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A Literatura como via de ressignificação do passado: diálogos entre o Pensamento Decolonial e os projetos estéticos/teóricos decoloniais

2025-10-13

A Literatura como via de ressignificação do passado: diálogos entre o Pensamento Decolonial e os projetos estéticos/teóricos decoloniais

 

A construção de um passado histórico pode ser lida através de diferentes mecanismos, por exemplo, as conjunturas políticas hegemônicas, as disputas de narrativas e centros de tradições oficializadas que erigiram modelos para uma interpretação dominante da história ou, ainda, as expressões de arte, entre elas a literatura. A América Latina foi pródiga dessa tessitura escritural autoritária – materializada na retórica da civilidade/modernidade (Mignolo, 2017), pois muitos de seus eventos do passado, bem como a construção discursiva de seus heróis, foi edificada por mãos hábeis e extremamente belicosas desde o período colonial. Isso, em consequência, promoveu, por longos séculos, um padrão eurocêntrico de pensamento colonizado, conforme expressa Santiago (2000), oriundo do poder dominador que impunha suas crenças, suas estruturas, suas línguas em uma implementação colonialista sem criticidade do seu próprio percurso e trajetória.

Toda a subjugação, opressão e exploração que esse sistema colonizador impunha aos habitantes originários da América fez surgir vozes anticolonialistas desde o século XVII – como a de Waman Puma De Ayala, um nativo andino, nascido após a ocupação de Tawantinsuyu, aproximadamente, no ano de 1535, autor da obra Nueva Crónica y Buen Gobierno ([1616] 1993)[1] e do mestiço Inca Garcilazo de la Vega, com seus Comentarios Reales de los Incas[2] (1609) – assim como vozes antirracistas e antiescravagistas na Literatura Brasileira do século XIX, como as de Maria Firmina dos Reis e Machado de Assis, entre outros. Contudo, foi ao longo do século XX, que começaram a ocorrer rupturas mais constantes dessa matriz colonial do poder, no intento de se romper essa hegemonia discursiva colonialista, sobretudo, em face do Pensamento Decolonial (Fano, 1983; Dussel, 1992; Grosfoguel, 2006, Mignolo 2000) que começou a florescer, com vigor, nas últimas décadas do século XX, almejando um outro discurso voltado à descolonização de mentes, identidades, imaginários e saberes da população latino-americana. O Pensamento decolonial tem, assim, inspirado, igualmente, projetos teóricos de descolonização epistêmica em busca da decolonialidade do saber e do ser.

A partir do exposto, o presente dossiê possui o objetivo de reunir artigos que demonstrem as várias tentativas de reescrita e de ressignificações de nosso passado a partir de outras interpretações acerca do passado da América Latina por meio da produção literária e audiovisual, vistas como produções do “entre-lugar” (Santiago, 2000) ou concebidas no “pensamento fronteiriço” (Mignolo, 2000). No tocante à produção mobilizada, consideramos que essa já seja farta e profícua tanto no Brasil quanto nos países hispano-americanos vizinhos. Assim, destacamos obras memorialistas, de formação leitora literária decolonial, literaturas de testemunhos, biografias, contos e romances híbridos de história e ficção, escritas de mulheres, traduções decoloniais, escritas de e sobre descendentes nativos da América, bem como outros projetos estéticos/teóricos decoloniais que venham a problematizar as escritas hegemônicas da historiografia tradicional bem como concepções tradicionais que ainda orientam o fazer intelectual latino-americano em ações do “re-in-surgir”, defendido por Walsh (2009), propondo ressignificações históricas de nosso passado e possibilidades de descolonização epistemológica. Em síntese, convidamos os autores a construir um diálogo profícuo a partir da literatura e das artes visuais em convergência com a história, a política Latino-Americana, as teorias da formação do leitor decolonial e, especialmente, da reconfiguração de seus personagens, sujeitos que outrora foram subalternizados pelo capital e pelo pensamento eurocêntrico e norte-cêntrico, mas que, por meio dessa nova mirada decolonial, assumem os protagonismos em diferentes narrativas em face de produções impregnadas de resistências.

 

Palavras-Chaves: Literatura latino-americana; Pensamento Decolonial; Testemunhos e Resistência; Ressignificações da História; Traduções Literárias decoloniais; Escritas de mulheres.

