A BIOPOLÍTICA NA REGULAÇÃO SUBJETIVA PELO DISCURSO MATERNO
OS EFEITOS DO GOVERNO DO CORPO FEMININO DA PROTAGONISTA NA MINISSÉRIE MAID
Resumo
Nesta pesquisa, objetivamos descrever e analisar discursivamente os enunciados da personagem principal da minissérie Maid (MAID, 2021), a respeito da regulação subjetiva pelo discurso materno. Apoiamo-nos na perspectiva da Análise de Discurso de linha francesa, nos estudos foucaultianos sobre a biopolítica na regulação da vida e os comportamentos que legitimam a personagem como mãe, esposa, filha e ente familiar. As práticas anátomo-políticas do corpo pelos biopoderes com efeitos individuais homogeneizantes e a biopolítica que permeia as populações vão chancelar a regulação subjetiva da protagonista, clivando Alex pelas violências psicológicas representadas pelas instituições família e Estado. A protagonista Alex sofreu abusos psicológicos, financeiros, trabalhistas e de gênero, como uma mãe solo. Indagamos como o biopoder e a biopolítica operam técnicas de subjetivação por meio de vontades de verdade para normalizar a instituição da família tradicional e conservadora, cuja tônica é patriarcal. A minissérie permite a descrição e a análise da ordem discursiva predominantemente machista e misógina, do funcionamento dos discursos binários (feminino/masculino) e dos agenciamentos discursivos, que podem ser escavados para a análise dos modos como atuam as práticas de subjetivação, o governo dos corpos, e seus funcionamentos nos enunciados materializados em Maid (MAID, 2021). Como resultados, constatamos como o corpo feminino é clivado por preconceitos e estigmas sociais sócio historicamente, dados os efeitos de normalização discursiva que preconizam como podem e devem ser as condutas das esposas e mães, governos de si capazes de demarcar um acontecimento verificado de modo cristalizado nos domínios da memória.
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