O REAL DO TRABALHO FRENTE AO CONTEXTO DE PRECARIZAÇÃO E O TRABALHO MEDIADO POR PLATAFORMAS DIGITAIS

Autores

  • Beatriz Amália Albarello Universidade Católica de Brasília (UCB)
  • Lêda Gonçalves de Freitas Universidade Católica de Brasília (UCB)
  • Manuela Silvestre Fernandes Alencar Universidade Católica de Brasília (UCB)
  • Maria Eduarda Santos Pontes Pinto Universidade Católica de Brasília (UCB)

DOI:

https://doi.org/10.20873/2526-1487e023025

Palavras-chave:

Organização do trabalho, Psicodinâmica do trabalho, Sofrimento no trabalho, Plataforma digital

Resumo

Considerando a dominância do capitalismo em sua fase neoliberal, a precarização do trabalho é consolidada pelas plataformas digitais, com os serviços de delivery. Neste modo de produção, os trabalhadores, seduzidos pelo capital em sua fase rentista, tem uma falsa ideia de empreendedorismo. O trabalhador, subsumido pelo algoritmo, se implica ao trabalho, numa lógica da produtividade, aceleração, flexibilidade e subsunção do poder do capital, para encontrar meios de sobrevivência. Foi realizada uma pesquisa qualitativa e descritiva do tipo pesquisa-ação. Participaram do estudo três trabalhadores, sendo um entregador-ciclista e dois entregadores com motocicletas, que utilizam serviços de aplicativos para realizar as entregas. Esta pesquisa objetivou compreender como as organizações de plataformas digitais atuam para desequilibrar o sujeito, que busca criar possibilidades de enfrentamento na promoção da saúde no trabalho para construir processos mobilizatórios, a fim de transformar o sofrimento em prazer. O estudo mostra que os entregadores usam de recursos para enfrentar as dificuldades vindas do real do trabalho, tendo como estratégias de enfrentamento a mobilização subjetiva. Além disso, a desregulamentação reverbera a precarização do trabalho, sendo um fator de risco no que tange a garantias de direito para a promoção da saúde e segurança no trabalho.

Biografia do Autor

Beatriz Amália Albarello, Universidade Católica de Brasília (UCB)

Doutora em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília. Mestre em Psicologia, Especialista em Análise e Diagnóstico Organizacional e graduada em Psicologia pela PUC de Goiás. Atualmente atuo em projetos de pesquisa, consultoria, assessoria, mentoring e pós-graduação. Docente do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) nas áreas de diagnóstico organizacional e planejamento estratégico em gestão de recursos humanos, psicologia do trabalho, bem-estar e qualidade de vida no trabalho; avaliação psicológica e psicodiagnóstico adulto e infantil e saúde mental do trabalhador. Supervisora de estágio nas áreas de psicodiagnóstico e saúde mental, avaliação psicológica e desenvolvimento humano. Sou pesquisadora e membro, sem vínculo empregatício, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão e Saúde do Trabalhador, das Faculdades de Administração, Contabilidade e Economia (FACE) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do Laboratório de Trabalho, Sofrimento e Ação (Latrasa). Desenvolvo projetos de consultoria, treinamento, desenvolvimento e coaching em micro e pequenas empresas e participo como responsável técnica e atendimento psicoterápico em serviços de atendimento psicossocial em clínicas, ONGs, comunidades e escolas da região do Distrito Federal e Entorno.

Lêda Gonçalves de Freitas, Universidade Católica de Brasília (UCB)

Pós-Doutora em Psicossociologia pelo Conservatoire National de Arts et Métiers (CNAM), em Paris. Doutora em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UnB). Vice-coordenadora do Grupo de Trabalho: "Trabalho, Subjetividade e Práticas Clínicas" da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Docente do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB). Editora da Revista Trabalho (EN) Cena.Temas de pesquisa: Trabalho contemporâneo: uberização, precarização e sentidos do trabalho; Mobilização subjetiva no trabalho; Saúde do trabalhador; Clínica do trabalho e potência para as resistências.

Manuela Silvestre Fernandes Alencar, Universidade Católica de Brasília (UCB)

Graduanda em Psicologia do décimo semestre da Universidade Católica de Brasília - UCB. Atua como pesquisadora de Iniciação Científica no projeto de pesquisa Trabalho e Mobilização Subjetiva da Universidade Católica de Brasília. Presidente do Centro Acadêmico de Psicologia da UCB. Membro titular da Comissão Especial de Estudantes do Conselho Regional de Psicologia - CRP 01/DF.

Maria Eduarda Santos Pontes Pinto, Universidade Católica de Brasília (UCB)

Graduanda em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Possui bolsa há 3 anos de Iniciação cientifica na Universidade Católica, no projeto Trabalho e Mobilização Subjetiva do Laboratório de Trabalho, Sofrimento e Ação (Latrasa). Possui experiência na área de Psicologia.
Destaca como principais trabalhos a Menção Honrosa no 19º Congresso de Iniciação Científica do DF e 28º Congresso de Iniciação Científica da UnB
com a apresentação do trabalho intitulado Mobilização subjetiva no trabalho de motoristas de aplicativos. Participação na qualidade de apresentadora do trabalho Mobilização subjetiva no trabalho de motoristas de aplicativos, no evento Encontro Internacional sobre o trabalho (EITA).

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Publicado

2023-11-19

Como Citar

Albarello, B. A., Freitas, L. G. de, Alencar, M. S. F., & Pinto, M. E. S. P. (2023). O REAL DO TRABALHO FRENTE AO CONTEXTO DE PRECARIZAÇÃO E O TRABALHO MEDIADO POR PLATAFORMAS DIGITAIS. Trabalho (En)Cena, 8(Contínuo), e023025. https://doi.org/10.20873/2526-1487e023025

Edição

Seção

Dossiê: Fatores Humanos: Saúde e Segurança no Trabalho