ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONFRONTANDO E RESSIGNIFICANDO PRÁTICAS SILENCIADORAS
Palavras-chave:
Leitura; Formação de professor; Prática dialógica de leitura.Resumo
Muitos textos se dedicam a pensar o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, das Línguas estrangeiras e da Literatura tendo em vista a necessidade de transformações desses processos. A maioria dos estudos ora apontam para a revisão dos livros didáticos, ora para a denúncia da falta de estruturas das escolas, ora para a procura de novas metodologias de ensino. Em todas essas pesquisas, vemos o desejo de intervir nas práticas escolares numa tentativa de apontar caminhos e reconhecer os vários problemas com os quais a educação se depara. Este livro reconhece que existe um processo sem o qual não é possível ensino algum: trata-se da leitura. Sobre ela, acreditamos que o professor tem a sua disposição práticas dominantes que impossibilitam um ensino crítico e cidadão. Para reconhecer esse aspecto, bem como pensar em ações e práticas que lancem um novo olhar sobre o ensino e aprendizagem, faz-se necessário também entendermos o papel da formação de professores. Os professores devem estar empenhados numa ação reflexiva sobre suas práticas na tentativa de formar cidadãos a partir do uso da língua. Em vez de visualizarmos leitura como algo inerte e monológico, em que apenas um sujeito fala, seja ele o professor, o leitor ou o autor, acreditamos que ler é uma prática social. Sendo social, a leitura é dinâmica, pulsante e viva. Portanto, ler um texto é possibilitar o protagonismo do sujeito-leitor em sua interação com o texto. Não parece muito num primeiro momento, mas, se nos lembrarmos que todas as práticas escolares se fundam no silenciamento desse sujeito, a constatação é emancipadora. Na leitura de um texto, o sujeito-leitor se assume como autor ao dialogar com a língua, história e sociedade. Descobre-se como produtor de sentido, ouve outras vozes sociais e entende que a aprendizagem é uma ação reflexiva e crítica. Assim, interagir com um texto é sempre um ato de liberdade. Fazer emergir novas práticas de leituras e novos olhares sobre as relações escolares implica também na redefinição do que se entende por formação de professores. Dentro de novas perspectivas, o professor deve atuar como um agente facilitador, intermediando os processos e dinâmicas sociais na sala de aula. Sua postura se assemelha ainda a de um pesquisador, uma vez que os novos paradigmas de ensino e aprendizagem rechaçam a ideia de que exista um conteúdo pronto e acabado (o saber), cujo único detentor é o professor. Na aula, a postura do professor é a de um intermediador dos vários atores sociais e saberes que estão sendo movimentados ali, contextualizando os sentidos e nos fazendo ver que o ensino se conjuga à vida. Os docentes e pesquisadores que escreveram os textos que compõem essa coletânea concebem leitura como um processo dialógico em que o leitor, de maneira responsiva, interage com o texto e sociedade num processo de troca. Acreditam também na necessidade de o professor refletir sobre suas práticas, possibilitando que assuma novos papéis e transite por outros caminhos no processo de ensino-aprendizagem.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Trad. Aurora Fornoni Bernardini et al. 5. ed. São Paulo: Anablume; Hucitec, 2002.
_____________. A estética da criação verbal. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
_____________. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2013.
_____________. Teoria do romance I: a estilística. São Paulo: Editora 34, 2015.
BATISTA-SANTOS, Dalve Oliveira. Prática dialógica de leitura na universidade: uma contribuição para a formação do leitor responsivo e do professor letrador. Tese de Doutorado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2018. p 248.
_____________. O professor universitário como agente letrador: interfaces com o desenvolvimento do letramento acadêmico. Linguagem & Ensino (UCPel), v. 22, p. 710, 2019a.
_____________. Concepção de leitura e de leitor de monitores do programa de apoio ao discente iniciante na universidade. Revista diálogo educacional, v. 19, p. 1729-1749, 2019b.
BATISTA-SANTOS, D. O.; CRUZ, J. P.. A construção de sentidos na atividade de leitura: interfaces com o professor mediador. Interfaces da Educação, v. 10, p. 150-175, 2019.
BATISTA-SANTOS, D.O.; FERREIRA, A. A. C. Concepções de leitura e de linguagem: implicações na formação e no desenvolvimento do leitor proficiente. v.4, n. 2. Palmas: Revista Humanidades e Inovação, 2017.
CASSIRER, E. A filosofia das formas simbólicas. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
CAVALCANTI, M. The Pragmatics of FL ReaderText Interaction: Key Lexical Items as Source of Potential Reading Problem. PhDThesis.University of Lancaster, 1983.
