O NASCIMENTO E A MORTE DO MUNDO

O RÉQUIEM TRÁGICO DE DOIS IRMÃOS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20873.24201

Resumo

Conforme o espírito indisciplinado defendido por Eneida Maria de Souza (2014) para a Literatura Comparada, propomos uma leitura especulativo-filosófica de Dois Irmãos (HATOUM, 2023), cuja forma lírica buscamos apreender através do formalmente estratégico lugar ocupado por Nael, o narrador. Estabelecendo diálogo com importantes trabalhos dedicados ao romance, como os de Vidal Filho (2018) e Holanda (2020), circunscrevemos a especificidade de nossa leitura pela indagação acerca da esclerose do Mundo, expressão com que buscamos capturar a forma trágica de Dois Irmãos. Desenvolvendo tal intuição hermenêutica, desdobramos a figura do que chamamos a estrutura fenomenológica originária, pela qual Mundo e consciência reciprocamente se constituem, alçadas no terceiro nível da linguagem. Nael, o narrador testemunho da tragédia familiar, é por nós visto como a consciência capaz de salvar as unilaterais memórias por ele colhidas pelo cultivo da palavra poética, em que ao Mundo é reconhecida sua infinitude pela linguagem. Por fim, estabelecemos diálogo com a meditação heideggeriana em Die Sprache (2018), para melhor entender como se enlaçam os três elementos, Mundo, consciência e linguagem, na constituição formal lírico-trágica do romance de Milton Hatoum.

Referências

ASSIS, M. Dom Casmurro. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2016.

ARISTÓTELES. De arte poética. In: Operum omnium volumen primum. Porto Alegre: Instituto Hugo de São Víctor, 2016.

HEIDEGGER, M. (1927/2006) Sein und Zeit. Tübingen: Walter de Grutyer.

HEIDEGGER, M. Unterwegs zur Sprache. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 2018.

HEIDEGGER, M. Der Ursprung des Kunstwerks. In: HEIDEGGER, Martin, Holzwege. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 2003.

HOLANDA, L. Milton Hatoum: um norte novo na literatura contemporânea. In: CESAR MAIA, E. Realidade Inominada: ensaios e aproximações. Recife: CEPE Editorial, 2019.

JAEGGER, W. Paideia: a formação do homem grego. Tradução de Arthur M. Parreira. São Paulo: WMF Martins, 2013.

MELLO, R. Uma casa de ossos e palavras: Nael e a arquitetura de uma metáfora em Dois irmãos, de Milton Hatoum. In: Ícone. Volume 19, n.2, p. 129-144, dez 2019.

MARQUES, Â.; MARQUES, A C. Um rosto para Domingas: hospitalidade e reconhecimento na criação narrativa de uma identidade feminina em Dois Irmãos, de Milton Hatoum. In: IPOTESI, v.21, n.1, p.46-63, jan/jun-2017.

NOGUEIRA-PRETTI, (2020). Dois Irmãos, de Milton Hatoum: versões de homem cordial. In: Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, Vol. 21, p. 163-87, Dez 2018.

Sartre, J-P. L’être et le néant: essai d’ontologie phénoménologique. Paris: Gallimard, 1976.

SANTOS, K. A representação histórica em Dois Irmãos, de Milton Hatoum. In: Revista de Letras,Vol. 16, N. 18, p. 1-13, 2014.

SOUZA, E. Literatura Comparada/Indisciplina. In: Em tese, Belo Horizonte, Vol. 20, N. 3, p.119-126, set-dez 2014.

VIDAL FILHO, E. Nael, herdeiro testamentário: a terceira margem da gemelidade em Dois irmãos, de Milton Hatoum. In: Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea, Vol. 21, p. 2-39, 2018.

Downloads

Publicado

2024-11-20

Como Citar

Loureiro Pereira da Mota Ramos, G. (2024). O NASCIMENTO E A MORTE DO MUNDO: O RÉQUIEM TRÁGICO DE DOIS IRMÃOS . Porto Das Letras, 10(2), 17–41. https://doi.org/10.20873.24201