ADORNO
materialismo e teoria dialética no contexto narrativo da ópera Wozzeck
Resumo
Considerado um de seus primeiros escritos voltados para uma estética materialista, em A ópera Wozzeck, ensaio analítico elaborado em fins de 1929, Adorno defende a convergência entre gênero teatral, lógica musical e crítica materialista abordando a conhecida obra de seu antigo professor e amigo, o compositor Alban Berg. Estendendo os postulados marxistas à esfera da cena e da música, o trabalho elaborado por Adorno alude ao aspecto dialético que origina e fundamenta a composição da ópera, a partir da escolha do texto teatral inacabado do dramaturgo novecentista alemão Georg Büchner, que teve seu enredo baseado na história real do soldado Johann Christian Woyzeck (1780-1824). Fundamentado nas violências impostas ao soldado germânico - submetido à condição de cobaia humana, à debilidade física e mental, à desonra, ao desespero e à humilhação, sem voz ativa e sem qualquer credibilidade - Adorno, considerando que toda positividade fortalece a sensação de impotência, analisa os valores burgueses que fundamentam a trama original da peça de Büchner, assinalada pela estética do romantismo alemão e conformação à realidade social dada por Berg, definida na composição em si. No entender do filósofo: “o que aparentemente está a salvo, seguro na posição do centro, ao invés de ir ao extremo, não faz outra coisa além de perder-se absolutamente”. É, portanto, do ponto de vista materialista que se estabelece o contorno narrativo da ópera, fundamentado nas relações de dominação e no sentimento de alienação, impotência e angústia que caracterizam a sociedade de classes.