ATELIÊS DE DRAMATURGIA
Práticas de escrita a partir da integração artes visuais-texto-cena
Resumo
A ideia de dramaturgia como atividade solitária, sob o controle absoluto de um autor único e responsável pela totalidade de uma escrita verbal, sofreu significativo abalo no final do século 19. A partir de então e cada vez com maior intensidade, a peça teatral cujo resultante, de tal modo assemelhado a um organismo autônomo, deveria pressupor a “inexistência” de seu criador, abriu-se a elementos externos tanto do ponto de vista formal quanto procedimental. Se antes sua preexistência era determinante para um trabalho de encenação, aos poucos essa espécie de bloco escrito passou a conviver com as dinâmicas coletivas de criação do texto e da cena. Tal percurso levou naturalmente a um distanciamento cada vez mais intenso da forma dramática canônica, a um diálogo gradativamente maior com as demais linguagens artísticas, ao mesmo tempo em que solicitou do dramaturgo uma proximidade com a prática viva da cena e uma partilha criativa com seus demais artífices. Buscou-se com os Ateliês de Dramaturgia abordados no presente artigo – fruto da tese de doutorado sob orientação da Profª Dra. Maria Lúcia Pupo –, uma pedagogia que correspondesse em boa parte às novas configurações. Para tanto, foram realizados três Ateliês com públicos de diferentes idades e formações, aos quais foi proposta uma série de exercícios de escrita em colaboração mútua a partir de disparadores oriundos das artes plásticas não figurativas. Os materiais criados eram analisados pelo coletivo a fim de serem reescritos e, numa etapa posterior, experimentados na cena com a finalidade de passarem por novas reescritas. A iniciativa revelou-se uma via capaz de promover a democratização da escrita, a hibridização de linguagens, além do alargamento do conceito e da práxis de dramaturgia.