Descompassos da reforma psiquiátrica: a saúde mental em um município do interior do Paraná
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2014v1n1p317Palavras-chave:
saúde mental, rede de atenção, atenção psicossocial, Reforma Psiquiátrica, desinstitucionalizaçãoResumo
Este trabalho teve como objetivo caracterizar a rede de atenção em saúde mental em um município de pequeno porte no interior do Estado do Paraná. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo e exploratório, tendo como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada. O grupo de sujeitos participantes da pesquisa foi constituído por representante da gestão da Secretaria Municipal de Saúde e trabalhadores vinculados à atenção primária, ambulatorial e hospitalar. A partir dos dados encontrados, tratamos de alguns dos desafios que se fazem presentes na trajetória de construção de modelos de assistência condizentes com as diretrizes da atenção psicossocial. Pudemos observar que ao invés de uma rede, existem no município alguns pontos de atenção, os quais nem sempre apresentam-se de modo articulado. O cuidado centrava-se no binômio hospital-ambulatório, sendo que o atendimento ofertado tinha um caráter marcadamente medicamentoso e fundamentado na perspectiva biomédica. Notamos a existência de um modelo médico-centrado em detrimento de uma prática usuáriocentrada. Neste sentido, apontamos para um descompasso existente na trajetória da Reforma no cenário brasileiro, pois se por um lado muito se avançou em alguns municípios e Estados, em outros a Reforma parece não exercer um impacto significativo em direção à consolidação de um novo modelo de atenção.
Palavras-chave: saúde mental, rede de atenção, atenção psicossocial, Reforma Psiquiátrica, desinstitucionalização
ABSTRACT
This work aimed to characterize the mental health care network in a small city in the state of Paraná. This is a qualitative and exploratory research, which used the semi-structured interview as data collection technique. The group of the research subjects consisted of a municipal Health Department management representative and workers linked to primary, ambulatory and hospital care. From the data obtained, we dealt with some of the challenges that arise in the path of care models construction consistent with the guidelines of psychosocial care. We were able to observe that instead of a network, there are some care centers in the city, which do not always present themselves articulately. The care was focused on the binominal ambulatory-hospital and the assistance offered had a markedly medicinal character, grounded in biomedical perspective. We noticed the existence of a doctor-centered model to the detriment of a user-centered practice. This way, we point to a mismatch on the Reform trajectory in the Brazilian scenario, because if on the one hand there were a lot of advances in some cities and states, in others places the Reform does not seem to have a significant impact towards the consolidation of a new care model.
Keywords: mental health, care network, psychosocial care, Psychiatric Reform, deinstitutionalization
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