AS ESCRITAS, O GÊNERO E A DISTRIBUIÇÃO DA AGÊNCIA NO DISPOSITIVO BANHEIRO PÚBLICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

Autor/innen

Abstract

Este artigo parte da arqueogenealogia foucaultiana e dos debates que relacionam gênero e neomaterialismo para analisar as escritas dos banheiros da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tendo um vista a produção dos escritos como parte da produção de um masculino e de um feminino no interior do que chamamos de dispositivo banheiro público.  O corpus é formado por 74 imagens, tiradas em junho de 2022 e em janeiro de 2023, de banheiros localizados na Biblioteca Universitária e do Centro de Comunicação e Expressão, ambos da UFSC. Notou-se que as escritas de banheiro são parte de uma ecologia discursiva na qual estão em associação agentes humanos – como sujeitos gendrados e racializados – e agentes não-humanos, como a arquitetura e até mesmo os fluidos corporais encontrados na pesquisa. Nossas análises ainda mostram que há uma produção diferencial nos banheiros masculinos e femininos, que diz respeito sobretudo às estratégias e a visibilização da sexualidade e da política. Por fim, pudemos concluir, em relação à literatura clássica do Brasil, que há uma permanência de certas práticas discursivas gendradas, de modo geral, ainda que se possa notar alguns deslocamentos não irrelevantes.

Autor/innen-Biografien

João Rio dos Santos, UFSC

Bolsista de Iniciação Cient´ífica da UFSC. Graduando da quinta fase do curso de Letras-Português.

Bárbara Grapes Flores, UFSC

Pesquisadora de IC e graduanda da quinta fase do curso de Letras-Português da UFSC.

Literaturhinweise

ALVES; L.; ALVES, A.; PEREIRA, A. M. Analisando o gênero grafito: do privado para o público. In: SEMINÁRIO ESTUDANTIL DE PESQUISA EM LETRAS, 2011. Salvador. Anais online... Salvador: UFBA, 2011. Sessão de Comunicações. Resumo. Disponível em: http://www.sepesq2011.ufba.br Acesso em: 21 dez. 2012.

ALMEIDA, V. S. Bixa também pixa: a pixação gay nos banheiros masculinos como uma contestação do espaço heteronormativo. Periódicus, n. 10. v. 1, p.343-372, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/25282. Acesso em: 10 jan. 2023.

ASSIS, D. Banheiro ‘multigênero’ de fast food no interior de SP repercute na web. Portal G1, 12 nov. 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2021/11/12/criticas-de-vereadores-a-banheiro-multigenero-de-fast-food-repercutem-em-rede-social-vai-que-vira-moda.ghtml. Acesso em: 21 dez. 2012.

BARAD, K. Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. Trad. Thereza Rocha. Vazantes. v.1, n.1, 2017.

BARBOSA, G. Grafitos de banheiro: a literatura proibida. São Paulo: Anima, 1986.

BENNETT, J. Vibrant Matter - A Political Ecology of Things. Londres: Duke University Press, 2010.

BIROLLI, F.; VAGGIONE. R. M.; MACHADO, M. D. C. Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina. 20. ed. São Paulo, Boitempo Editorial, 2020.

BONFANTE, G. M.; MARINO, F. U. Do dejeto ao desejo: arquitetura de banheiros como dispositivo de controle da sexualidade. Interfaces Científicas - Educação, [S.L.], v. 8, n. 2, p. 117-131, 23 abr. 2020. Universidade Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-3828.2020v8n2p117-131.

BORDIN, D. J. Inscrições de si: da porta de banheiro ao chat. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciência da Linguagem) – UNISUL, Palhoça, 2005

BOURCIER, S. Homo Inc.orporated: o triângulo e o unicórnio que peida. Trad. Márcia Bechara. São Paulo: n-1, 2020.

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

CRENSHAW, K. Documento para o encontro deespecialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, p. 171-188, jan. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11636.pdf. Acesso em: 12 dez. 2020.

COLLING, L. Gênero e sexualidade na atualidade. Brasil: Superintendência de Educação a Distância, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/30887. Acesso em: 18 jul. 2022.

COWAN, B. A. ‘Nosso terreno’: crise moral, política evangélica e formação da “nova direita” brasileira. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 30, n. 52, p.101-125, 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752014000100006&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 30 set. 2019.

