Análise crítica do filme O valor de um homem, de Stéphane Brizé
Resumo
Este trabalho apresenta uma análise do filme O valor de um homem, do diretor Stéphane Brizé, 2015. A obra cinematográfica desenvolve-se em um contexto da nova materialidade do capital, circunscrito na redução de trabalhadores estáveis e formais, cujo pano de fundo é a dominação capitalista na sua fase financeira global, em que a rentabilização da empresa é mais importante que o próprio sujeito que trabalha. Assim, num primeiro momento, são apontadas as andanças de Thierry, o protagonista do filme, desempregado, aos 51 anos e com uma família para cuidar, à procura de um emprego. Thierry, mesmo na condição de desempregado, busca agir eticamente e confia que, por meio de formação, de estágios e de participação em entrevistas, o emprego virá. Nesta trajetória, as dificuldades se acumulam e a devastação do SER ser humano se revela nas filas de empregos, nos convidando a pensar na deriva que vivem os trabalhadores desempregados. Na segunda parte do filme, o foco se volta para o emprego de vigilante em uma loja de departamento que Thierry conseguiu. Aqui, o dilema moral do personagem é o centro da narrativa. Com as tarefas de vigiar clientes e funcionários da loja, Thierry o tempo todo aparece em uma “salinha”, acompanhado por outro funcionário, realizando interrogatórios sobre possíveis “roubos” de objetos da loja. Em sua moral-ética, Thierry está sempre constrangido, mas a sobrevivência o conduz a se submeter às práticas de gestão que visam garantir a “lei do mercado”, qual seja, o lucro exacerbado das corporações capitalistas na era da sociedade do consumo e civilização do capital.
Referências
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