O NARRADOR TESTEMUNHA ENTRE O PASSADO E O PRESENTE NO RESGATE DA HISTÓRIA NO CONTO “OS SOBREVIVENTES”, DE CAIO FERNANDO ABREU
Palavras-chave:
Memória e ficção. Narrativa testemunhal. Função autor-realidade social.Resumo
Este artigo é uma reflexão que tem como objeto de análise o conto "Os Sobreviventes", da obra "Morangos mofados", de Caio Fernando Abreu, a partir da noção de narrador-testemunha de fatos experenciados no passado e presentes em sua memória discursiva - as experiências políticas da Ditadura Militar, no Brasil, nas décadas de 1960 a 1980 -, resgatando-os a fim de que possam ser reorganizados, atribuindo-lhes devido sentido no presente diante da perda dos ideais do passado. A metodologia utilizada é de cunho analítico-interpretativo-reconstrutivo de investigação bibliográfica principal (Caio) e secundária (BENJAMIN, 2005; BOSI, 2002; CALVINO, 1979; ECO, 2001; GAGNEBIN, 2006; ORLANDI (2004), PÊCHEUX (2007), SELIGMANN-SILVA, 2003). Interessa esta investigação enquanto leitura da revisão do passado das personagens e de sua geração quando se articula com as noções de história, trauma e testemunho do referencial visitado ao perceber nisso uma experiência cindida a partir de uma narrativa transfigurada pela narração entrecortada e fragmentada. Esta postura aderida pelo contista pode estabelecer relações em que os antagonismos não resolvidos retornam à narrativa como os problemas imanentes das personagens. Nesse sentido, ao fazer uso da fragmentação formal, o autor estabelece uma conexão entre forma de composição e conteúdo narrado, conservando na própria estrutura da obra literária os conflitos e antagonismos sociais insolúveis. Sendo assim, de alguma maneira, a obra de Caio Fernando Abreu prevê o seu leitor, tanto o interpretante imediato quanto interpretante dinâmico, que no curso da interpretação do conto poderá atribuir os sentidos evocados nas marcas deixadas pelo autor, tornando-se, assim, leitor-modelo.
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