A Precarização Social do Trabalho e o Assédio Moral no Serviço Público Brasileiro: Como Fica a Saúde dos(as) Trabalhadores(as)?

Autores

  • Janine Kieling Monteiro UNISINOS
  • Adriana Machado Pooli Universidade do Vale do Rio dos Sinos
  • Elisete Soares Traesel Universidade Federal de Santa Maria
  • Andréia Garcia dos Santos Universidade Federal de Santa Maria
  • José Roberto Montes Heloani Universidade Estadual de Campinas
  • Flavia Traldi de Lima Universidade Presbiteriana Mackenzie

DOI:

https://doi.org/10.20873/2526-1487e024027

Palavras-chave:

Trabalho Precário, Violência no Trabalho, Serviço Público Essencial, Saúde do Trabalhador

Resumo

Este artigo tem como objetivo discorrer sobre como a precarização social do trabalho
(PST) torna o ambiente ou modelo organizacional fértil para que emerjam situações de
assédio moral (AM) em diferentes grupos de trabalhadores(as) no serviço público brasileiro,
com implicações danosas para a saúde. Para tanto, são utilizadas análises de conceitos
teóricos e dados qualitativos de pesquisas que indicam como estes fenômenos se articulam e
se manifestam. Como resultado, evidencia-se estar a PST associada a práticas organizacionais
de AM, tais como pressão para a produtividade, cumprimento de metas inatingíveis e controle
ou monitoramento no ambiente de trabalho. As consequências do AM para os indivíduos se
apresentam em relatos que apontam medo por falha ou punição por não atingir metas,
desmotivação ou perda de sentido do trabalho, faltas, afastamentos e até aposentadorias por
invalidez. As pesquisas destacam que as implicações do AM não se limitam aos alvos, mas
também ocorrem para testemunhas, família e sociedade. O desvelamento dessas práticas deixa
argumentos potentes para a necessidade da construção de relações de trabalho pautadas no
respeito, onde prevaleçam o reconhecimento da importância de trabalhadores(as) de
segmentos públicos, a tolerância zero ao AM e um inegociável compromisso com sua saúde.

Biografia do Autor

Janine Kieling Monteiro, UNISINOS

Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Escola de Saúde, Programa de Pós-Graduação em Psicologia minibiografia

Referências

Aguiar, A.L.S (2015). O assédio moral e a precarização das relações de trabalho. [tese de doutorado]. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Universidade Federal da Bahia. Salvador, BA, Brasil. https://repositorio.ufba.br/handle/ri/19001

Amazarray, M. R. (2010). Violência psicológica e assédio moral no trabalho enquanto expressões de estratégias de gestão. [Tese de Doutorado]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.

Antunes, R. (2013). A nova morfologia do trabalho e suas principais tendências. In R. Antunes (Org.), Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II (pp.13-29). Boitempo.

Antunes, R. (2001). Trabalho e precarização numa ordem neoliberal. In G. Frigotto & P. Gentili. (Orgs.), A cidadania negada: políticas de exclusão na educação e no trabalho (1a ed, pp. 37-50). Cortez.

Antunes, B. M., Carlotto, M. S., & Strey, M. N. (2012). Mulher e Trabalho: visibilizando o tecido e a trama que engendram o assédio moral. Psicologia em Revista, 18(3), 420-445. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682012000300006&lng=pt&tlng=pt.

Baldacci, C., Alfano, V., Fraccaroli, F. (2009). Relationships between mobbing at work and MMPI-2 personality profile, posttraumatic stress symptoms, and suicidal ideation and behavior. Violence and Victims, (24)1, 52-67. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19297885

Bardin, L. (1994). Análise de conteúdo. Edições 70.

Barreto, M., Heloani, R. (2014). O assédio moral como instrumento de gerencialismo. In: Merlo, Á. R. C., Bottega, C. G., Perez, K. V. Atenção à saúde mental do trabalhador: sofrimentos e transtornos psíquicos relacionados ao trabalho (pp.52-74). Evangraf.

