A cena enunciativa na nomeação de indígenas
o caso de Davi Kopenawa
Resumo
A história do Brasil é marcada por um contínuo processo de silenciamento da cultura, língua e religião dos povos nativos. Mesmo depois de mais de cinco séculos que separam os fatos decorrentes dos primeiros contatos entre os colonizadores e os indígenas, ainda persiste um sistema impeditivo à livre manifestação cultural de povos indígenas. Uma das formas dessa dominação envolve a escolha de um nome para designar indivíduos em comunidades indígenas, sem que se leve em consideração o modo de operar a nomeação de acordo com a cultura desses povos. O presente artigo se baseia pela análise do processo de nomeação e renomeação de acordo com a biografia de Davi Kopenawa, indígena ativista pelos direitos dos povos amazônicos, tendo como corpus o livro escrito em coautoria com o antropólogo Bruce Albert chamado A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami (2015). Para a análise, serão aplicados a teoria metodológica de Eduardo Guimarães (2018) para estabelecer a cena enunciativa a partir dos atravessamentos semânticos que percorrem as instituições e os enunciadores. A título conclusivo, constatou-se que o silenciamento (cf. ORLANDI, 2008) ainda instituído pelo Estado brasileiro implica na determinação dos lugares do dizer que os indígenas estão inseridos, constituindo-os como enunciatários em uma relação de alteridade com os enunciadores e submetidos à cultura ocidental/dominante.
Palavras-chave: Indígenas; Nomeação; Cena Enunciativa; Silenciamento.
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