VIVÊNCIAS INTERSUBJETIVAS DE SOFRIMENTO NO TRABALHO DE MULHERES NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO: ANÁLISE À LUZ DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO
DOI:
https://doi.org/10.20873/2526-1487e023011Palavras-chave:
Mulher;, Trabalho feminino;, Setor automobilístico;, Psicodinâmica do trabalho.Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar as vivências intersubjetivas de sofrimento no trabalho de mulheres no setor automotivo. A pesquisa foi baseada em um estudo de caso com 24 trabalhadoras de uma indústria automotiva localizada no interior de São Paulo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionário online, sendo que os dados foram tratados por meio de Análise de conteúdo e articulados às contribuições teóricas da Psicodinâmica do Trabalho. Quanto aos resultados, evidenciou-se que a empresa totaliza uma força de trabalho majoritariamente masculina (92%) que reforça uma clara divisão social e sexual do trabalho na cadeia de trabalho automotiva. A dinâmica organizacional culmina na dificuldade das mulheres conciliar trabalho produtivo e reprodutivo para continuar se desenvolvendo na carreira. Questionamentos sobre a competência, sobretudo em relação às mulheres que ocupam cargos de liderança e formas assédio moral foram visualizados na pesquisa. Aproximadamente 68,4% das trabalhadoras, independentemente da função que ocupavam, mencionaram igualmente sentir estresse e ansiedade, ou seja, manifestações de sofrimento no trabalho. Enquanto mecanismo de defesa, a pesquisa demonstrou que as trabalhadoras desenvolvem estratégias e comportamentos para serem aceitas e provar que são capazes o suficiente para ocupar seus cargos na organização.
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