SOMOS NAVEGADORES
(Apenas sob a luz das estrelas ou da nossa própria natureza)
Resumo
As pesquisas em artes da presença, tendo como foco principal a relação impulso interior/forma externa, são mutantes e impermanentes. O registro dessas artes mora nas imagens captadas durante os processos e em momentos de comunicação com plateias. O que se tenta investigar são os diferentes modos, no aqui/agora, em que se desenvolvem fluxos vitais, que compreendem não só o passado, como também seguem sempre rumo a futuros prováveis. Tentar fixá-las é matar seu modus operandi; a única maneira de falar delas é por meio da poesia. Sendo assim, o trabalho da orientadora e dos alunos pesquisadores se desenvolve em ondas, maiores ou menores, que, às vezes, explodem em alto mar e, noutras, chegam de súbito a qualquer praia, mesmo àquelas que olhos humanos desconhecem. A metodologia de pesquisas que têm o eu/corpo dos intérpretes como base vai se construindo pari passu com o material que se deixa vislumbrar e com o que se oculta; material que depende dos dias e das estações, do estresse e do cansaço, e dos tantos acontecimentos poderosos e sutis que cercam a existência humana. Seus resultados são de relato pouco objetivo, já que ocorrem nessa delicadíssima relação que os participantes estabelecem consigo e com o coletivo. São reconhecíveis, mas indescritíveis. O estudo, ora apresentado, conta com filósofos, educadores, escritores, psicanalistas, dançarinos, sonhadores e outros pesquisadores das artes da cena como alicerce teórico do nosso pensamento. Entre eles, Rudolf Laban, Hannah Arendt, Emmanuel Lévinas, Luigi Pareyson, Gabriel Garcia Márquez, Paulo Freire, Leopold Nosek, José Moura Gonçalves Filho, Thérèse Bertherat, Eduardo Galeano, Júlio Cortázar, Pina Bausch, Eugen Herrigel, J. Guinsburg e tantos outros e outras cujos saberes vão se tornando parte de nós, de tal maneira, que até as citações dos seus escritos e a lembrança de suas obras artísticas tornam-se pensamentos que vêm deles como rios longínquos, que vão aumentando à medida que encontram novos afluentes em busca do grande mar. O mar somos. E o mar seremos com aqueles que ainda chegarão do futuro imprevisível. A teorização sobre a nossa prática tentará, de certa maneira, traduzir o intraduzível.