Norma Padrão e Norma dita culta: confusão sistêmica entre instrumento linguístico e amostra de variação

Authors

  • Fernanda de Oliveira Cerqueira UFBA

Abstract

The present work aims to problematize the apparent approximation between the concepts of standard norm and established norm as cultured, given that the first acts, as a linguistic instrument, by regulating normative-prescriptive grammar, while the second is configured, in principle, as a sample of recurrent uses of language among subjects historically considered cultured. However, it is not rare that, both in the mainstream media and in classrooms of the basic education network, the terms are confused, in order to corroborate the systematic maintenance of power inherent to the use of the Portuguese language in Brazil. To do so, we resort to the theoretical framework of Applied Linguistics, due to its interdisciplinary nature (MOITA LOPES, 2006), given that we mobilize here concepts from the normative tradition (namely, standard norm) and sociolinguistics (namely, learned norm), under the prism of the Historiography of Linguistic Ideas (AUROX, 1992, 1998). To carry out the proposed discussion, we adopted an explanatory methodology based on a qualitative basis. Finally, we verified that the confusion between such notions of norm affects the social practices of the language in use (LUCCHESI, 1994, 2015; FARACO, 2008; BAGNO, 2003, 2012), as well as the power relations inherent to it (MATTOS E SILVA, 1995; CHARITY-HUDLEY, 2013; CERQUEIRA, 2020, 2022; FREITAG, 2023).

References

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.

ARAÚJO, S. S. F. O embate norma popular/norma culta/norma padrão: implicações no trabalho com análise linguística para falantes do português rural afro-brasileiro. III Seminário de Língua Portuguesa e Ensino / I Colóquio de Linguística, Discurso e Identidade. (Anais). 2008, p.-13.

AQUINO, J. E. Gramática: instrumento técnico/ferramenta político-histórica. In: MEDEIROS, V.; ESTEVES, P. M. S. (Org.). Almanaque de Fragmentos: Ecos do século XIX. 1ed.Campinas: Pontes, 2020a, p. 113-118.

AQUINO, J. E. Gramática: lugar de disputa, formação e legitimação de identidades e saberes. In: MEDEIROS, V.; ESTEVES, P. M. S. (Org.). Almanaque de Fragmentos: Ecos do século XIX. 1ed.Campinas: Pontes, 2020b, p. 119-123.

AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992.

AUROUX, S. A mecanização da linguagem. In: AUROUX, Sylvain. A filosofia da linguagem, Campinas: Editora da UNICAMP, 1998.

BAGNO, M. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, mídia e exclusão social. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

BAGNO, M. A norma oculta. São Paulo: Parábola, 2003.

BAGNO, M. Norma linguística, Hibridismo e Tradução. Traduzires, v. 1, 2012, p. 19-32.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 1999.

BUENO. W. Imagens de controle: um conceito do pensamento de Patrícia Hill Collins. Porto Alegre: Editora Zouk, 2020.

BURKE, P. A nova história, seu passado e seu futuro. In: BURKE, P. (Org.). A escrita da história: novas perspectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora UNESP, 1992, p. 7-38.

CARDOSO, S. A. Língua: meio de opressão ou socialização? In: FERREIRA, C.; MOTA, J.; FREITAS, J.; SILVA, M.; ANDRADE, N; MATTOS E SILVA, R. V.; CARDOSO, S.; ROLLEMBERG, V. (Eds.). Diversidade do Português Brasileiro: Estudos de dialectologia rural e outros. Salvador: Centro editorial e didático da UFBA, 1994, p. 229-233.

CARVALHO, D. S. A estrutura interna dos pronomes pessoais em português brasileiro. 2008. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2008.

CARVALHO, D. S. Traços-phi: contribuições para a compreensão da gramática do português. Salvador: EDUFBA, 2017.

CERQUEIRA, F. O. O pretoguês como comunidade de prática: concordância e identidade racial. Traços de Linguagem, Cáceres. v.4, n.1, 2020, p. 75-88.

