, PragmáticaResumo
Este artigo propõe um ensaio a partir de um proferimento emitido por um visitante de uma paciente em estado de mutismo acinético em um leito de UTI. Esboça-se considerações a respeito do proferimento do visitante, que diz: “Mãe, abre os olhos pra eu te ver” – que entendemos revelar uma hesitação quanto à percepção da identidade pessoal da paciente. Partimos de algumas considerações de Wittgenstein sobre visão de aspectos, ver e ver como. Aproximamo-nos de noções que consideramos auxiliares para a compreensão da questão posta, como “identidade pessoal”, “pessoa”, “eu”, “tu”. Pela via da linguagem situada, portanto pragmática, busca-se abordar as noções citadas de maneira a compreender melhor a situação da emergência e da revelação de um modo de perceber e de dizer, que se correlacionam. Desenvolvendo comparações, contrastes e aproximações de discursos, busca-se mostrar como isso que reconhecemos como identidade pessoal, ou seja, que lidamos com “a mesma pessoa”, relaciona-se intimamente com o falar e o olhar, e certas maneiras de conceber e perceber uma vida psíquica. De forma que o sucesso de uma resposta depende do sentido da interpelação. Com isso, este artigo tem como objetivo evidenciar a complexidade do tema quando confrontado com situações limites (como a pessoa com baixos níveis de consciência) ao circular ao redor do proferimento-questão.
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