FRÁGIL... QUEM?
O CORPO E A MULHERIDADE NA CAPOEIRA
Resumo
Este trabalho tem como interesse analisar os discursos de abordagem biomédica como parte da justificativa que restringe o acesso das mulheres às posições de maior autoridade e prestígio na capoeira. Diante do pressuposto de uma corporalidade feminina considerada mais “frágil” em relação aos homens, busco compreender os efeitos desses enunciados para a prática das mulheres, os quais têm implicações sobre os sentidos relativos à habilidade no jogo e à eficácia na luta. Os discursos naturalizados sobre a capoeira exteriorizam uma ambiguidade: se, por um lado, estão os enunciados de uma diferença no desempenho físico entre os sexos biológicos, por outro, um dos princípios aceitos como fundamento desta luta é de que a malícia valeria mais do que a força física. Situo a análise a partir da discussão de sexo e de gênero, e defendo a leitura da capoeira considerando a sua historicidade para entender os seus desdobramentos no tempo e nos espaços. Concluo que a naturalização da perspectiva biológica atua na criação e na manutenção dos estereótipos femininos e das relações de poder, bem como favorece ao cenário em que a capoeira é vinculada a um universo masculino, onde majoritariamente são os homens que ocupam as posições de destaque. Porém, entendo que, para questionar os princípios dessa lógica moderna e ocidental, baseada em uma sociedade patriarcal e machista, é relevante recordar o vínculo da capoeira com a sua herança afro-brasileira e com sua história de luta e resistência.
Referências
ABIB, P. J. O Mestre e sua função. 2011. Disponível em: https://portalcapoeira.com/capoeira/cronicas-da-capoeiragem/o-mestre-e-sua-funcao/. Acesso em: 06 mar. 2022.
ARAÚJO, R.C. Elas gingam. Cias, Kioto, v. 64, n. 1, p. 85-93, mar. 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/2433/228720. Acesso em: 12 set. 2020.
BARBOSA, M. J. S. A Mulher Na Capoeira. Arizona Journal of Hispanic Cultural Studies, vol. 9, p. 9–28, 2005. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/20641741. Acesso em: 26 fev. 2022.
BRASIL. Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Ministério do Turismo. Cadastro Nacional da Capoeira. 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/693/. Acesso em: 21 abr. 2021.
BUTLER, J. Corpos que importam: os limites discursivos do “sexo”. São Paulo: N-1 Edições, 2019. Edição kindle.
CAMÕES, L. de S. Elas jogam, tocam e cantam: práticas e discursos sobre a experiência histórica de mulheres capoeiristas no Pará. 2019. 208 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Pará, Castanhal, 2019. Disponível em: http://200.239.66.58/jspui/bitstream/2011/12518/1/Dissertacao_ElasJogamTocam.pdf. Acesso em: 17 set. 2020.
CASTRO JÚNIOR, L. V. Campos de Visibilidade da Capoeira Baiana: as festas populares, as escolas de capoeira, o cinema e a arte (1955-1985). 2008. 291 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em História Social, Pontífice Universidade Católica de São Paulo, 2008. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/handle/handle/13083. Acesso em: 09 nov. 2018.
FERNANDES, M. G. M. O corpo e a construção das desigualdades de gênero pela ciência. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p. 1051-1065, dez. 2009. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000400008. Acesso em: 25 abr. 2021.
FERREIRA, T. J. A capoeira sob a ótica de gênero: o papel das mulheres nos grupos de capoeira. 2016. 133 f. Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2016. Disponível em: http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/handle/tede/3754. Acesso em: 01 ago. 2020.
FIALHO, P. J. F. Mulheres Incorrigíveis: histórias de valentia, desordem e capoeiragem na Bahia. São Paulo: Dandara, 2021. 234 p.
FIRMINO, Camila Rocha. Capoeiras: gênero e hierarquias em jogo. 2011. 109 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/207. Acesso em: 13 set. 2020.
FORTES, M. de S. R.; MARSON, R. A.; MARTINEZ, E.C. Comparação de desempenho físico entre homens e mulheres: revisão de literatura. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, v. 23, n. 2, p. 54-69, 30 jul. 2015. Semestral. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/revminef/article/view/9964. Acesso em: 04 abr. 2021.
FOUCAULT, M. Não ao sexo rei. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998. p. 229-242 Tradução de: Roberto Machado.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. 152 p. Tradução de: Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque.
