v. 1 n. 26 (2020): ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONFRONTANDO E RESSIGNIFICANDO PRÁTICAS SILENCIADORAS
Muitos textos se dedicam a pensar o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, das Línguas estrangeiras e da Literatura tendo em vista a necessidade de transformações desses processos. A maioria dos estudos ora apontam para a revisão dos livros didáticos, ora para a denúncia da falta de estruturas das escolas, ora para a procura de novas metodologias de ensino. Em todas essas pesquisas, vemos o desejo de intervir nas práticas escolares numa tentativa de apontar caminhos e reconhecer os vários problemas com os quais a educação se depara. Este livro reconhece que existe um processo sem o qual não é possível ensino algum: trata-se da leitura. Sobre ela, acreditamos que o professor tem a sua disposição práticas dominantes que impossibilitam um ensino crítico e cidadão. Para reconhecer esse aspecto, bem como pensar em ações e práticas que lancem um novo olhar sobre o ensino e aprendizagem, faz-se necessário também entendermos o papel da formação de professores. Os professores devem estar empenhados numa ação reflexiva sobre suas práticas na tentativa de formar cidadãos a partir do uso da língua. Em vez de visualizarmos leitura como algo inerte e monológico, em que apenas um sujeito fala, seja ele o professor, o leitor ou o autor, acreditamos que ler é uma prática social. Sendo social, a leitura é dinâmica, pulsante e viva. Portanto, ler um texto é possibilitar o protagonismo do sujeito-leitor em sua interação com o texto. Não parece muito num primeiro momento, mas, se nos lembrarmos que todas as práticas escolares se fundam no silenciamento desse sujeito, a constatação é emancipadora. Na leitura de um texto, o sujeito-leitor se assume como autor ao dialogar com a língua, história e sociedade. Descobre-se como produtor de sentido, ouve outras vozes sociais e entende que a aprendizagem é uma ação reflexiva e crítica. Assim, interagir com um texto é sempre um ato de liberdade. Fazer emergir novas práticas de leituras e novos olhares sobre as relações escolares implica também na redefinição do que se entende por formação de professores. Dentro de novas perspectivas, o professor deve atuar como um agente facilitador, intermediando os processos e dinâmicas sociais na sala de aula. Sua postura se assemelha ainda a de um pesquisador, uma vez que os novos paradigmas de ensino e aprendizagem rechaçam a ideia de que exista um conteúdo pronto e acabado (o saber), cujo único detentor é o professor. Na aula, a postura do professor é a de um intermediador dos vários atores sociais e saberes que estão sendo movimentados ali, contextualizando os sentidos e nos fazendo ver que o ensino se conjuga à vida. Os docentes e pesquisadores que escreveram os textos que compõem essa coletânea concebem leitura como um processo dialógico em que o leitor, de maneira responsiva, interage com o texto e sociedade num processo de troca. Acreditam também na necessidade de o professor refletir sobre suas práticas, possibilitando que assuma novos papéis e transite por outros caminhos no processo de ensino-aprendizagem.