Análise crítica do filme O valor de um homem, de Stéphane Brizé

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Resumo

Este trabalho apresenta uma análise do filme O valor de um homem, do diretor Stéphane Brizé, 2015. A obra cinematográfica desenvolve-se em um contexto da nova materialidade do capital, circunscrito na redução de trabalhadores estáveis e formais, cujo pano de fundo é a dominação capitalista na sua fase financeira global, em que a rentabilização da empresa é mais importante que o próprio sujeito que trabalha. Assim, num primeiro momento, são apontadas as andanças de Thierry, o protagonista do filme, desempregado, aos 51 anos e com uma família para cuidar, à procura de um emprego. Thierry, mesmo na condição de desempregado, busca agir eticamente e confia que, por meio de formação, de estágios e de participação em entrevistas, o emprego virá. Nesta trajetória, as dificuldades se acumulam e a devastação do SER ser humano se revela nas filas de empregos, nos convidando a pensar na deriva que vivem os trabalhadores desempregados. Na segunda parte do filme, o foco se volta para o emprego de vigilante em uma loja de departamento que Thierry conseguiu. Aqui, o dilema moral do personagem é o centro da narrativa. Com as tarefas de vigiar clientes e funcionários da loja, Thierry o tempo todo aparece em uma “salinha”, acompanhado por outro funcionário, realizando interrogatórios sobre possíveis “roubos” de objetos da loja. Em sua moral-ética, Thierry está sempre constrangido, mas a sobrevivência o conduz a se submeter às práticas de gestão que visam garantir a “lei  do mercado”, qual seja, o lucro exacerbado das corporações capitalistas na era da sociedade do consumo e civilização do capital.

 

 

Biografia do Autor

Leda Gonçalves Freitas, UCB

Professora do Programa de Pós Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília. Pós-doutorado em Psicossociologia (CNAM), Doutora em Psicologia Social e do Trabalho, Mestre em Educação. Atua nas linhas de pesquisa "Cultura contemporânea e relações humanas" e  "Desenvolvimento humano em contextos educacionais". Pesquisas na área de trabalho e mobilização subjetiva, escuta qualificada do sofrimento no trabalho, processos de ensinar e aprender e diversidades e direitos humanos

Ricardo Mariz, UMBRASIL

Doutor em Sociologia, Mestre em Educação e Pedagogo. Coordenador da Área de Missão e Gestão da UMBRASIL. Membro do Grupo de Pesquisa Diálogos em Sociologia Clínica da Universidade de Brasília. Idealizador do Canal Esquina do Pensamento e Conselheiro do Movimento de Educação de Base da CNBB. Atuou na docência e gestão da Educação Básica, foi Pró-reitor de Graduação, Pró-reitor de Extensão e Reitor "pro-tempore" da Universidade Católica de Brasília. Foi membro da Comissão de Justiça e Paz de Brasília e vice-presidente do Fórum Nacional de Pró-reitores de graduação do Brasil.

Paulo Cesar Chagas, UDF

Professor de graduação no Centro Universitário UDF, doutor em Psicologia, mestre em Ciências Contábeis. Pesquisas na área de: Trabalho; Risco Operacional; e Sofrimento no Trabalho.

Referências

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Publicado

2018-06-12

Como Citar

Freitas, L. G., Mariz, R., & Chagas, P. C. (2018). Análise crítica do filme O valor de um homem, de Stéphane Brizé. Trabalho (En)Cena, 3(2), 136–143. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/encena/article/view/4972

Edição

Seção

Resenha (de livro ou filme)