O MOVIMENTO ESTÉTICO-POLÍTICO DO TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO
Resumo
O presente artigo discorre sobre a base política fundadora do Teatro Experimental do Negro (TEN), de Abdias do Nascimento, e suas práticas com o propósito de analisar como se dá o enfrentamento ao racismo presente nas relações sociais do Brasil mediante a linguagem teatral. Para tanto, apresentam-se argumentos do próprio Abdias sobre o móbil para o surgimento desse grupo, acrescido da descrição do cenário estético-político da época ainda embrenhado no mito da democracia racial. Nessa análise, considera-se também o movimento da Negritude como orientador das ideologias do TEN, na medida em que esse movimento pretendia reabilitar a identidade negra ao afirmar positivamente a cultura e o legado ancestral africano. Mediante a literatura intrínseca a esse movimento, pretendeu-se, então, a emancipação dos povos negros, já que a mesma enfrentaria a dominação colonial em termos físicos e simbólicos. Buscava-se nesse sentido negar a mera assimilação dos padrões morais e estéticos eurocêntricos para, assim, assegurar a força, o orgulho e a auto-estima para as pessoas negras. Por fim, a análise proposta também compreende os conceitos de cultura e representação, segundo a perspectiva de Stuart Hall, e a função da arte na formação da percepção do sujeito, de acordo com Susanne Langer, com o objetivo de se discutir como as peças teatrais encenadas por esse grupo determinariam novos significados para a percepção acerca da identidade negra, até então, sub-representada por meio de estereótipos negativos veiculados na cultura brasileira. Em acordo com o Movimento da Negritude, sustenta-se, portanto, que a fruição dessas peças suscitaria sentimentos de solidariedade, fraternidade, fidelidade com relação à história ancestral entre os/as afrodescentes, o que acarretaria o fortalecimento no embate ao racismo.