O Discurso da dor feminina invisível
um estudo de caso sobre Evelyn Scott no Exílio Brasileiro, em Escapada
Resumen
Este artigo analisa o discurso da dor da mulher a partir da autobiografia Escapada, de Evelyn Scott, escrita durante sua experiência de exílio auto imposto, no Brasil, entre 1914 e 1919. A análise destaca a influência de gênero nas interações estabelecidas entre a mulher, na posição de parturiente, e a equipe de profissionais de saúde envolvidos, que inclui também uma mulher. Ao vivenciar a dor, Evelyn Scott experimenta uma inusitada relação entre mente e corpo. Ela atribui, durante as dores agudas do parto, um valor positivo a esta emoção e, posteriormente, quando sofre de dor crônica, a escritora parece depender da dor provocada pelo corpo, para dar vida à mente. Especificamente, investigamos a relação entre dor e gênero quando o discurso se configura como única evidência disponível para legitimação da dor da mulher. Discursivamente, a deslegitimação da dor de Evelyn Scott pelos profissionais de saúde é acompanhada pelo sentimento de invisibilidade de sua identidade e de objetificação do seu corpo. Embora fatores como classe social e raça influenciem esse processo de legitimação da dor, observamos a proeminência das questões de gênero, inclusive por parte da única mulher da equipe médica, que revela o desejo de punição ao comportamento de Scott, interpretado como histérico.
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