Brasil, um país doente

o racismo científico no final do século XIX

Autores

  • Ana Cláudia Fabre Eltermann UFSC

Palavras-chave:

Racismo; Evolucionismo social; Século XIX; Medicina.

Resumo

No presente artigo, temos como objetivo discutir a relação entre raça e doença nos discursos dos intelectuais no final do século XIX no Brasil. Para tanto, pretendemos olhar, especialmente, para os discursos dos médicos-cientistas do período, que procuraram relacionar as supostas mazelas do país com as raças e a mestiçagem. O período foi marcado por discursos rácio-biológicos, baseados na teoria do evolucionismo social, que buscaram hierarquizar as raças a partir de diversas categorias, tais como civilizado/primitivo, evoluído/atrasado, perfeito/defeituoso. Devido a isso, o negro e o mestiço foram considerados, assim, fatores que levavam à degeneração – física, mental e cultural – da população brasileira. Como o Brasil era considerado uma nação mestiça, esses discursos acabaram por se deslocar do indivíduo para a sociedade, de forma que a nação também foi pensada através de categorias raciais. Com esse estudo, pretendemos mostrar como a ciência brasileira contribuiu para a manutenção e reprodução do racismo, em diversos níveis.

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Publicado

2021-04-09

Como Citar

Fabre Eltermann, A. C. (2021). Brasil, um país doente: o racismo científico no final do século XIX. Porto Das Letras, 7(2), 44–63. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/11544

Edição

Seção

Discurso, doença, risco