FRANÇA, A. L. de. O protagonismo da mulher nas produções científicas sobre capoeira como temática. Íbamo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 90-103, nov. 2018. Disponível em: https://mariasfelipas.files.wordpress.com/2020/03/franc387a-c381bia-lima-de.-o-protagonismo-da-mulher-nas-produc387c395es-cientc38dficas-sobre-capoeira-como-temc381tica.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020.
LAQUEUR, T. Inventando o Sexo: corpo e gênero dos gregos a freud. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. 313 p. Tradução de: Vera Whately.
LUBE GUIZARDI, M. “Como si fueran hombres”: los arquetipos masculinos y la presencia femenina en los grupos de capoeira de Madrid. Antropología Experimental, Jaén. n. 11, 2014. Disponível em: https://revistaselectronicas.ujaen.es/index.php/rae/article/view/1931. Acesso em: 6 mar. 2022.
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Org.). DOSSIÊ IPHAN 12: Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira. Brasília: Iphan, 2014. 148p.
JESUS, D. S. de. Quando mulheres se tornam capoeiristas: um estudo sobre a trajetória e protagonismo de mulheres na capoeira. 2017. 153 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017. Disponível em: https://mariasfelipas.files.wordpress.com/2020/03/jesus-daniela-sacramento-de.-quando-mulheres-se-tornam-capoeiristas.pdf. Acesso em: 01 ago. 2020.
LUGONES, M. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 19 set. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/36755. Acesso em: 26 fev. 2022.
MIRANDA FILHO, V. F.; MURICY, J. L. S. Mulheres na história da Capoeira: contribuição ao necessário debate sobre mulheres nas lutas sociais. Universidade e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 58, p. 42-47, jun. 2016. Disponível em: https://www.andes.org.br/img/midias/2c32d260df7b737c16011156d437316a_1548264664.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020.
NAVARRO, V. D. N’outras corpas: desconstruções e múltiplas possibilidades corporais na capoeira angola do grupo Nzinga. 2018. 128 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2018. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26080. Acesso em: 01 ago. 2020.
OLIVEIRA, K. L. de. Os dispositivos da capoeira: entre o cuidado de si e os discursos do esporte. 2020. 180 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/216543. Acesso em: 06 mar. 2022.
PIRES, A. L. C. S. et al (org.). Capoeira em múltiplos olhares: estudos e pesquisas em jogo. 2. ed. Belo Horizonte: Fino Traço, 2020. 666 p. (Coleção UN).
RODHEN, F. A construção da diferença sexual na medicina. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 201-2013, dez. 2003. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csp/2003.v19suppl2/S201-S212/pt. Acesso em: 19 fev. 2022.
RODRIGUES, C. Butler e a desconstrução do gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 179-183, abr. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/c9SgKfQhGsFfZZqkGqBLqQh/?lang=pt. Acesso em: 19 jan. 2023.
SCHIEBINGER, L. O feminismo mudou a ciência? Bauru: Edusc, 2001. 348 p. Tradução de: Raul Fiker.
SENA, I. T. de. No ventre da capoeira, marcas de gente, jeito de corpo: um estudo das relações de gênero na cosmovisão africana da capoeira angola. 2015. 151 f. Dissertação (Mestrado), Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2016. Disponível em: http://cev.org.br/arquivo/biblioteca/4041594.pdf. Acesso em: 15 set. 2020.
SILVA, M. Z. G. da. Movimento capoeira mulher: saberes ancestrais e a práxis feminista no século XXI em Belém do Pará. 2017. 198 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Pará, Cametá, 2017. Disponível em: https://sigaa.ufpa.br/sigaa/verProducao?idProducao=257414&key=d1b8902d88880f911ef2fa5cd4d0540f. Acesso em: 10 set. 2020.
SOUZA, E. G. R. da S. Capoeira: sua história e as relações de gênero. In: ENCONTRO REGIONAL DA ANPUH - RIO, XIV, 2010, Rio de Janeiro. Anais [...]. http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1273245402_ARQUIVO_SimposioDoc.pdf. Acesso em: 25 ago. 2020.
ZONZON, C. N. Nas rodas da capoeira e da vida: corpo, experiência e tradição. 2. ed. Salvador: Edufba, 2019. 343 p.
VIEIRA, S. L. de S. Atlas do Esporte no Brasil. Capoeira. 2003. Disponível
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os autores concordam com os termos da Declaração de Direito Autoral, que se aplicará a esta submissão caso seja publicada nesta revista (comentários ao editor podem ser incluídos a seguir).