A TRAMA DISCURSIVA DA HOMOSSEXUALIDADE E DA HOMOFOBIA NA TELENOVELA PANTANAL
SILENCIAMENTO E RESISTÊNCIA
DOI:
https://doi.org/10.20873/actasemiticaetlingvistica.v31i2.20393Palavras-chave:
Teledramaturgia; Homossexualidade; Homofobia; Discurso.Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar a “encenação” da homossexualidade e da homofobia no discurso teledramatúrgico da novela Pantanal a partir da representação do personagem Zaqueu nas duas versões da trama (TV Manchete/1990, TV Globo/2022). A partir recortes de cenas dessas duas versões, discutimos como evidências ideológicas sobre a homossexualidade e a homofobia foram reproduzidas, deslocadas ou contestadas no discurso da novela. O trabalho se inscreve na perspectiva teórica da Análise do Discurso pecheutiana, apoiando-se, de modo particular, em reflexões de Eni Orlandi sobre o silenciamento e a resistência dos sujeitos e dos sentidos. Nossos movimentos de análise demonstram que enquanto na primeira versão da novela as redes de memória da homofobia trabalham fortemente o silenciamento político do sujeito homossexual, na segunda versão, as evidências dessas redes são tensionadas por efeitos de resistência, abrindo possibilidades de significação outras para o sujeito homossexual. Esses resultados sugerem, assim, ser o discurso da telenovela uma prática significante complexa de estabilização e deslocamento de sentidos.
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