Cervera, G., Haro, G., Martinez-Raga, J., Bolinches, F., De Vicente, P., Valderrama, J. C. (2001). Los transtornos relacionados con el uso de sustancias desde la perspectiva de la psicopatologia y las neurociencias. Transtornos Adictivos, 3(7), 164-171. http://www.elsevier.es/es-revista-trastornos-adictivos-182-articulo-los-trastornos-relacionados-con-el-13018531

Costa, L. S., & Santos, M. (2013). Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho: Lições Aprendidas e Novos Caminhos. International Journal on Working Conditions, 1(5), 39-58.

Costa, S.G.; Pooli, A; Colomby, R. & Monteiro, J. (2021). O Diabo Veste Prada: requintes de Assédio Moral no setor público. XLV Encontro da ANPAD - EnANPAD 2021, 2177-2576 versão online.

Dardot, P., & Laval, C. (2016). A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Boitempo.

Dejours, C. (2011). Addendum. In LANCMAN, S.; SZNELWAR, L. I. (Orgs.). Christophe Dejours: Da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho. Paralelo 15

Druck, G. (2000). Velhos e novos trabalhadores Informais: o trabalho nas Ruas em Salvador-BA. CRH/UFBA.

Druck, G. (2013). A precarização social do trabalho no Brasil. In R, Antunes (Org.), Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil II. (pp.55-73). Boitempo.

Eurich, J. C & Souza, S.R (2023). Intervenções Antiassédio Moral na América Latina: uma Revisão Sistemática da Literatura. Revista Psicologia: Organizações & Trabalho (rPOT), 23(1), 2004-2414. https://doi.org/10.5935/rpot/2023.1.23620Abstrac

Freitas, M.E.D. (2007). Quem paga a conta do assédio moral no trabalho? Revista de Administração de Empresas, 6(1), 1-7. https://doi.org/10.1590/S1676-56482007000100011

Gaulejac, V. D. (2007). Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. Ideias e Letras.

Gillen, P.A., Sinclair, M., Kernohan,W.G., Begley, C.M., Luyben, A.G. (2017). Interventions for prevention of bullying in the workplace. Cochrane Database Syst Rev., 1(1), CD009778. https://doi.org/10.1002/14651858.CD009778.pub2

Gosdal, T. C., Soboll, L. A., Schatzmam, M., & Eberle, A. D. (2009). Assédio moral organizacional: Esclarecimentos conceituais e repercussões. In L. A. P. Soboll & T. C. Gosdal (Orgs.) Assédio moral interpessoal e organizacional: Um enfoque interdisciplinar (pp. 33- 41). LTr

Hansen, AM, Hogh, A., Garde, AH e Persson, SR (2014). Workplace bullying and sleep difficulties: a 2-year follow-up study. Int Arch Occup Environ Health, 87 (3), 285–294. https://doi.org/10.1007/s00420-013-0860-2 87

Harasemiuc, V. A., Díaz Bernal, J. R. (2013). Evidencia científica de la relación entre acoso laboral y depresión. Medicina y Seguridad del Trabajo, 232(59), 361-371. https://dx.doi.org/10.4321/S0465-546X2013000300006

Heloani, R. (2007). Assédio moral: um ensaio sobre a expropriação da dignidade no trabalho. RAE eletrônica, 3 (1), 1-8.

Heloani, R. (2005). Assédio moral: a dignidade violada. Aletheia, (22), 101-107.

Heloani, R. (2021) Gestão ou Humilhação? Uma reflexão contemporânea sobre o assédio no trabalho. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15. Região, 59, 23-36.

Heloani, R.; Barreto, M. (2018). Assédio moral: gestão por humilhação. Juruá.

Hirigoyen, M. F. (2001/2011). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Bertrand Brasil.

