Classificando os Compostos da Libras

Autores

  • Aline Garcia Rodero-Takahira Universidade Federal de Juiz de Fora
  • Ana Paula Scher Univesidade de São Paulo

Resumo

Resumo: Composição é um fenômeno muito produtivo e é um dos poucos fenômenos que caracterizam a morfologia sequencial em várias línguas de sinais (MEIR et al, 2010). Alguns autores defendem a existência de compostos simultâneos nas línguas de sinais (BRENNAN, 1990; SUTTON- SPENCE; WOLL, 1999; GÖKSEL, 2014), normalmente envolvendo a realização simultânea de dois sinais, que são dois classificadores (CL). Na libras (língua brasileira de sinais), há estudos que tratam de compostos realizados sequencialmente com dois ou três sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004; FELIPE, 2006; FIGUEIREDO-SILVA; SELL, 2009) e a ocorrência de CLs em compostos, bem como a realização de compostos simultâneos passam a ser tratadas em Rodero-Takahira (2015). Se as línguas de sinais apresentam dois articuladores primários, as mãos, bem como a realização de sinais não-manuais lexicais (RODERO-TAKAHIRA, 2015; XAVIER, 2019) é natural pensarmos na possibilidade da ocorrência de sinais simultâneos. O objetivo deste trabalho é descrever os tipos de compostos que ocorrem na libras e investigar a ocorrência de CLs e sinais não manuais lexicais formando compostos simultâneos. Através do conjunto de dados levantado em narrativas eliciadas por figuras, categorizamos os compostos da libras em três grandes grupos de compostos: i) sequenciais; ii) simultâneos e iii) simultâneo-sequenciais. Observamos que todos os compostos simultâneos apresentam um predicado CL sinalizado simultaneamente com mais um sinal CL, ou apresentam um sinal não-manual lexical realizado pela boca, o que possibilita a simultaneidade com um sinal manual. A descrição detalhada desses dados compostos leva a um maior conhecimento de aspectos morfológicos da libras.

Resumo: Composição é um fenômeno muito produtivo e é um dos poucos fenômenos que caracterizam a morfologia sequencial em várias línguas de sinais (MEIR et al, 2010). Alguns autores defendem a existência de compostos simultâneos nas línguas de sinais (BRENNAN, 1990; SUTTON- SPENCE; WOLL, 1999; GÖKSEL, 2014), normalmente envolvendo a realização simultânea de dois sinais, que são dois classificadores (CL). Na libras (língua brasileira de sinais), há estudos que tratam de compostos realizados sequencialmente com dois ou três sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004; FELIPE, 2006; FIGUEIREDO-SILVA; SELL, 2009) e a ocorrência de CLs em compostos, bem como a realização de compostos simultâneos passam a ser tratadas em Rodero-Takahira (2015). Se as línguas de sinais apresentam dois articuladores primários, as mãos, bem como a realização de sinais não-manuais lexicais (RODERO-TAKAHIRA, 2015; XAVIER, 2019) é natural pensarmos na possibilidade da ocorrência de sinais simultâneos. O objetivo deste trabalho é descrever os tipos de compostos que ocorrem na libras e investigar a ocorrência de CLs e sinais não manuais lexicais formando compostos simultâneos. Através do conjunto de dados levantado em narrativas eliciadas por figuras, categorizamos os compostos da libras em três grandes grupos de compostos: i) sequenciais; ii) simultâneos e iii) simultâneo-sequenciais. Observamos que todos os compostos simultâneos apresentam um predicado CL sinalizado simultaneamente com mais um sinal CL, ou apresentam um sinal não-manual lexical realizado pela boca, o que possibilita a simultaneidade com um sinal manual. A descrição detalhada desses dados compostos leva a um maior conhecimento de aspectos morfológicos da libras.

Biografia do Autor

Aline Garcia Rodero-Takahira, Universidade Federal de Juiz de Fora

Professora Adjunto 2 do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Federal de Juiz de Fora. Atua em seu Programa de Pós-Graduação em Linguística, coordena o Programa de Acessibilidade Linguística para Surdos (AliS) e lidera, no CNPq, o Grupo de Estudos Linguísticos da Libras (GELLI). E-mail: rodero.takahira@ufjf.edu.br.

Ana Paula Scher, Univesidade de São Paulo

Professora Livre-docente do Departamento de Linguística da Universidade de São Paulo. Atua em seu Programa de Pós-Graduação em Linguística e coordena o Grupo de Estudos em Morfologia Distribuída (GREMD). É bolsista de Produtividade em Pesquisa, nível 2, do CNPq, processo n° 303461/2017-9, e lidera, nessa mesma agência, o Grupo de Pesquisas Morfologia Distribuída: novos olhares. E-mail: anascher@usp.br.