CERQUEIRA, F. O. Lélia Gonzalez e o Pretuguês: do racismo e sexismo ao epistemicídio. In: CARVALHO, D. S.; LIMA, P. E. (Orgs.). Língua(em) e sexualidade: perspectivas do século XXI. Salvador: Edufba, 2022, p. 15 – 38.

CHARITY-HUDLEY, A. H. Sociolinguistics and social activism. In: BAYLEY, R.; CAMERON, R.; LUCAS, C. (Orgs.). The Oxford Handbook of Sociolinguistics. Oxford: Oxford University Press, 2013, p. 1-22.

COSERIU, E. Sistema, norma e fala. Revista de la Faculdad de Humanidade y Ciencias, Motevideo, ano VI, n. 9, 1952, p. 113-191.

FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola, 2008.

FERREIRA JR. A. A história da educação brasileira: da colônia ao século XX. São Carlos: EdUFSCar, 2010.

FREITAG, R. K. A quarta onda: ativismo sociolinguístico no Brasil. Fórum Linguístico, v. 20, n. 3, 2023, no prelo.

GOMES, N. L. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2019.

GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje. ANPOCS, 1983, p. 223-244.

LAGARES, X.; BAGNO, M. (Orgs.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola, 2011.

LUCCHESI, D. E. R. Variação e norma: elementos para uma caracterização sociolinguística do português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa, 1994, v. 12, p. 17-28.

LUCCHESI, D. E. R. Língua e sociedades partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015.

MATTOS E SILVA, R. V. Contradições no ensino de língua portuguesa: a língua que se fala X a língua que se ensina. São Paulo: Contexto, 1995.

MENDES, R.; OUSHIRO, L. O mapa sociolinguístico brasileiro. Alfa, 2012, v. 56, n.3, p. 973-1001.

MILROY, L. Language and social network. Oxford: Blackwell, 1980.

MINTZ, S. W. Culture: an Antrophological view. The Yale Review, 1982, v. 17, n. 4, p. 499-512.

MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. Parábola: São Paulo, 2006.

MOURA, C. O negro, de bom escravo a mau cidadão? São Paulo: Editora Dandara, 2021.

MUNIZ, K. Linguagem como mandinga: população negra e periférica reinventando epistemologias. In: SOUZA, A. L. (Org.). Cultura política nas periferias: estratégias de reexistência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2021. p. 273-288.

NASCIMENTO, G. Racismo Linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

OLIVEIRA, K. Negros e escrita no Brasil do século XIX: sócio-história, edição filológica de documentos e estudo linguístico. 2006. Tese (Doutorado em Letras) – Instituto de Letras, UFBA, 2006.

PETRI, V. Gramatização das línguas e instrumentos linguísticos: a especificidade do dicionário regionalista. Língua e Instrumentos Linguísticos, v.1, 2012, p. 23-37.

PRETTI, D. O discurso oral culto. São Paulo: Humanitas Publicações – FFLCH/USP (Projeto de estudos da norma linguística urbana culta de São Paulo), 1997.

POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Filologia e Língua Portuguesa, 1998, n. 2, p. 165-271.

RODRIGUES, A. C. S. Fotografia sociolinguística do português do Brasil: o português popular em São Paulo. In: CASTILHO, A. T. (Ed.). História do português paulista. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem/UNICAMP, 2009. p. 151-158.

SILVA, W. S. Uma reflexão sobre as raízes teóricas do preconceito linguístico: a centralidade da Morfologia Flexional e o Excepcionalismo Linguístico. Domínios da Lingu@gem, v. 17, 2023, p.1-29.

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1997.

WEINEREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006.

Published

2023-11-20

How to Cite

de Oliveira Cerqueira, F. (2023). Norma Padrão e Norma dita culta: confusão sistêmica entre instrumento linguístico e amostra de variação. Porto Das Letras, 9(2), 458–477. Retrieved from https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/16754

Issue

Section

Instrumentos Linguísticos