DAMIÃO, N. F.; TEIXEIRA, R. P. Grafitos de banheiro e diferenças de gênero: o que os banheiros têm a dizer? Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 61, n. 2, 2009.

DELEUZE, G. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005 [1986].

DREYFUS, H, L.; RABINOW, P. 1983. Michel Foucault: beyond structuralism and hermeneutics. 2nd. Chicago: The University of Chicago Press.

DUNDES, A. Here I sit: a study of american latrinalia. Kroeber Antropological Society Papers, n. 34, p. 91-105, 1966.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 8.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012 [1969].

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade - curso no Collège de France, 1975-1976. Trad. Maria Ermantina Galvão. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FOUCAULT, M. Sobre a história da sexualidade. In: FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. 27. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2009a. p. 243-27

GREEN, J. N.; POLITO, R. Frescos trópicos: fontes sobre a homossexualidade masculina no Brasil (1870-1980). Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.

HALBERSTAM, J. Trans: uma guia rápida y peculiar de la variabilidade de género. Barceloma, Madrid: Egales, 2017.

HALPERIN, D. M.; TRAUB, V. Beyond gay pride. HALPERIN, D. M.; TRAUB, V. (ed.). Gay Shame. Chicago: Univ. of Chicago Press, 2006.

HUMPREYS, L. Tearoom trade: impersonal sex in public places. Whashington, 1970.

LATOUR, B. Políticas da natureza: como fazer ciência na democracia. Trad. Carlos Aurélio Mota de Souza, Bauru: EDUSC, 2004.

LEMKE, T. Rethinking biopolitcs: The new materialism and the politicas economy of life. In: WILME, S. E.; ŽUKAUSKAITĖ, A. (ed.). Resisting biopolitics: philosophical, political, and performative strategies. Londres: Routledge, 2016. p.57-73.

MISKOLCI, R. Estranhos no paraíso: notas sobre os usos de aplicativos de busca de parceiros sexuais em San Francisco. Cadernos Pagu, Campinas, n. 47, ago. 2016.

PAVEAU, M.-A. L’analyse du discours numerique: dictionnaire des formes et des pratiques. Paris : Hermann Éditeurs, 2017.

PRECIADO, P.B. Lixo e gênero, mijar/cagar, masculino/feminino. eRevista Performatus, Inhumas, ano 7, n. 20, abr. 2019.

SHABABAR, A. E. Queer Bathroom Graffiti Matters: Agential Realism and Affective Temporalities. Rhizomes: Cultural Studies in Emerging Knowledge

Issue 30, 2016. Disponível em: https://www.semanticscholar.org/paper/Queer-Bathroom-Graffiti-Matters%3A-Agential-Realism-Shabbar/bd29a2af3e8705875b61553b3d6be33ac5a31bd2. Acesso em: 10 nov. 2021.

TEIXEIRA, R.; OTTA, E. Grafitos de banheiro: um estudo de diferenças de

gênero. Estudos de Psicologia, v. 3, n. 2, p. 229-250, 1998.

TREVISAN, J. S. Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade. 6.ed. revista e ampliada. São Paulo: Record, 2010.

UFSC. UFSC se mobiliza para repudiar e enfrentar atos de racismo. 10 out. 2022. Disponível em: https://noticias.ufsc.br/2022/10/ufsc-se-mobiliza-para-repudiar-e-enfrentar-atos-de-racismo. Acesso em: 20 dez. 2022.

VILELA, G. J. Um estudo sobre representações de sexualidade e atitudes sexuais de adolescentes de uma escola pública: análise-descritiva de grafitos em carteiras escolares. 2017. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Sexual) – UNESP, Araraquara, 2017.

TEXTOS DOS AUTORES. 2022, 2023.

Veröffentlicht

2023-03-28

Zitationsvorschlag

Butturi Júnior, A., dos Santos, J. R., & Flores, B. G. (2023). AS ESCRITAS, O GÊNERO E A DISTRIBUIÇÃO DA AGÊNCIA NO DISPOSITIVO BANHEIRO PÚBLICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Porto Das Letras, 9(1), 414–437. Abgerufen von https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/15763

Am häufigsten gelesenen Artikel dieser/dieses Autor/in