LITERATURA INDÍGENA COMO DESCATEQUIZAÇÃO DA MENTE, CRÍTICA DA CULTURA E REORIENTAÇÃO DO OLHAR

sobre a voz-práxis estético-política das minorias

Autores

  • Leno Francisco Danner
  • Julie Dorrico
  • Fernando Danner

Resumo

Neste texto, apresentamos e propomos a literatura indígena brasileira como descatequização da mente, crítica da cultura e reorientação do olhar, a partir da constituição, pelos próprios indígenas, de uma voz-práxis estético-literária autoral, em que o eu-nós lírico-político assume um relato autobiográfico, testemunhal e mnemônico de sua singularidade antropológica e de sua condição de marginalização, de exclusão e de violência geradas pela colonização. Com isso, a literatura indígena projeta-se como ativismo, militância e engajamento públicos, políticos e culturais dos intelectuais e dos escritores indígenas, aliando-se intrinsecamente ao Movimento Indígena brasileiro, visando, nessa correlação, à constituição de uma voz-práxis direta, carnal e pungente, política e politizante, sem mediações institucionalistas, tecnicistas e cientificistas, que desvela, desconstrói e problematiza as caricaturas, as teatralizações e os preconceitos produzidos pela colonização e, depois, por nossa modernização conservadora em relação aos povos indígenas, oferecendo, em contrapartida, a perspectiva dos próprios indígenas relativamente a si mesmos e no que diz respeito à história de nossa sociedade de um modo mais geral. A partir do exemplo da literatura indígena, argumentaremos que a voz-práxis estético-literária, dada sua constituição anti-sistêmica, possibilita às minorias a autoexpressão e a autoafirmação desde sua alteridade-diferença radical, constituindo-se em arena, instrumento e prática inclusivos e participativos, geradores de crítica social, resistência cultural e luta política. E, com isso, para as minorias, é questão de vida ou de morte essa afirmação de si mesmas e por si mesmas como sujeitos públicos, políticos e culturais, radicalmente politizados e atuantes em termos da esfera pública democrática, que, ao superarem a invisibilização, o silenciamento e o privatismo aos quais estão confinadas, desnaturalizam e politizam radicalmente a sociedade, as instituições, os sujeitos sócio-políticos, as relações, as práticas e os valores intersubjetivamente vinculantes. É exatamente a participação pungente e radical das minorias da esfera pública democrática, como sujeitos públicos, políticos e culturais, que viabiliza a crítica social, a resistência cultural e a luta política, que funda o ponto de vista normativo, por meio da pluralização dos sujeitos, das histórias e dos relatos acerca de nossa sociedade, por meio, ainda, do desvelamento e do enfrentamento das contradições social, cultural, política e institucionalmente latentes.

Biografia do Autor

Leno Francisco Danner

Doutor em Filosofia (PUCRS). Professor de Filosofia e de Sociologia no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Julie Dorrico

Doutoranda em Teoria Literária pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Fernando Danner

Doutor em Filosofia (PUCRS). Professor de Filosofia no Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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Publicado

2017-07-30

Como Citar

Danner, L. F., Dorrico, J., & Danner, F. (2017). LITERATURA INDÍGENA COMO DESCATEQUIZAÇÃO DA MENTE, CRÍTICA DA CULTURA E REORIENTAÇÃO DO OLHAR: sobre a voz-práxis estético-política das minorias. Teatro: Criação E Construção De Conhecimento, 5(1), 9–33. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/teatro3c/article/view/5696

Edição

Seção

Dossiê - Filosofias das Artes