Negociando Letramentos: entre o português indígenas e o português acadêmico

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DOI:

https://doi.org/10.20873/223ctm-jcf

Resumo

O fortalecimento do movimento indígena a partir da década de 70 gerou intensos debates sobre o direito e o papel da educação indígena. Um dos desdobramentos da discussão é o crescente número de estudantes indígenas nas Instituições de Ensino Superior, como na Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA). No presente trabalho, vamos discutir os desafios de construir um processo de ensino sensível às realidade de dois estudantes Ava Guarani na UNILA. Partindo de uma perspectiva microetnográfica, nos apoiamos na observação e análise das interações ao longo das aulas de português como língua adicional e dos encontros de monitoria com os estudantes Ava Guarani, para refletir sobre as tensões entre, de um lado, o português acadêmico e as práticas de leitura e escrita da universidade e, de outro, os usos e as variedades indígenas da língua portuguesa trazidos por esse dois estudantes. Nos centramos com especial foco nos processos de apoio às atividades de leitura e produção oral em língua portuguesa. Concluímos que houve um processo de negociação de letramentos que levou em consideração aspectos da cultura interacional dos estudantes Ava Guarani, especialmente no que se refere à gestão dos turnos de fala, como os silêncios interturno, e ao volume de voz empregado.

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Publicado

2022-07-21

Como Citar

Peres da Costa, J. P., & Ferreira, L. M. L. (2022). Negociando Letramentos: entre o português indígenas e o português acadêmico. Porto Das Letras, 8(3), 102–120. https://doi.org/10.20873/223ctm-jcf