FOTOGRAFIA E PÓS-FOTOGRAFIA: do controle ao descontrole
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2447-4266.2018v4n1p220Palavras-chave:
Controle, virtual, inconscienteResumo
Entre as funções originárias da fotografia está a documental. A foto dá testemunho da verdade. Barthes, em 1980, chegou a encontrar na essência da fotografia o “isso-foi”. Na foto se manifestaria necessariamente a verdade de uma realidade do passado. Ora, o dito popular – uma imagem vale mais que mil palavras! – até há pouco parecia incontestável (hoje desconfiamos mais de uma foto do que há 30 anos atrás). Fotografia documental, medical, policial, foto de identidade, identificação, controle, de tal maneira que aquele dito popular se inscreve em uma série que nos leva a outra frase de nosso cotidiano, de formulação mais recente: sorria, você está sendo filmado! A essa função-verdade da fotografia, ligada ao controle, eu gostaria de opor uma outra: uma pós-função, uma função pós-verdade, no sentido de uma metaverdade, de um para além da verdade fotográfica. – Isso não é verdade! Não é isso o que eu vi! Não pode ser! – essas exclamações podem expressar duas coisas diferentes: seja a denegação da verdade, seja o afloramento na foto de um virtual imagético, de um inconsciente visual. O que me interessa aqui é a segunda alternativa: a de que, numa imagem fotográfica, faça irrupção algo que não tenha sido conscientemente fotografado.
PALAVRAS-CHAVE: Controle; virtual; incosciente.
ABSTRACT
Among the originary functions of photography there is the documental function. The photograph testifies to the truth. Barthes, in 1980, came to find the essence of photography in the “that-has-been”. A photograph would necessarily manifest the truth of a past reality. This explains why the popular saying – a picture is worth a thousand words! – until recently seemed incontestable (today we suspect more of a photo than 30 years ago). Documental photography, medical, identity photography, identification, control, in such a way that that popular saying is inscribed in a series that leads us to another sentence of our daily, in a more recent formulation: smile, you are being filmed! To this truth-function of photography, linked to control, I would like to oppose another: a post-function, a post-truth function, in the sense of a meta-truth, one beyond the photographic truth. – This is not true! That's not what I saw! It can not be! – these exclamations can express two different things: either the denial of truth, or the outcropping in the photograph of an imagetic virtual, of a visual unconscious. What interests me here is the second alternative: that in a photographic image something erupts that has not been consciously photographed.
KEYWORDS: Control; virtual; unconcious.
RESUMEN
Entre las funciones originarias de la fotografía está la documental. La foto es testigo de la verdad. Barthes, en 1980, llegó a ubicar la esencia de la fotografía en el “esto-ha-sido”. En la foto necesariamente se manifesta la verdad de una realidad del pasado. El dicho popular – una imagen vale más que mil palabras! – hasta hace poco parecía incontestable (hoy día sospechamos más de una foto que hace 30 años). La fotografía documental, medical, policial, foto de identidad, identificación, control, de modo que aquel dicho popular se inscribe en una serie que nos lleva a otra frase de nuestra vida cotidiana, de formulación más reciente: sonría, usted está siendo filmado! A esta función-verdad de la fotografía, conectada al control, me gustaría oponer una otra: una posfunción, una función posverdad , en el sentido de una metaverdad, de un más allá de la verdad fotográfica. – ¡Eso no es verdad! Eso no es lo que vi! ¡No puede ser! – estas exclamaciones pueden expresar dos cosas diferentes: o bien la negación de la verdad, o bien el afloramiento en la foto de una imagen virtual, un inconsciente visual. Lo que me interesa aquí es la segunda alternativa: que en una imagen fotográfica haga irrupción algo que no ha sido conscientemente fotografiado.
PALABRAS CLAVE: Control; virtual; inconsciente.
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