NECROENUNCIAÇÃO: COMANDO DE MORTE A OUTREM
DOI:
https://doi.org/10.20873.24.301Resumo
A violência e o ódio a outrem são antigos, mas não são naturais nem intrínsecos ao ser humano. São construídos e alimentados historicamente, assim como as práticas sociodiscursivas de sua materialização. Apesar disso, a violência está na base das relações (disputas) humanas, sustentando as tensões de poder que atuam nas malhas das relações sociais e o ódio tem sido uma estratégia de dominação, de opressão e de enfrentamento à dominação e à opressão. Assim, a figura do antagônico ou inimigo, o alvo do ódio e das práticas de violência, forjadas nos tensionamentos de poder, ainda é fundamental na estrutura maniqueísta das consciências e das subjetividades humanas. Nesse processo, insurge uma linguagem e um modo de significação de mundo, formalizados pela violência: a necrolinguagem, em necroenunciações. Com base no vídeo da Reunião Ministerial de 22 de abril de 2020, neste artigo, discutimos sobre os efeitos produzidos pelas necroenunciações do então governo brasileiro, centradas no desenvolvimento nacional, e seus impactos sobre os grupos historicamente subalternizados. Adicionalmente, refletimos sobre a formação docente desses grupos, com base em uma educação linguística que reconheça a ambivalência colonial do português, isto é, sua agência tanto como instrumento de dominação quanto como defesa contra seus efeitos de dominação. Podemos aventar que no tensionamento social, como reação, as necroenunciações e os necroenunciados dos discursos dominantes estão fazendo parte também dos argumentos de defesa das vítimas por embasarem as denúncias das violências sociais.
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