DISCURSO, REPRESENTATIVIDADE E RESISTÊNCIA INDÍGENAS

AILTON KRENAK E RAONI METUKTIRE NO DOCUMENTÁRIO FALAS DA TERRA

Autores

  • Rafaela Cláudia dos Santos UFPB
  • Regina Baracuhy Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.20873/actasemiticaetlingvistica.v31i2.20358

Palavras-chave:

Estudos Discursivos Foucaultianos;, Representatividade Indígena;, Documentário Falas da Terra;, Dispositivo jurídico.

Resumo

Este trabalho objetiva analisar os discursos de Ailton Krenak e do cacique Raoni Metuktire na produção audiovisual Falas da Terra, que permite suspender o véu da invisibilidade das vozes indígenas através de depoimentos de representantes indígenas de todo o Brasil. Esta pesquisa é subsidiada pelo aporte teórico dos Estudos Discursivos Foucaultianos (1988, 2003, 2006, 2009, 2013a, 2013b, 2019). O método utilizado é o arqueogenealógico de Michel Foucault, que permite escavar as condições históricas e sociais que moldam a produção e a circulação desses discursos, entrelaçados na teia do saber-poder e nas práticas de si. Nesta investigação, o conceito de discurso é mobilizado como “um conjunto regular de fatos linguísticos em determinado nível e polêmicos e estratégicos por outro” (FOUCAULT, p. 9, 2013a). O corpus é composto por recortes do documentário Falas da Terra, que problematizam a história da colonização brasileira, para desmistificar narrativas consolidadas na memória social, que geram preconceitos e estereótipos em relação aos povos originários. Este estudo questiona quem são os sujeitos indígenas legitimados a falar na sociedade atual. Os discursos dos líderes indígenas Krenak e Raoni destacam movimentos socio-históricos de resistência indígena, ancorados em relações de poder-saber e em um enfrentamento histórico-político, atravessado por dispositivos jurídicos. Eles percebem que somente através da mobilização de garantias legais é que os grupos indígenas conseguem alguma salvaguarda. Além disso, suas lutas e resistências são cotidianas e permanentes.

Biografia do Autor

Rafaela Cláudia dos Santos, UFPB

Doutoranda pelo Proling/UFPB. Mestre pelo programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem PPCL/UERN. Compõe o corpo técnico da Revista Saridh: Linguagem e discursos do Seridó (FELCS/UFRN). Bacharela em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; Licenciada em Letras Língua Portuguesa e Literatura pela mesma instituição de ensino. Pós-graduação em Docência no Ensino Superior pela UNP. Coordenou à ação vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (2020) "Rede museu histórico para salvaguarda do patrimônio cultural". Esteve à frente da ação de educação patrimonial "Luíza: histórias e memórias indígenas na Serra de Santana" premiada pelo Instituto Brasileiro de Museus, através do Prêmio Darcy Ribeiro (2021). É membro do Grupo de Estudos do Discurso da UERN/GEDUERN. Os seus interesses de pesquisa são: Análise de Discurso, trabalhos voltados para o Ensino de Língua Portuguesa e áreas afins.

Regina Baracuhy, Universidade Federal da Paraíba

Professora doutora Regina Baracuhy é vinculada à Universidade Federal da Paraíba e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da Paraíba. Adota, como aporte teórico-metodológico, os pressupostos da área dos Estudos Discursivos Foucaultianos. Orienta e desenvolve pesquisas que envolvem temáticas relacionadas ao discurso, sujeito, poder, governamentalidade e espaço na mídia digital e cartografias de espaços urbanos. É Membro do GT Estudos Discursivos Foucaultianos da ANPOLL e coordena o Grupo de Pesquisa interinstitucional CIDADI - Círculo de Discussões em Análise do Discurso (UFPB /CNPq).

 E-mail: mrbl@academico.ufpb.br

Referências

ALBUQUERQUE JUNIOR. D. M; VEIGA-NETO, A.; SOUZA FILHO, A. (Orgs.). Cartografias de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. (Coleção Estudos Foucaultianos).

BARACUHY, R. Cartografias da Resistência: as vozes das manifestações de rua. MOARA–Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Letras. ISSN: 0104-0944, v. 1, n. 57, p. 126-142, 2020.

CARNEIRO, S. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

CUNHA, M. C. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

DELEUZE, G. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005.

FISCHER, R. M. B. Trabalhar com Foucault: arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. 8. ed. Tradução de Luiz Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2019.

FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.

FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: FOUCAULT, Michel. Estratégia, poder-saber. Ditos e escritos IV. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 203-222.

FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Tradução de Eduardo Jardim e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Nau, 2013a.

FOUCAULT, M. El pensamiento del afuera. Valencia: Pré-textos, 1988.

FOUCAULT, M. O Sujeito e Poder. In: DREYFUS, H.; & RABINOW, P. Michel Foucault, uma trajetória filosófica para além do estruturalismo e da hermenêutica. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 273-295.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Organização e tradução de Roberto Machado. 4. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2009.

FOUCAULT. M. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e Guilhon Albuquerque. 23 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2013b.

FOUCAULT. M. História da Sexualidade III: cuidado de si. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e Guilhon Albuquerque. 7 ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002.

FOUCAULT, M. Segurança, território e população. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FUNAI. Funai apresenta dados do IBGE sobre aumento de pessoas que se consideram indígenas. Disponível em: https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2022-02/ultimocenso-do-ibge-registrou-quase-900-mil-indigenas-no-pais-dados-serao-atualizados-em-2022. Acesso em: 01 fev. 2023.

KRENAK, A. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MBEMBE, A. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção e política da morte. São Paulo: N-1 edições, 2018.

MARASCIULO, M. Conheça a história do cacique Raoni Metuktire. Revista Galileu. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/11/conheca-historia-do-cacique-raoni-metuktire.html. Acesso em 01 dez. 2023.

MARTINS, M. S. C. Indígenas brasileiros e a microfísica da resistência/resiliência territorial, cultural e linguística. In: BRAGA, Amanda; SÁ, Israel. Por uma microfísica das resistências: Michel Foucault e as lutas antiautoritárias da contemporaneidade. Campinas: Pontes, 2020.

MONIOT, H A história dos povos sem história. In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre (org.). História: novos problemas. Tradução de Theo Santiago. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988. p. 99-112.

MUNDURUKU, D. O caráter educativo do movimento indígena brasileiro (1970-1990). São Paulo: Paulinas, 2012.

NIETZSCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

RODRIGUES, A. D. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 1994.

Downloads

Publicado

2024-11-09

Como Citar

SANTOS, Rafaela Cláudia dos; BARACUHY, Regina. DISCURSO, REPRESENTATIVIDADE E RESISTÊNCIA INDÍGENAS: AILTON KRENAK E RAONI METUKTIRE NO DOCUMENTÁRIO FALAS DA TERRA. ACTA SEMIÓTICA ET LINGVISTICA, [S. l.], v. 31, n. 2, p. 6–28, 2024. DOI: 10.20873/actasemiticaetlingvistica.v31i2.20358. Disponível em: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/actas/article/view/20358. Acesso em: 22 dez. 2024.