FRÁGIL... QUEM?

O CORPO E A MULHERIDADE NA CAPOEIRA

Auteurs-es

Résumé

Este trabalho tem como interesse analisar os discursos de abordagem biomédica como parte da justificativa que restringe o acesso das mulheres às posições de maior autoridade e prestígio na capoeira. Diante do pressuposto de uma corporalidade feminina considerada mais “frágil” em relação aos homens, busco compreender os efeitos desses enunciados para a prática das mulheres, os quais têm implicações sobre os sentidos relativos à habilidade no jogo e à eficácia na luta. Os discursos naturalizados sobre a capoeira exteriorizam uma ambiguidade: se, por um lado, estão os enunciados de uma diferença no desempenho físico entre os sexos biológicos, por outro, um dos princípios aceitos como fundamento desta luta é de que a malícia valeria mais do que a força física. Situo a análise a partir da discussão de sexo e de gênero, e defendo a leitura da capoeira considerando a sua historicidade para entender os seus desdobramentos no tempo e nos espaços. Concluo que a naturalização da perspectiva biológica atua na criação e na manutenção dos estereótipos femininos e das relações de poder, bem como favorece ao cenário em que a capoeira é vinculada a um universo masculino, onde majoritariamente são os homens que ocupam as posições de destaque. Porém, entendo que, para questionar os princípios dessa lógica moderna e ocidental, baseada em uma sociedade patriarcal e machista, é relevante recordar o vínculo da capoeira com a sua herança afro-brasileira e com sua história de luta e resistência.

Biographie de l'auteur-e

Kátia Linhaus de Oliveira, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestra em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (2020). Graduada em Letras - Português pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (2009). Técnica em assuntos educacionais no Instituto Federal Catarinense, com atuação na Pró-Reitoria de Extensão. Membra do grupo de Estudos no Campo Discursivo (UFSC | CNPq), na linha de Subjetividade e Linguagem. Tem como tema de pesquisa os discursos e a subjetivação das mulheres na capoeira. Editora-chefe da revista Extensão Tecnológica do IFC.

Références

ABIB, P. J. O Mestre e sua função. 2011. Disponível em: https://portalcapoeira.com/capoeira/cronicas-da-capoeiragem/o-mestre-e-sua-funcao/. Acesso em: 06 mar. 2022.

ARAÚJO, R.C. Elas gingam. Cias, Kioto, v. 64, n. 1, p. 85-93, mar. 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/2433/228720. Acesso em: 12 set. 2020.

BARBOSA, M. J. S. A Mulher Na Capoeira. Arizona Journal of Hispanic Cultural Studies, vol. 9, p. 9–28, 2005. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/20641741. Acesso em: 26 fev. 2022.

BRASIL. Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ministério do Turismo. Cadastro Nacional da Capoeira. 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/693/. Acesso em: 21 abr. 2021.

BUTLER, J. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: N-1 Edições, 2019. Edição kindle.

CAMÕES, L. de S. Elas jogam, tocam e cantam: práticas e discursos sobre a experiência histórica de mulheres capoeiristas no Pará. 2019. 208 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Pará, Castanhal, 2019. Disponível em: http://200.239.66.58/jspui/bitstream/2011/12518/1/Dissertacao_ElasJogamTocam.pdf. Acesso em: 17 set. 2020.

CASTRO JÚNIOR, L. V. Campos de Visibilidade da Capoeira Baiana: as festas populares, as escolas de capoeira, o cinema e a arte (1955-1985). 2008. 291 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em História Social, Pontífice Universidade Católica de São Paulo, 2008. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/13083. Acesso em: 09 nov. 2018.

FERNANDES, M. G. M. O corpo e a construção das desigualdades de gênero pela ciência. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 1051-1065, dez. 2009. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000400008. Acesso em: 25 abr. 2021.

FERREIRA, T. J. A capoeira sob a ótica de gênero: o papel das mulheres nos grupos de capoeira. 2016. 133 f. Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2016. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/handle/tede/3754. Acesso em: 01 ago. 2020.

FIALHO, P. J. F. Mulheres Incorrigíveis: histórias de valentia, desordem e capoeiragem na Bahia. São Paulo: Dandara, 2021. 234 p.

FIRMINO, Camila Rocha. Capoeiras: gênero e hierarquias em jogo. 2011. 109 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/207. Acesso em: 13 set. 2020.

FORTES, M. de S. R.; MARSON, R. A.; MARTINEZ, E.C. Comparação de desempenho físico entre homens e mulheres: revisão de literatura. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, v. 23, n. 2, p. 54-69, 30 jul. 2015. Semestral. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/revminef/article/view/9964. Acesso em: 04 abr. 2021.

