MAL DE ARQUIVO NO ANTROPOCENO
ECOMEMÓRIA ESPECULATIVA
Palavras-chave:
memória planetária; Antropoceno; eco-especulaçãoResumo
Resumo: O sentimento de “fim” (da história, do tempo, da narrativa) resultante do corte epistemológico ocorrido na modernidade tardia, entendido como o fim da era das grandes narrativas formadoras da modernidade ocidental, dá lugar a um sentimento de perda – ontológica, mnemônica, ideológica e ambiental. Tais perdas nos levam a ter o olhar crescentemente voltado (ainda que com trepidação) para o futuro. Em meu artigo, argumento que, dentro desse processo, a memória passa a fazer parte do que Castree (2013) denomina “semântica antecipatória” – um exercício de buscar respostas, através da especulação, para a virada antropogênica do planeta. O Antropoceno afeta os objetos da memória, a escala das lembranças e o humanismo subjacente aos estudos da memória. Dentro dessa dimensão e escala, opto por introduzir, juntamente com estudiosos como Crownshaw (2017) e Colebrook (2017), a noção de memória planetária. A memória planetária é caracterizada pelo Antropoceno e, por extensão, por inscrições deixadas pela atuação humana. Vivemos num momento em que o cultural se encontra tão imbricado no natural que qualquer noção do registro objetivo da Terra, sem interferência humana, não se sustenta. Eis o desafio arquivístico: a própria história da ciência não escapa às narrativas culturais, já amalgamadas à história da própria Terra. Há uma vertente da ficção eco-especulativa merecedora de atenção, que lança mão de um artifício mediador, que chamarei de “arconte do futuro”, cuja narrativa relembra nosso momento presente pela perspectiva futura – em geral distópica, pós-humana e marcada por mudanças climáticas intensas. Vale ouvir o que ele tem a nos dizer.
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