 

Organizadores:

Prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck (UNIOESTE)

Prof. Dr. César Alessandro Sagrillo Figueiredo (UFNT)

Prof. Dr. Cristian Javier Lopez (UPE)

 

Prazo de submissão:

Início: 01/11/2025

Fim: 31/01/2026

Data de publicação maio de 2026

Sugestões de Referências Teóricas:

 

CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón (Orgs.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2007. p. 127-168.

 

DORADO MENDEZ, Hugo Eliecer; FLECK, Gilmei Francisco. Projetos decoloniais na América Latina: o romance histórico latino-americano e a dupla descolonização epistemológica. Nova Revista Amazônica, v. 10, n. 01, p. 125-139, jun. 2022. Disponível em: file:///D:/Documentos%20-%20Admin/Downloads/12763-41645-1-SM%20(1).pdf. Acesso em: 16 jul. 2025.

 

DUSSEL, Enrique. 1942: El encubrimento del otro. Buenos Aires: Docencia, 2012.

 

FANON, Franz. Peles negras, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

 

FLECK, Gilmei Francisco. A formação do leitor literário decolonial: vias à descolonização das mentes, das identidades e d imaginário na América Latina. Volume I - Coleção Ensino de Literatura, Formação do Leitor e Decolonialidade: práticas de leituras decoloniais no espaço escolar. Campinas/SP: Pontes, 2025.

 

GALINDO, María. No se puede descolonizar sin despatriarcalizar: teoría y propuesta de la despatriarcalización. La Paz, Bolívia: Mujeres Creando, 2013.

 

GROSFOGUEL, Ramón. La descolonización de la economía política y los estudios postcoloniales: transmodernidad, pensamiento fronterizo y colonialidad global. Tabula Rasa, Bogotá, n. 4, p. 17-46, jan./jun. 2006. Disponível em: https://www.revistatabularasa.org/numero04/la-descolonizacion-de-la-economia-politica-y-los-estudios-postcoloniales-transmodernidad-pensamiento-fronterizo-y-colonialidad-global/. Acesso em: 12 mar. 2024.

 

LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa, Bogotá, Colombia, n. 9, p.73-101, 2008. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=39600906. Acesso em: 13 abril 2025.

 

LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/%25x. Acesso em: 13 abril 2025.

 

MIGNOLO, Walter. Historia globales / Proyectos globales. Colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Madrid: Akal, 2000.

 

MIGNOLO, Walter. Desafios decoloniais hoje. Revista Epistemologias do Sul, Foz do Iguaçu, v.1, n.1, p. 12-32, 2017. Disponível em: https://revistas.unila.edu.br/epistemologiasdosul/article/view/772. Acesso em: 12 mar. 2025.

 

OLIVEIRA, Marcio da Silva. O Vergalho, de Machado de Assis – uma leitura sob a ótica das estratégias de dominação cultural e colonial. Revista Trama, volume 12, número 27, p. 313-333, 2016. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/14478. Acesso em: 10 ago. 2025.

 

PALERMO, Zulma. Desobediencia epistémica y opción decolonial. Cadernos de estudos culturais. Campo Grande (MS), v. 5, p. 237-254, jan./jun. 2013. Disponível em: file:///D:/Documentos%20-%20Admin/Downloads/3517-Texto%20do%20artigo-10892-1-10-20170424%20(2).pdf. Acesso em: 18 ago. 2022.

 

QUIJANO, Aníbal. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005. p. 117-142. Disponível em: https://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf. Acesso em: 20 jul. 2025.

 

SANTIAGO, Silviano. Uma Literatura nos trópicos: ensaios sobre dependência cultural. 2.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

 

WALSH, Catherine. Interculturalidad, Estado, Sociedad: Luchas (de)coloniales de nuestra época. Universidad Andina Simón Bolivar, Ediciones AbyaYala: Quito, 2009.

 

[1] PUMA DE AYALA. Waman. Nova Crônica e Bom Governo. Estados Unidos: Fondo de Cultura Económica USA, [1616] 1993.

[2] O Inca Garcilazo de la Veja – filho de um espanhol com uma princesa incaica, considerado o primeiro escritor mestiço da América Hispânica – é autor da famosa obra os Comentarios Reales de los Incas (1609]. [GARCILAZO DE LA VEJA, Inca. Comentarios Reales de los Incas. Lisboa: Offícina de Pedro Crasbccck, 1609. Disponível em: https://archive.org/details/comentarios-reales-de-los-incas/mode/2up. Acesso em; 04 ago. 2025].

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