A soberania será algum dia desconstruída?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20873/rpv9n1-00

Palavras-chave:

Biopolítica, Biológico e simbólico, Plasticidade, Epigenética

Resumo

Em uma entrevista de 1977, Michel Foucault argumenta que é necessário criar uma filosofia política desvinculada do conceito de soberania, já que “cortar a cabeça do rei” é impossível na teoria política. Democracias ocidentais ainda estão conectadas a esse modelo político e jurídico. Não há soberania sem um soberano. Surge, assim, a necessidade de desconstruir a soberania na filosofia contemporânea. Catherine Malabou afirma que filósofos como Foucault, Derrida e Agamben fracassaram nesse objetivo, pois ao tentar definir o que resiste à soberania, acabam permitindo sua continuidade. Malabou volta-se justamente na biopolítica, conceito introduzido por Foucault e reformulado por Agamben e Derrida, caracterizado como um poder centrado no controle da vida. Para desconstruir a biopolítica, é necessário um ponto de intersecção entre biologia e história, no qual se encontrem o sujeito político e ser vivo. No entanto, para Foucault, Agamben e Derrida, a biologia está sempre ligada à soberania, apresentada como ciência que transgride seus limites para controlar a vida. O argumento de Malabou aponta para o fato de que qualquer resistência biológica ao biopoder é impossível, pois a determinação biológica da vida deve ser transgredida. Ela propõe a existência de dois conceitos de vida: a vida biológica e a vida simbólica, com a última revelando o potencial de resistência. Para a autora, novas categorias biológicas, como a epigenética, podem ajudar a encontrar um novo materialismo. A epigenética, segundo ela, resiste à redução política da biologia a mero veículo de poder, revelando a intrincada relação entre o biológico e o simbólico, sem transgressão do biológico. A plasticidade dialética da diferença, em vez da indiferença simbólica, seria a forma mais eficiente de desconstruir a soberania, destacando o alcance revolucionário dos mecanismos biológicos, especialmente a epigênese.

 

Referências

AGAMBEN, G. Homo sacer. O poder soberano e a vida nua I. Trad. H. Burigo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.

BENNETT, J. Vibrant Matter. A Political Ecology of Things. Durham e Londres: Duke University Press, 2010.

CHÂTELET, F. História da Filosofia: Ideias e Doutrinas, volume 8, O Século XX. São Paulo: Zahar Editora, 1973.

DELEUZE, G. “Em que se pode Reconhecer o Estruturalismo?”. In: CHÂTELET, F. História da Filosofia. Ideias e doutrinas. Volume 8. O Século XX. São Paulo: Zahar Editora, 1973.

DERRIDA, J. A Besta e o Soberano – Vol.1 – Seminário (2002-2002). Trad. F. Bernardo. Coimbra: Pali-mage, 2024.

DERRIDA, J. Acts of Religion Jacques Derrida. Ed, G. ANIDJAR. New York and London: Routledge, 2002.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: A vontade de saber. Trad. de M. T. da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

FOUCAULT, M. Microfisica del potere. Interventi politici. Ed, A. Fontata e P. Pasquino. Torino: Giulio Enaudi Editori, 1977.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Trad. M. E. Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005

JABLONKA, E. e J. LAMB, M. Evolução em quatro dimensões: DNA, comportamento e a história da vida. Trad. C. Ângelo. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

JENUWEIN, T. “Epigenetics”. 2006. .

KANTOROWICZ, E. H. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. Trad. C. Knipel Moreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

LÉVI-STRAUSS, C. “Introdução à obra de Marcel Mauss”. In: MAUSS, M. Sociologia e antropologia. Trad., P. Neves, São Paulo: Cosac Naify, 2003, p. 11-46.

MAUSS, M. Sociologia e antropologia. Trad. P. Neves São Paulo: Cosac Naify, 2003.

SANTNER, E. The Royal Remains: The People’s Two Bodies and the Endgames of Sovereignty. Chicago: Uni-versity of Chicago Press, 2011

WADDINGTON, C. H. The epigenotype. Endeavour. Vol. 1. 1942.

Downloads

Publicado

2024-07-18 — Atualizado em 2024-07-21

Versões

Como Citar

Malabou, C. (2024). A soberania será algum dia desconstruída? . Perspectivas, 9(1), 13–27. https://doi.org/10.20873/rpv9n1-00 (Original work published 18º de julho de 2024)

Edição

Seção

Homenagem a Catherinne Malabou