Dossiê: Gênero, Interseccionalidades e Tecnologias em práticas extensionistas
Dossiê: Gênero, Interseccionalidades e Tecnologias em práticas extensionistas
Organização:
Bruna Andrade Irineu (Serviço Social/UFMT)
Tamires Coêlho (Jornalismo/UFMT)
Prazo de Submissão: Até o dia 25/03/2023
Ementa: Os Estudos Feministas se consolidaram como campo acadêmico interdisciplinar e plural cuja preocupação se localiza nas desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais produzidas por uma lógica cisheterossexista que se articula mutuamente com o racismo, a LGBTQIAP+fobia, o etnocentrismo e o capacitismo em uma produção de hierarquias corponormativas. A produção acadêmica dos feminismos brasileiros vem se construindo com lastro em uma concepção de ciência engajada com a transformação social e implicada com as lutas sociais, se afastando de perspectivas positivistas em que a produção de conhecimento científico era notadamente branca, masculina e cisheteropatriarcal, e reforçavam um racismo/machismo epistêmico fortemente colonial (GROSFOGUEL, 2016; SILVA; MORAES, 2019). Para além da produção no âmbito de uma ressignificação do que é pesquisa e de quem pode pesquisar, a potência dos feminismos brasileiros converge com a própria concepção das práticas e processos extensionistas, que devem se desenhar de acordo com o que a realidade exige, formando estudantes conectados às necessidades do mundo (FREIRE, 1983) qualificando docentes e compartilhando saberes junto à sociedade (FORPROEX, 2012). Nesse sentido, como mostram Fernandes e Irineu (2014), a extensão universitária vem sendo o lócus privilegiado para o debate de gênero, raça e sexualidade, já que os currículos oficiais das licenciaturas e bacharelados ainda expressam uma incipiência ou ausência de conteúdos relacionados a esses temas, e a descolonização dos currículos atravessa processos de descolonização da vida, da universidade e da sociedade (PINHEIRO; ROSA, 2022). Portanto, a extensão, materializando a educação como prática da liberdade (hooks, 2017), torna-se um potente espaço para capilarizar os debates de gênero e interseccionalidades junto ao corpo discente, através de grupos de estudos, cursos, seminários, produções artísticas, agências experimentais, observatórios etc., e com a possibilidade de envolvimento da comunidade não acadêmica, atendendo a necessidades sociais e vislumbrando possibilidades para políticas públicas (FORPROEX, 2012) em uma sociedade ainda preconceituosa e cujos direitos são pouco acessíveis aos grupos não hegemônicos. A pandemia de covid-19, iniciada no ano de 2020, reconfigurou as práticas de ensino, pesquisa e extensão nas universidades. Experiências de ensino remoto emergencial tornaram-se a única possibilidade pedagógica para a maioria da comunidade acadêmica e o tripé ensino-pesquisa-extensão se articulou a inúmeras ações com o uso da tecnologia em sua produção e desenvolvimento. Na extensão universitária pode-se observar o crescimento de projetos e programas que fizeram uso das redes sociais como ferramenta central de suas atividades. Ainda que a inserção de tecnologias na educação superior não seja um tema recente e que haja um vasto referencial produzido abordando as possibilidades e os limites de seu uso nas universidades brasileiras, especialmente em instituições de ensino público (ALMEIDA, 2003; SILVA; BEHAR, 2019; BEHAR, 2009), o ensino remoto emergencial não se deu com planejamento e estrutura suficientes para uma educação mediada por tecnologia com qualidade, mesmo preservando concepções distintas com a Educação à Distância (EaD). O próprio desenvolvimento do tripé ensino-pesquisa-extensão, foi também marcado por assimetrias e aprofundamento de vulnerabilidades. As marcas das desigualdades sociais no acesso a computadores, internet, softwares e smartphones se contrastam com a agitação das grandes corporações que acumularam números exitosos no mercado financeiro. As imposições do mercado, não obstante se refletem no espaço acadêmico. Como exemplo, cabe citar o recente direcionamento restritivo de fomento a pesquisas envolvendo a produção de tecnologias, por parte de agências nacionais de fomento à ciência, o que tem exigido um reposicionamento das Ciências Humanas e Sociais em seu fazer intelectual, no sentido de assumir trabalhos realizados há décadas sob a nomenclatura da produção de tecnologia social. Considerando a ampliação do uso das tecnologias nas práticas extensionistas e tendo gênero e interseccionalidades (GONZALEZ, 2011; BUENO, 2020; BIROLI; MIGUEL, 2015; COLLINS, BILGE, 2021) como lente imprescindível, o objetivo deste dossiê é reconhecer e visibilizar ações de extensão universitária comprometidas com o combate a desigualdades de gênero, assim como divulgar artigos científicos, resultados de estudos e relatos de experiência acerca de iniciativas extensionistas que dialoguem com os Estudos Feministas, Interseccionais, Queer, Decoloniais/Descoloniais/Anticoloniais, Black Studies, Transfeminismos e Desability Studies, assim como outras reflexões sobre vulnerabilidades que envolvam diversidade de gêneros e sexualidades no contexto de processos extensionistas e/ou que se comprometam ativamente contra correntes científicas masculinistas cisheterocentradas, na contracorrente do “processo colonizador da epistemologia moderno-positivista-masculinista-racista” (SILVA; MORAES, 2019). Serão bem-vindas contribuições que abordem a importância, assim como os problemas e desafios envolvendo o uso de TICS na extensão universitária, especialmente sobre projetos envolvendo produção de conteúdos para redes sociais, realização de materiais audiovisuais, elaboração de toolkits, mapas, guias entre outros. Também nos interessa conhecer os processos de reconfiguração das dinâmicas em programas de assessoria a movimentos sociais e/ou serviços sociais a partir da necessidade do uso das TICS nessas práticas extensionistas. A proposta se centra na experiência brasileira, mas também acolheremos textos que relatem contextos latino-americanos e caribenhos.
