COMUNICAÇÃO, DEMOCRACIA E DESINFORMAÇÃO: A cooptação de candidaturas indígenas como estratégia de manipulação.
The Co-optation of Indigenous Candidacies as a Strategy of Political Manipulation.
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2025v11n1a21ptPalavras-chave:
Comunicação política, Desinformação, Representação indígena, Democracia, Cooptação eleitoralResumo
Este estudo investiga as práticas de cooptação de candidaturas indígenas nas eleições municipais de 2024 no Brasil, analisando-as como estratégias comunicacionais de desinformação que comprometem a integridade democrática. Através de uma análise que articula comunicação política, estudos sobre desinformação e dados eleitorais oficiais, o trabalho examina como a instrumentalização de candidatos indígenas opera através de mecanismos como diversity-washing, astroturfing e framing enganoso para legitimar interesses contrários aos povos originários. A pesquisa revela que, apesar do crescimento de 33% no número de vereadores indígenas eleitos em 2024 (241 eleitos comparado a 181 em 2020), persistem práticas de cooptação que transformam a representação política em ferramenta de desinformação. Os resultados demonstram que essas estratégias não apenas perpetuam a sub-representação indígena - com apenas 0,162% dos municípios tendo prefeitos indígenas e 0,416% dos vereadores sendo indígenas, enquanto representam 0,83% da população - mas também funcionam como mecanismos de captura de espaços democráticos que deveriam amplificar vozes historicamente silenciadas.
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