Dicionários Filosóficos e Glossários em Filosofia: Artefatos Culturais Filosóficos e Instrumentos de Saturação da Referência

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Resumo

Este artigo celebra as ideias de Sylvain Auroux estressando seu viés filosófico. O texto aproxima por diferentes vias, a Filosofia da Linguagem da História das Ideias Linguísticas (também HIL), perturbando suas margens tranquilas e borrando seus limites assinaláveis. Como questão central, o texto discute dois possíveis interesses de investigação pra HIL, apreendidos pelo seu caráter de instrumento linguístico e de artefato cultural filosófico. Os objetos de reflexão propostos são os dicionários filosóficos e os glossários integrantes de obras filosóficas. Ao engajá-los, a tessitura descreve dois deslocamentos: um conceitual e um epistêmico. Em relação ao campo dos conceitos, se propõe pensar a produtividade do termo artefatos culturais filosóficos, como análogo e concorrente dos termos instrumentos linguísticos. Referente ao conhecimento epistêmico, a proposta é deslocar a HIL em direção à filosofia. Entre as conclusões, pode-se ressaltar a caracterização dos dicionários filosóficos e os glossários que compõem textos filosóficos como instrumentos de saturação referencial e de estabilização conceitual.

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Publicado

2023-11-20

Como Citar

Matheus Bonfante, G. (2023). Dicionários Filosóficos e Glossários em Filosofia: Artefatos Culturais Filosóficos e Instrumentos de Saturação da Referência. Porto Das Letras, 9(2), 106–127. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/16691

Edição

Seção

Instrumentos Linguísticos