Corpos fraturados: uma leitura de Que bom te ver viva, de Lúcia Murat, e Corpo interminável, de Cláudia Lage

Authors

DOI:

https://doi.org/10.20873.24.409

Keywords:

Que bom te ver viva, Corpo interminável, Literatura brasileira contemporânea, Ditadura militar, Forma literária

Abstract

O presente artigo tem como foco a análise comparativa entre as obras Que bom te ver viva (1989), de Lúcia Murat, e Corpo interminável (2019), de Cláudia Lage. Seu objetivo central é analisar como ambas, respectivamente um documentário e um romance, mimetizam a memória da ditadura civil-militar brasileira. Como metodologia, bibliográfica e de análise qualitativa, pretende-se articular as relações entre Literatura e Sociedade (Candido, 2006) com as discussões sobre memória (Benjamin, 1987; Gagnebin, 2006; Jelin, 2002; Ricoeur, 2007; Sarlo, 2007; Seligmann-Silva, 2008), corpos torturados (Kehl, 2010) e gênero (Lauretis, 1989; Pinto, 2010; Saffioti, 2001; 2015), considerando ainda a fortuna crítica das obras (Bezerra, 2014; Braz, 2023; Tofoli; Martineli Filho, 2023; Trefzger, 2023; Veiga, 2016). A hipótese de leitura é que a partir das múltiplas vozes e das cenas em fragmentos, as obras introjetam em sua forma as lacunas deixadas como legado pelo regime autoritário. Dessa forma, a partir dos corpos-vozes (das mulheres) e da estrutura fraturada (da narrativa), respondem esteticamente a uma herança coletiva de violência e esquecimento, ao mesmo tempo que apontam o trabalho intelectual como uma forma de elaborar esse passado mal resolvido.

Author Biographies

Juliane Vargas Welter, UFRN

Doutora em Literatura Brasileira pela UFRGS. Professora adjunta do Departamento de Letras da UFRN. Atua na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira.

Maria Regina Soares Azevedo de Andrade, UFRN

Graduada em Letras - Língua Portuguesa pela UFRN. Mestranda em Estudos da Linguagem - área de Literatura comparada no PPgEL/UFRN.

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Published

2024-12-22

How to Cite

Welter, J. V., & Andrade, M. R. S. A. de. (2024). Corpos fraturados: uma leitura de Que bom te ver viva, de Lúcia Murat, e Corpo interminável, de Cláudia Lage. Porto Das Letras, 10(3), 177–199. https://doi.org/10.20873.24.409