Referências da ementa:
ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e pesquisa, v. 29, n. 02, p. 327-340, 2003.
BEHAR, P. A. Modelos pedagógicos em educação a distância. Porto Alegre: Artmed Editora, 2009.
BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe. Gênero, raça, classe: opressões cruzadas e convergências na reprodução das desigualdades. Mediações, v. 20, n. 2, pp. 27-55, 2015.
BUENO, Winnie. Imagens de controle: um conceito do pensamento de Patricia Hill Collins. Porto Alegre: Editora Zouk, 2020.
COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. O que é interseccionalidade? In.: COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo Editorial, 2021. p. 15-50.
FERNANDES, F. B. M.; IRINEU, B. A. Extensão Universitária em Gênero e Sexualidades. Revista Feminismos, [S. l.], v. 3, n. 1, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/30090. Acesso em: 30 jan. 2023.
FORPROEX - FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS; FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. Política nacional de extensão universitária. Manaus: Forproex, 2012.
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. In: Caderno de formação política do Círculo Palmarino, n.01 Batalha de Ideias. 2011.
GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 25-49, 2016.
hooks, b. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2017.
MORAES, F.; SILVA; M. V. A objetividade jornalística tem raça e tem gênero: a subjetividade como estratégia descolonizadora. In: Encontro Anual da Compós, 18., Porto Alegre, 2019. Anais eletrônicos [...] Porto Alegre: COMPÓS –Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, 2019a. Disponível em: <https://proceedings.science/compos-2019/papers/a-objetividade-jornalistica-tem-raca-e-tem-genero--a-subjetividade-como-estrategia-descolonizadora>. Acesso em: 30 jan. 2023.
PINHEIRO, B. C. S.; ROSA, K. (Orgs). Descolonizando saberes: a lei 10.639/2003 no ensino de ciências. v.2. São Paulo: Livraria da Física, 2022.
SILVA, K. K. A.; BEHAR, P. A. Alunos da EaD on-line do Brasil e competências digitais. Revista EDaPECI, v. 19, n. 2, p. 21-39, 2019.
Cronograma
Envio dos artigos ou relatos de experiência para a revista deverá ser feito no Open Journal Systems da Revista Capim Dourado, e na sequência deverá ser
comunicado a submissão via e-mail para: bruna.irineu@ufmt.br e tamires.coelho@ufmt.br
Publicação do Dossiê: A partir do dia 02/05/2023
Revista Capim Dourado: diálogos em Extensão, da Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários (PROEX) da Universidade Federal do Tocantins (UFT) obteve na Quadrienal 2017-2022 da CAPES o conceito Qualis A4.
Diretrizes para Autores
Encaminhamos as diretrizes para padronizar os textos, que se encontram no site da revista: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/capimdourado/about/submissions
1. Os artigos e relatos de experiência devem ser originais e inéditos e abordar o tripé EXTENSÃO-ENSINO-PESQUISA.
2. Sugerimos também a inclusão do número ORCID (https://orcid.org/) dos autores, que permitirá ingressar num banco de dados globais de pesquisadores.
3. Os trabalhos podem ser redigidos em português, inglês, espanhol, sendo publicadas suas versões originais.
4. Os textos devem ser entregues em formato Word (preferencialmente .doc ou .docx), com até 5 MB com margens superior e inferior de 2,5 cm e margens esquerda e direita de 3 cm, na fonte Arial para corpo do texto e Arial Black para os Títulos e Subtítulos, corpo 12, espaçamento entre linhas 1,5.
5. Os textos devem ser submetidos à revista e devem estar em pleno acordo com as normas de submissão.
6. Fontes em caixa alta deverão se restringir ao uso de siglas e às referências bibliográficas; destaques em negrito podem ser utilizados apenas no título e intertítulos do trabalho; notas de rodapé devem estar em corpo 10 e se restringir a comentários estritamente necessários ao desenvolvimento da exposição, e não para citações bibliográficas.
7. As imagens utilizadas devem conter o crédito completo (autor e fonte) e os autores devem se responsabilizar pela permissão para reprodução das imagens, respeitando os direitos autorais nacionais e internacionais (Lei 9.610 e Convenção de Berna da Organização Mundial da Propriedade Intelectual). Abaixo de cada imagem, no corpo do trabalho, deve constar sua respectiva legenda e crédito, precedidos pela palavra "Figura", a numeração seriada e dois pontos. Ex.: Figura 2: Comunidade Pedro Bó, em Imperatriz, Maranhão. Créditos (cedido por): João da Silva. 08 ago. 2017. A utilização de tabelas deve seguir a mesma formatação (NBR 6021).
8. Os trabalhos devem ser apresentados de acordo com a seguinte estrutura, conforme a norma ABNT (NBR 6022):
- Título (em português), em caixa alta e baixa, seguido das versões do título em inglês e em espanhol/francês (ou português, quando o artigo for em outro idioma).
- Resumo de 5 a 10 linhas, contendo de 3 a 5 palavras-chaves, seguido das versões em inglês e espanhol do resumo e palavras-chave.
- Os artigos e relatos de experiência deve ter no mínimo 11 páginas e no máximo 15 páginas.