Hogh, A., Hansen, A. M., Mikkelsen, E. G., Persson, R. (2012). Exposure to negative acts at work, psychological stress reactions and physiological stress response. Journal of Psychosomatic Research, 1(73), 47-52. https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2012.04.004

Jacoby, A. R., & Monteiro, J. K. (2014). Mobbing of Working Students. Paidéia, 24(57), 39-47. https://dx.doi.org/10.1590/1982-43272457201406

Lalluka, T., Haukka, J., Partonen, T., Rahkonen, O., Lahelma, E. (2012). Workplace bullying and subsequente psychotropic medication: a cohort study with register linkages. BMJ Open, 6(2). http://dx.doi.org/10.1136/bmjopen-2012-001660

Lima, F. T. de, Del Bianco, G. S., & Gemma, S. F. B. (2023). VIVÊNCIAS INTERSUBJETIVAS DE SOFRIMENTO NO TRABALHO DE MULHERES NO SETOR AUTOMOBILÍSTICO: ANÁLISE À LUZ DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO. Trabalho (En)Cena, 8(Contínuo), e023011. https://doi.org/10.20873/2526-1487e023011

Mattos, C. A. C., Peinado, A. C. R., Rodrigues, A. P., & de Oliveira, S. T. S. (2010). O assédio moral no serviço público estadual: uma investigação no Estado do Pará. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 6(3). https://doi.org/10.54399/rbgdr.v6i3.293

Monteiro, J., Ferreira, J., Heloani, J., Traesel, E., Marcos, C., & Abreo, L. (2019). Contribuições da psicodinâmica e clínica do trabalho ao enfrentamento do assédio moral no trabalho. In: J.K. Monteiro et al. (Orgs.). Trabalho que adoece: resistências teóricas e práticas (pp. 79-116). Editora Fi.

Nielsen, M. B., Matthiesen, S. B., Einarsen, S. (2008). Sense of coherence as a protective mechanism among targets of workplace bullying. Journal of Occupational Health Psychology, 2(13),128-136. https://doi.org/10.1037/1076-8998.13.2.128

Netto. J. P. (1993). Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. Cortez.

Nunes, T. S., Tolfo, S. da R., Nunes, L. S. (2013). Assédio moral em universidade: a violência identificada por servidores docentes e técnico-administrativos. Organizações em Contexto, 9(18), 25-6. https://doi.org/10.15603/1982-8756/roc.v9n18p25-61

Organização Internacional do Trabalho. (2009). Perfil do trabalho decente no Brasil. Brasília.

Organização Mundial de Saúde [OMS]. (2004). Sensibilizando sobre el acoso psicológico en el trabajo. Serie proteción de la salud de los trabajadores, 4. http://www.who.int/occupational_health/publications/harassment/es/

Paula, C. F. N., Motta, A.C.G.D., & Nascimento, R. P. (2021). O assédio moral nas organizações: as consequências dessa prática para a sociedade. Serviço Social & Sociedade, 142, 467-487. https://doi.org/10.1590/0101-6628.260

Pialarissi, R. (2017). Precarização do trabalho. Revista de Administração em Saúde, 17(66).

Pooli, A. M., & Monteiro, J. K. (2018). Assédio moral no judiciário: prevalência e repercussões na saúde dos trabalhadores. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 18(2), 346-353. http://dx.doi.org/10.17652/rpot/2018.2.13516

Ribeiro, B. C., & Baruki, L. V. (2022). O impacto da violência e do assédio na saúde mental de trabalhadores. In: A. R. de Araújo (Org.). O enfrentamento à violência e ao assédio no trabalho, uma análise multidisciplinar da Convenção 190 da OIT (pp. 217-240). Editora RTM.