Referências

BELLUGI, U.; NEWKIRK, D. Formal Devices for Creating New Signs in American Sign Language. Sign Language Studies, v. 30, Spring 1981, p. 1-35.
BICKFORD, J. A.; FRAYCHINEAUD, K. Mouth morphemes in ASL: A closer look. In: QUADROS, R. M. de. (Ed.). Sign Languages: spinning and unraveling the past, present and future. TISLR9, forty five papers and three posters from the 9th. Theoretical Issues in Sign Language Research Conference. Florianópolis, Brasil, Dezembro, 2006. Editora Arara Azul. Petrópolis/RJ. Brazil, 2008, p. 32-47.
BOYES BRAEM, P.; SUTTON-SPENCE, R. (Eds.). The Hands are the Head of the Mouth. The Mouth as Articulator in Sign Languages. Hamburg, Signum Press, 2001.
BRENNAN, M. The Visual World of BSL: An Introduction. In: BRIEN, D. (Ed.). Dictionary of British Sign Language/English. London: Faber & Faber, 1992, p. 2-133.
. Word-Formation in British Sign Language. Stockholm: Stockholm University Press, 1990.
CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira – Libras. v. I e II. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Imprensa Oficial do Estado, 2001.
CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; MAURÍCIO, A. L. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira – Libras. v. I e II. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Imprensa Oficial do Estado, 2012.
DEMARTINO, J. M. Animação facial sincronizada com a fala: visemas dependentes do contexto fonético para o português do Brasil. 2005. Tese (Doutorado em Engenharia de Computação) – Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, Universidade de Campinas, São Paulo, 2005. Disponível em: http://www.dca.fee.unicamp.br/~martino/DeMartino,JoseM_D.pdf. Acesso em: 2014- 04-06.
FARIA- NASCIMENTO, S. P. A organização dos morfemas livres e presos em LSB: reflexões preliminares. QUADROS, R.; STUMPF, M.; LEITE, T. (Ogrs.). Estudos da língua Brasileira de Sinais I. Florianópolis: Editora Insular, 2013.
FELIPE, T. A. Os processos de formação de palavras na LIBRAS. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v. 7, n. 2, p. 200-217, jun. 2006.
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1995, 273 p.
FIGUEIREDO SILVA, M. C.; SELL, F. F. S. Algumas notas sobre os compostos em português brasileiro e em LIBRAS. Comunicação apresentada na Universidade de São Paulo. São Paulo: 2009. Disponibilizado, na forma de artigo, através do link: http://linguistica.fflch.usp.br/sites/linguistica.fflch.usp.br/files/FIGUEIREDOSILVA-SELL.pdf. Acesso em: 30/06/2015.
GÖKSEL, A. Compounding. Curso ministrado durante o evento Venice Summer School. Organized by the European Cooperation in Science and Technology. Università Ca' Foscari Venezia, 2014.
JOHNSTON, T.; SCHEMBRI, A. On defining lexeme in a signed language. Sign Language and Linguistics, 2(2), p. 115-185. 1999.
KLIMA, E. S.; BELLUGI, U. The Signs of Language. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1979.
LIDDELL, S. K. THINK and BELIEVE: sequentiality in American Sign Language. Language, v. 60, n. 2, p. 372-399, 1984.
LIDDELL, S. K.; JOHNSON, R. American Sign Language compound formation processes, lexicalization, and phonological remnants. Natural Language and Linguistic Theory, v. 4, n. 8, p. 445-513, 1986.
LOOS, C. Word formation in American sign language: Investigating headedness in ASL compounds. 2009.
MAURÍCIO, A. C. L. Morfemas metafóricos na LIBRAS: análise da estrutura morfêmica de 1577 sinais em 34 morfemas moleculares e 14 classes de morfemas molares. Tese (Doutorado em Psicologia). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009.
MCCLEARY, L. E.; VIOTTI, E. de C.; LEITE, T. Descrição das línguas sinalizadas: a questão da transcrição dos dados. Alfa, São Paulo, 54, (1), 2010, p. 265-289.
MEIR, I. Word classes and word formation. In: PFAU, R.; STEINBACH, M.; WOLL, B. Sign Language: an internacional handbook. De Gruyter Mouton, 2012, p.77-112.
MEIR, I.; ARONOFF, M.; SANDLER, W.; PADDEN, C. Sign language and compounding. In SCALISE, Sergio; VOGEL, I. (Eds.). Cross-disciplinary issues in compounding. John Benjamins, 2010, p. 301-322.
PÊGO, C. F. Sinais não-manuais gramaticais da LSB nos traços morfológicos e lexicais: um estudo do morfema-boca. 2013. 88f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
RODERO-TAKAHIRA, A. G. Questões sobre compostos e morfologia da LIBRAS. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 41, n. 1, 2010, p. 262-276.
SUPALLA, T. 1986. The Classifier System in American Sign Language. In: CRAIG, C. (Ed.). Noun Classes and Categorization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, p.181-214.
. Structure and acquisition of verbs of motion and location in American Sign Language. Ph.D. dissertation. University of California. San Diego, 1982.
SUTTON-SPENCE, R.; WOLL, B. The linguistics of British Sign Language: An Introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
XAVIER, A. N. Análise preliminar de expressões não-manuais lexicais na libras. Revista Intercâmbio, v. XL:41-66, 2019. São Paulo: LAEL/PUCSP. ISNN 2237-759X.
ZESHAN, U. Classificatory constructions in Indo-Pakistani sign language: Grammaticalization and lexicaliztation processes. In: EMMOREY, K. Perspectives on classifier constructions in sign languages. Mahwah: Lawrence Erlbaum Associates, 2003b. Cap. 6. p. 113-141.

Downloads

Publicado

2021-01-22

Como Citar

Rodero-Takahira, A. G. ., & Scher, A. P. . (2021). Classificando os Compostos da Libras. Porto Das Letras, 6(6), 152–180. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/11439

Edição

Seção

Descrição e Análise Linguística da Língua Brasileira de Sinais