v. 1 n. 2 (2021): Indígenas, camponeses e quilombolas: caminhos para os (des)encontros com novas e outras narrativas
Neste número pretendemos discutir questões epistemológicas e dar vozes às narrativas a grupos que apenas há pouco tempo vem sendo abordados como sujeitos históricos. Ao menos até a década de 1970, historiadores tenderam a analisar as relações do pós-contato colonial como o encontro no qual os colonizadores teriam imposto sua cultura, organização social aos “dominados”, sobretudo aos povos originários e aos negros escravizados, que tentavam manter, sem sucesso, o seu modo de viver. Portanto, era a história do choque entre mundos opostos, no qual seria enviesada a crônica da destruição, de submissão à “razão civilizatória”. Por muito tempo estas disciplinas ignoraram a participação dos diversos atores na construção desse processo.
Desse modo, parecia-lhe ainda muito arraigada na historiografia brasileira a afirmação, de meados do século XIX, de que os índios, quilombolas e camponeses não tinham História. Contudo, a partir da década de 1980 houve uma reorientação de pressupostos teóricos e metodológicos relacionados à própria luta dos movimentos sociais no Brasil. Tal reorientação provocou reconfigurações decisivas na pesquisa histórica, principalmente com o surgimento de novos problemas e de novas possibilidades de novos arquivos e documentos. Com essas novas abordagens acerca do protagonismo dos “esquecidos da história”, enquanto sujeitos históricos, as temáticas sobre índios, escravizados e escravidão, quilombolas, comunidades camponesas, mulheres, pobres, dentre outras, vem deixando o lugar marginal que ocuparam na historiografia brasileira.
Nesse sentido, a presente proposta temática desse número da Revista Antígona almeja ser um espaço para publicação de artigos que fomentem o debate sobre perspectivas conceituais, metodológicas e dialógicas que colaborem na compreensão do papel dessas comunidades na História do Brasil, em geral, e na Amazônia, em particular.