A Precarização Social do Trabalho e o Assédio Moral no Serviço Público Brasileiro: Como Fica a Saúde dos(as) Trabalhadores(as)?
DOI:
https://doi.org/10.20873/2526-1487e024027Palavras-chave:
Trabalho Precário, Violência no Trabalho, Serviço Público Essencial, Saúde do TrabalhadorResumo
Este artigo tem como objetivo discorrer sobre como a precarização social do trabalho
(PST) torna o ambiente ou modelo organizacional fértil para que emerjam situações de
assédio moral (AM) em diferentes grupos de trabalhadores(as) no serviço público brasileiro,
com implicações danosas para a saúde. Para tanto, são utilizadas análises de conceitos
teóricos e dados qualitativos de pesquisas que indicam como estes fenômenos se articulam e
se manifestam. Como resultado, evidencia-se estar a PST associada a práticas organizacionais
de AM, tais como pressão para a produtividade, cumprimento de metas inatingíveis e controle
ou monitoramento no ambiente de trabalho. As consequências do AM para os indivíduos se
apresentam em relatos que apontam medo por falha ou punição por não atingir metas,
desmotivação ou perda de sentido do trabalho, faltas, afastamentos e até aposentadorias por
invalidez. As pesquisas destacam que as implicações do AM não se limitam aos alvos, mas
também ocorrem para testemunhas, família e sociedade. O desvelamento dessas práticas deixa
argumentos potentes para a necessidade da construção de relações de trabalho pautadas no
respeito, onde prevaleçam o reconhecimento da importância de trabalhadores(as) de
segmentos públicos, a tolerância zero ao AM e um inegociável compromisso com sua saúde.
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