LEITURAS E PRÁTICAS DE UM OBJETO CHAMADO LIVRO
PERSPECTIVAS SEMIÓTICAS
Resumo
O artigo tem como objetivo apresentar contribuições da semiótica para práticas de leitura no contexto escolar, considerando livros como objetos. Para isso, mobiliza proposições trazidas pelas abordagens de Eric Landowski e Jacques Fontanille ao discutirem, de um ponto de vista fenomenológico, a relação sensível e inteligível que envolve a produção de sentido frente aos objetos do mundo natural. Parte do pressuposto de que uma abordagem ainda grafocêntrica insiste em ignorar tanto a dimensão sincrética da enunciação, concentrando-se apenas no texto verbal e na apreensão de uma estrutura narrativa, quanto a compreensão de qualidades de ordem matérica, que fazem com que o livro seja um corpo a interagir com um outro corpo, o do sujeito-leitor. Nessa perspectiva, analisa uma produção da literatura infantil-juvenil, Veludo: história de um ladrão, de autoria de Silvana D’Angelo e Antonio Marinoni, publicado pela editora Zahar, em 2013. A sofisticada composição de um projeto editorial convoca obrigatoriamente o trabalho de leitura desde os elementos pré-textuais, seguindo as pistas que tornam possível observar o trabalho da ilustração e o modo como a temática do roubo vai atravessando o verbal e o visual. A dimensão sensível é ainda convocada pelo personagem, cujo nome evoca o tato, ao mesmo tempo em que suas habilidades especiais o levam a perceber de modo intenso os cheiros particulares de pessoas e objetos, num sôfrego projeto de busca de elementos da memória.
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