O lago, o monstro, a ditadura

O olhar da criança em Clarice, de Roger Mello

Abstract

Resumo: A voz de crianças que testemunharam a opressão e a violência do regime ditatorial brasileiro de 1964 ganha expressão em Clarice (2018), de Roger Mello e Felipe Cavalcante. Ambientada em Brasília, a narrativa juvenil desnuda os discursos oficiais sobre os processos modernizantes da construção da cidade, os quais encontram eco na permanência do autoritarismo no período da ditadura. Por meio de uma narrativa elíptica, a jovem narradora protagonista  apresenta um olhar desautomatizado, centrado no pormenor, para os mecanismos de controle e perseguição do regime. Em vista disso, o objetivo deste trabalho é analisar como a perspectiva da criança, uma dentre tantas outras vozes relegadas pela história oficial, põe em xeque as visões dicotômicas e apaziguantes sobre a ditadura e contribui para questionar as memórias forjadas pelo regime. Para isso, serão convocados os estudos de Eurídice Figueiredo (2017), Tânia Sarmento Pantoja (2018), Paulo César Gomes (2019), Maria Caterina Pincherle (2021), entre outros.