Rodriguez-Munoz, A., Moreno-Jimenez, B., Vergel, S., Garroza, E. (2010). Post-traumatic symptoms among victims of workplace bullying: Exploring gender differences and shattered assumptions. Journal of Applied Social Psychology,10(40), 2616-2635. https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2010.00673.x

Schlindwein, V. C. (2018). Assédio moral como estratégia de gestão no serviço público. Trabalho (En)Cena, 4(1), 221-237. https://doi.org/10.20873/2526-1487V4N1P221

Schwaab, K., Monteiro, J. K., Guerin, M., & Gregoviski, V. R. (2022). Assédio moral no trabalho: consequências para o sujeito e para a família. Nova Perspectiva Sistêmica, 31(74), 101–116. https://doi.org/10.38034/nps.v31i74.691

Secchi, L. (2009). Modelos organizacionais e reformas da administração pública. RAP, 43(2), 347-362.

Silva, A. F. da C., Costa, S. F. G. da., Zaccara, P. S. de S., Costa, A. A. L., Duarte, I. C. P., Souto, M. C. (2015) Assédio moral: estudo com enfermeiros da estratégia saúde da família. Revista Online de Pesquisa: cuidado é fundamental, 7(1), 1820-1831. http://www.seer.unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/3459/pdf_1410

Soares, Â. (2013). Assédio moral: o estresse das vítimas e das testemunhas. In: C. Q. B. L. Lima, J. A. Oliveira, M. Maeno. (Orgs.). Compreendendo o assédio moral no ambiente de trabalho (pp. 35-41). Fundacentro. http://www.angelosoares.ca/chapitres/Asse%CC%81dio_Moral_O_Estresse_das_Vitimas_e_das_Testemunhas.pdf

Souza, G. C. de., Gonçalves, J. B., Carvalho, K. C. dos R. (2014). Danos físicos e psicossociais decorrentes do assédio moral na Polícia Militar do Distrito Federal. [Monografia - Especialização em Clínica Psicodinâmica do Trabalho e Gestão do Estresse]. Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

Standing, G. (2013). O precariado: A nova classe perigosa. (C. Antunes, trad.). Autêntica Editora.

Standing. G. (2014). O precariado e a luta de classes. Revista crítica de ciências sociais, 103, 9-24. https://doi.org/10.4000/rccs.5521

Stephan, F., Gonçalves, A.S., Cunha, G.F.P; Silveira, I.C.S., Miranda, M.B., Carolino, T.S., Oliveira, T.D., Lima, V.D., & Lourenço, L.M. (2018). Assédio moral/mobbing e saúde mental. Revista Interinstitucional de Psicologia, 11(2), 236-257. http://dx.doi.org/10.36298/gerais2019110205

Tittoni, J., Maurente, V., Monteiro, J. K., Costa, S. G., Colomby, R. K., Campos, M. F., Castro, T. C. M., Pooli, A. M., Duarte, M. Q., Machado, F. K. S., Silveira, J. G. B., Torres, L. B. (2021). Bem viver: saúde mental no Ministério Público: relatório final. (Relatório de pesquisa).

Traesel, E. S., & Merlo, A. R. C. (2014). "Somos sobreviventes": vivências de servidores públicos de uma instituição de seguridade social diante dos novos modos de gestão e a precarização do trabalho na reforma gerencial do serviço público. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 17(2), 224-238. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172014000300006&lng=pt&tlng=pt

Vasconcelos, Y. L., de Miranda, E. C., Lins, B. G. V., & de Sena, M. J. (2018). Percepções do Assédio Moral Corporativo. Revista de Ciências Jurídicas e Empresariais, 19(1), 23-34.

Vaz, A.R.C. (2019). Dano existencial decorrente de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho. (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Direito. Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/47942/1/ulfd145923_tese.pdf

Downloads

Publicado

2024-09-11

Como Citar

Monteiro, J. K., Pooli , A. M., Traesel, E. . S., Santos , A. G. dos, Heloani, J. R. . M., & Lima, F. T. de. (2024). A Precarização Social do Trabalho e o Assédio Moral no Serviço Público Brasileiro: Como Fica a Saúde dos(as) Trabalhadores(as)?. Trabalho (En)Cena, 9(Contínuo), e024027. https://doi.org/10.20873/2526-1487e024027

Edição

Seção

Dossiê: Trabalho, Subjetividades e Práticas Clínicas