Negociando Letramentos: entre o português indígenas e o português acadêmico

Autores

Resumo

O fortalecimento do movimento indígena a partir da década de 70 gerou intensos debates sobre o direito e o papel da educação indígena. Um dos desdobramentos da discussão é o crescente número de estudantes indígenas nas Instituições de Ensino Superior, como na Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA). No presente trabalho, vamos discutir os desafios de construir um processo de ensino sensível às realidade de dois estudantes Ava Guarani na UNILA. Partindo de uma perspectiva microetnográfica, nos apoiamos na observação e análise das interações ao longo das aulas de português como língua adicional e dos encontros de monitoria com os estudantes Ava Guarani, para refletir sobre as tensões entre, de um lado, o português acadêmico e as práticas de leitura e escrita da universidade e, de outro, os usos e as variedades indígenas da língua portuguesa trazidos por esse dois estudantes. Nos centramos com especial foco nos processos de apoio às atividades de leitura e produção oral em língua portuguesa. Concluímos que houve um processo de negociação de letramentos que levou em consideração aspectos da cultura interacional dos estudantes Ava Guarani, especialmente no que se refere à gestão dos turnos de fala, como os silêncios interturno, e ao volume de voz empregado.

Referências

BRASIL, MEC/ Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília, 1998.

CAVALCANTI, Marilda Couto. Interação guarani/não-guarani: Etnocentrismo naturalizado na questão do silêncio inter-turnos. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 18, 1991.

CHAMORRO, Graciela. Língua, identidade e universidade: pistas para uma experiência intercultural a partir do conceito guarani de palavra. Tellus, p. 37-49, 2007.

GARCEZ, Pedro de Moraes; BULLA, Gabriela Da Silva; LODER, Leticia Ludwig. Práticas de pesquisa microetnográfica: geração, segmentação e transcrição de dados audiovisuais como procedimentos analíticos plenos. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 30, n. 2, p. 257-288, 2014.

GORETE NETO, Maria. Português-indígena versus português-acadêmico: tensões, desafios e possibilidades para as licenciaturas indígenas. Anais do SIELP, Uberlândia: EDUFU, v. 2, nº 1, p.1-11, 2012.

LUCIANO, Gersem J. S. Lei das Cotas e os povos indígenas: mais um desafio para a diversidade. Cadernos de Pensamento Crítico Latino-Americano 34, p.18-21, 2013.

MAHER, Terezinha de Jesus Machado. O ensino de língua portuguesa nas escolas indígenas. Em Aberto, Brasília, ano 14, n.63, p. 69-77, jul./set. 1994.

MAHER, Terezinha de Jesus Machado. Cultura internacional e ensino de línguas. Revista do Instituto de Letras vol 17 n.1 e 2, p. 168-179, dez, 1998.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. Cortez Editora, 2000.

MARCUSCHI, Luís Antônio. Letramento e oralidade no contexto das práticas sociais e eventos comunicativos. SIGNORINI, Inês (Org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias de letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 23-50.

MENDES, Jackeline Rodrigues. Aspectos da construção das práticas de numeramento-letramento na formação de professores indígenas. In: CAVALCANTI, Marilda C.; BORTONI-RICARDI, Stella-Maris. Transculturalidade, linguagem e educação. Mercado das Letras: São Paulo, 2007.

MONTE, Nietta Lindenberg. Entre o silêncio em língua portuguesa e a página branca da escrita indígena. Em Aberto. Brasília, ano 14, n.63, p.54-68, jul./set, 1994.

NORRIS, John M. Task-based Teaching and Testing. In: LONG, M. H.; DOUGHTY, C. J. (Orgs.). The handbook of language teaching. Chichester: Wiley-Blackwell, p. 577-594, 2011.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. O ensino pragmático da leitura. Coisas que todo professor de português precisa saber: a teoria na prática. São Paulo: Parábola Editorial, p. 59-108, 2010.

ROMÃO, J. E. Avaliação dialógica: desafios e perspectivas. 9ed. Editora Cortez: São Paulo, [1998] 2011.

SAVILLE-TROIKE, Muriel. The ethnography of communication: An introduction. 3a ed. Blackwell Publishing Ltd, 2003.

SOUZA, Lynn Mario T. Menezes de. Para uma ecologia da escrita indígena: a escrita multimodal kaxinawá. In: SIGNORINI, Inês (Org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias de letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 167-192.

TFOUNI, Leda Verdiani. A dispersão e a deriva na construção da autoria e suas implicações para uma teoria de letramento. In: SIGNORINI, Inês (Org.) Investigando a relação oral/escrito e as teorias de letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001. p. 77-96.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA - UNILA. Projeto de Desenvolvimento Institucional 2013-2017. UNILA: Foz do Iguaçu, 2013a. Disponível em: <http://www.unila.edu.br/sites/default/files/files/PDI%20UNILA%202013-2017.pdf> Acesso em: 05 fev. 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA - UNILA. EDITAL N° 02/2018/PRAE/PROGRAD/PROINT/REITORIA-UNILA DE 25 DE JULHO DE 2018. Unila, Foz do Iguaçu, 2018. Disponível em: <https://documentos.unila.edu.br/system/tdf/arquivos/editais/02_-_edital_ndeg_02_-_2018_-_prae-prograd-proint_-_estabelece_e_regulamenta_o_processo_de_selecao_para_indigenas_para_2019.pdf?file=1&type=node&id=2461>. Acesso em: 24 jan. 2020

VIEIRA-ROCHA, Eliane-Terezinha. Metodología adoptada para la construcción del proyecto universitario de la UNILA. Revista iberoamericana de educación superior, v. 2, n. 5, p. 25-51, 2011.

Downloads

Publicado

2022-07-21

Como Citar

Peres da Costa, J. P., & Ferreira, L. M. L. (2022). Negociando Letramentos: entre o português indígenas e o português acadêmico. Porto Das Letras, 8(3), 102–120. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/sistemas.uft.edu.br.periodicos.index.php.portodasletras.article.