FOUCAULT, M. Não ao sexo rei. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998. p. 229-242 Tradução de: Roberto Machado.

FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. 152 p. Tradução de: Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque.

FRANÇA, A. L. de. O protagonismo da mulher nas produções científicas sobre capoeira como temática. Íbamo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 90-103, nov. 2018. Disponível em: https://mariasfelipas.files.wordpress.com/2020/03/franc387a-c381bia-lima-de.-o-protagonismo-da-mulher-nas-produc387c395es-cientc38dficas-sobre-capoeira-como-temc381tica.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020.

LAQUEUR, T. Inventando o Sexo: corpo e gênero dos gregos a freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 313 p. Tradução de: Vera Whately.

LUBE GUIZARDI, M. “Como si fueran hombres”: los arquetipos masculinos y la presencia femenina en los grupos de capoeira de Madrid. Antropología Experimental, Jaén. n. 11, 2014. Disponível em: https://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/rae/article/view/1931. Acesso em: 6 mar. 2022.

IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Org.). DOSSIÊ IPHAN 12: Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira. Brasília: Iphan, 2014. 148p.

JESUS, D. S. de. Quando mulheres se tornam capoeiristas: um estudo sobre a trajetória e protagonismo de mulheres na capoeira. 2017. 153 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017. Disponível em: https://mariasfelipas.files.wordpress.com/2020/03/jesus-daniela-sacramento-de.-quando-mulheres-se-tornam-capoeiristas.pdf. Acesso em: 01 ago. 2020.

LUGONES, M. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 19 set. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755. Acesso em: 26 fev. 2022.

MIRANDA FILHO, V. F.; MURICY, J. L. S. Mulheres na história da Capoeira: contribuição ao necessário debate sobre mulheres nas lutas sociais. Universidade e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 58, p. 42-47, jun. 2016. Disponível em: https://www.andes.org.br/img/midias/2c32d260df7b737c16011156d437316a_1548264664.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020.

NAVARRO, V. D. N’outras corpas: desconstruções e múltiplas possibilidades corporais na capoeira angola do grupo Nzinga. 2018. 128 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26080. Acesso em: 01 ago. 2020.

OLIVEIRA, K. L. de. Os dispositivos da capoeira: entre o cuidado de si e os discursos do esporte. 2020. 180 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/216543. Acesso em: 06 mar. 2022.

PIRES, A. L. C. S. et al (org.). Capoeira em múltiplos olhares: estudos e pesquisas em jogo. 2. ed. Belo Horizonte: Fino Traço, 2020. 666 p. (Coleção UN).

RODHEN, F. A construção da diferença sexual na medicina. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 201-2013, dez. 2003. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csp/2003.v19suppl2/S201-S212/pt. Acesso em: 19 fev. 2022.

RODRIGUES, C. Butler e a desconstrução do gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 179-183, abr. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/c9SgKfQhGsFfZZqkGqBLqQh/?lang=pt. Acesso em: 19 jan. 2023.

SCHIEBINGER, L. O feminismo mudou a ciência? Bauru: Edusc, 2001. 348 p. Tradução de: Raul Fiker.

SENA, I. T. de. No ventre da capoeira, marcas de gente, jeito de corpo: um estudo das relações de gênero na cosmovisão africana da capoeira angola. 2015. 151 f. Dissertação (Mestrado), Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2016. Disponível em: http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/4041594.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.

SILVA, M. Z. G. da. Movimento capoeira mulher: saberes ancestrais e a práxis feminista no século XXI em Belém do Pará. 2017. 198 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Pará, Cametá, 2017. Disponível em: https://sigaa.ufpa.br/sigaa/verProducao?idProducao=257414&key=d1b8902d88880f911ef2fa5cd4d0540f. Acesso em: 10 set. 2020.

SOUZA, E. G. R. da S. Capoeira: sua história e as relações de gênero. In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH - RIO, XIV, 2010, Rio de Janeiro. Anais [...]. http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1273245402_ARQUIVO_SimposioDoc.pdf. Acesso em: 25 ago. 2020.

ZONZON, C. N. Nas rodas da capoeira e da vida: corpo, experiência e tradição. 2. ed. Salvador: Edufba, 2019. 343 p.

VIEIRA, S. L. de S. Atlas do Esporte no Brasil. Capoeira. 2003. Disponível

Téléchargements

Publié-e

2023-03-28

Comment citer

Linhaus de Oliveira, K. (2023). FRÁGIL. QUEM? O CORPO E A MULHERIDADE NA CAPOEIRA. Porto Das Letras, 9(1), 182–204. Consulté à l’adresse https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/15644