______. Interação Leitor-Texto – Aspectos de Interpretação Pragmática.Campinas: Editora da UNICAMP, 1989.
CORACINI, M. J. R. F. Leitura: decodificação, processo discursivo...?. In: CORACINI, M. J. R. F.(Org.). O jogo discursivo na aula de leitura: língua materna e língua estrangeira. 3 Ed. Campinas: Pontes Editores, 2010.
DENZIN, N. K.; LINCOLN, I. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.
ECO, U. Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FARACO, C. A. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
________________. Pedagogia do oprimido. 41. ed., São Paulo: Paz e Terra, 2005.
FUZA, A. F.; OHUSCHI, M.; MENEGASSI, R. J.. Concepções de linguagem e o ensino da leitura em língua materna. Linguagem & Ensino (UCPel. Impresso), v. 14, p. 479-501, 2011.
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. Cascavel: Assoeste, 1984.
______. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HEATH, S. B. What no bedtime story means: narrative skills at home and school. Language in Society, v. 11, p. 49-76, 1982.
KLEIMAN, A. Oficina de Leitura: teoria e prática. 13 Ed. Campinas: Pontes Editores, 2010.
KRISTEVA, J. “A Linguística Indiana”. In: _____, História da Linguagem. Lisboa: Edições 70, 1969.
LEFFA, V. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra: DC Luzzatto, 1996.
LEFFA, V. J. Perspectivas no estudo da leitura; Texto, leitor e interação social. In: LEFFA, V. J.; PEREIRA, A. E. (Orgs.) O ensino da leitura e produção textual: Alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999. p. 13-37. (disponível em: http://www.leffa.pro.br/perspec.htm)
LEROY, M. As grandes correntes da linguística moderna. São Paulo: Cultrix, 1971.
MENEGASSI, R. J. ; ANGELO, C. M. P. Conceitos de leitura. In: MENEGASSI, R. J. Leitura e escrita. 2 ed. Maringá: Eduem, 2000.
OLIVEIRA, Maria Bernadete Fernandes de. O círculo de Bakhtin e sua contribuição ao estudo das práticas discursivas. Revista Eutomia – Ano II, Nº 2 – Dezembro de 2009.
PÊCHEUX; M.; GADET, F. A língua inatingível. Campinas: Editora RG, 2010.
PENNYCOOK, A. Uma linguística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. da. Por uma linguística aplicada INDISCIPLINAR. São Paulo: Parábola, 2006.p.67-83.
PEREIRA, R. A. A orientação sociológica para a análise da língua: posições metodológicas nos escritos do círculo de Bakhtin. Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Língua Portuguesa, Lingüística e Literatura Letra Magna. Ano 12. n. 19, Edição Especial 2016. [http://www.letramagna.com/artigos_19/artigo_19_06.pdf]. Acessado em: 6/5/2020.
PONTECORVO, C.; AJELLO, A.M.; ZUCCHERMAGLIO, C. Discutindo se aprende: Interação social, conhecimento e escola. Porto Alegre: Artmed, 2005.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
SOLÉ, I. Estratégias de Leitura. 6 Ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
STREET, B. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press. 1984.
______. Eventos de letramento e práticas de letramento: teoria e prática nos Novos Estudos do Letramento. In. MAGALHÃES. I. (Org.) Discursos e práticas de letramento. Mercado de Letras: Campinas. 2012.
______. Letramentos Sociais: Abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. São Paulo: Parábola Editorial. 2014.
SUGAYAMA, A.M. Múltiplas leituras: novas perspectivas teóricas e metodológicas para um letramento literário. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Pontifícia Universidade Católica. São Paulo: PUC, 2017. p.290
VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução do francês por Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: editora 34, 2017.
ZANOTTO, M. S. Metáfora, Cognição e Ensino de Leitura. São Paulo: D.E.L.T.A, v.11, nº 2, 1995.
______. Construção e a Indeterminação do Significado Metafórico no Evento Social de Leitura. In: PAIVA, Vera L.M.O. Metáforas do Cotidiano. Belo Horizonte: Edit. da UFMG, 1998, P. 13-38.
______. As múltiplas leituras da ‘metáfora’: desenhando uma metodologia de investigação. Signo, Santa Cruz do Sul, v.39, n. 67, p. 3-17, jul./dez. 2014.
ZANOTTO, M. S.; TAVARES DOS SANTOS, M. Construindo uma prática dialógica de letramento: emergências de processos inferenciais e argumentativos. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 43, n. 77, jul. 2018. ISSN 1982-2014. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/signo/article/view/12138>. Acesso em: doi:http://dx.doi.org/10.17058/signo.v43i77.12138.
ZANOTTO, M. S.; SUGAYAMA, A. M. Um confronto heurístico entre práticas de letramento e as epistemologias do monologismo e do dialogismo. Revista Signum, Londrina, v. 1, n.19, p.11-39, 2016.