O CAVALO DE TURIM
UMA LEITURA SEMIÓTICA DO CINEMA EM BASES BAKHTINIANAS
Resumo
Em seus estudos, o filósofo Mikhail Bakhtin (2010; 2011; 2014; 2021) toma, como princípio, um humano diante de outro humano em relação. Para esse filósofo, é na/com a linguagem que enunciamos nossa palavra impregnada de valor, respondendo, reagindo em ato responsável à reação de outrem. Bakhtin (2014) também afirma a inter-relação entre arte e vida. Para ele, todo conteúdo da obra de arte é ético, cognitivo e axiologicamente afirmado pelo autor através do material e da forma. Ao penetrarmos em uma obra, nós a contemplamos esteticamente e podemos acessá-la, senti-la e realizá-la em cotejo com as plurilinguagens e múltiplas vozes presentes no mundo. Conquanto o campo das leituras discursivas seja um campo em expansão, consideramos que ainda carece de estudos mais sistematizados sobre leituras de textos não verbais, como o cinema, por exemplo. Neste artigo, narramos um episódio de leitura realizado no Grupo de Estudos e Pesquisas Bakhtinianas ATOS-UFF, tomando como material textual o filme O cavalo de Turim, sob a direção de Béla Tarr e Ágnes Hranitzky (2011). Nosso objetivo é afirmar a possibilidade de leitura semiótica de um filme produzido sob a ótica do ‘cinema de poesia’ (PASOLINI, 1995), tomando como base a filosofia bakhtiniana. Para tanto, buscamos compreender o processo de criação do autor a partir dos princípios do ‘autor contemplador’ (BAKHTIN, 2014), que, em ‘compreensão respondente’ (BAKHTIN, 2011), em cotejo com outros textos, responde ao filme com o olhar da vida, neste caso, a vida da pesquisa nas escolas.
Referências
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