O Discurso da dor feminina invisível

um estudo de caso sobre Evelyn Scott no Exílio Brasileiro, em Escapada

Autores

  • Adriana Lessa UFBA/UFRRJ
  • Maria das Graças Salgado Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Resumo

Este artigo analisa o discurso da dor da mulher a partir da autobiografia Escapada, de Evelyn Scott, escrita durante sua experiência de exílio auto imposto, no Brasil, entre 1914 e 1919. A análise destaca a influência de gênero nas interações estabelecidas entre a mulher, na posição de parturiente, e a equipe de profissionais de saúde envolvidos, que inclui também uma mulher. Ao vivenciar a dor, Evelyn Scott experimenta uma inusitada relação entre mente e corpo. Ela atribui, durante as dores agudas do parto, um valor positivo a esta emoção e, posteriormente, quando sofre de dor crônica, a escritora parece depender da dor provocada pelo corpo, para dar vida à mente. Especificamente, investigamos a relação entre dor e gênero quando o discurso se configura como única evidência disponível para legitimação da dor da mulher. Discursivamente, a deslegitimação da dor de Evelyn Scott pelos profissionais de saúde é acompanhada pelo sentimento de invisibilidade de sua identidade e de objetificação do seu corpo. Embora fatores como classe social e raça influenciem esse processo de legitimação da dor, observamos a proeminência das questões de gênero, inclusive por parte da única mulher da equipe médica, que revela o desejo de punição ao comportamento de Scott, interpretado como histérico.

Biografia do Autor

Maria das Graças Salgado, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Professora Associada de Inglês Departamento de Letras e Comunicação na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Referências

ABU-LUGHOD, L.; LUTZ, C. Introcuction. In: Language and the politics of emotion. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. 
Alqudah, A.F., Hirsh, A.T., Stutts, L.A., Scipio, C.D., Robinson, M.E. Sex and race differences in rating others’ pain, pain-related negative mood, pain coping, and recommending medical help. Journal of Cyber Therapy Rehabilitation. 3 (1) 63–70, 2010.
ARIEL, M. Discourse, grammar, discourse. In Discourse Studies· February 2009
DOI: 10.1177/1461445608098496. https://www.researchgate.net/publication/249712802, acessado em 30 de jan de 2021.
BOURKE, J., 2014. The Story of Pain. From Prayer to Painkillers. Oxford University Press, Oxford.
Calderone, K.L. The influence of gender on the frequency of pain and sedative medication administered to postoperative patients. Sex Roles 23, 713–725, 1990.
CHEN, E.H. et al. Gender disparity in analgesic treatment of emergency department patients with acute abdominal pain. Academic Emergency Medicine. 15, 414–418, 2008.
Cleeland, C.S., Gonin, R., Hatfield, A.K., Edmonson, J.H., Blum, R.H., Stewart, J.A., Pandya, K.J.Pain and its treatment in outpatients with metastatic cancer. New England Journal of Medicine. 330 (9) 592– 596, 1994. http://dx.doi.org/10.1056/NEJM199403033300902, acessado em 30 de jan de 2021.
EDWARDS, D. Emotion discourse. In Culture & Psychology. 5, 271-291, 1999
ELIAS, NORBERT. The History of Manners. Tradução. E. Jephcott. New York, Pantheon Books, 1978 [1a ed. 1939]. 
Hirsh, A.T., Callander, S.B., Robinson, M.E. Patient demographic characteristics and facial expressions influence nurses’ assessment of mood in the context of pain: a virtual human and lens model investigation. International Journal of Nursing Studies. 48, 11, 1330–1338, 2011.
JACKSON,  S. Acedia the sin and its relationship to sorrow and melancholia. In: KLEINMAN, A.; GOOD, B. Culture and depression: studies in the anthropology and Cross-cultural psychiatry of affect and disorder. Berkeley, Los Angeles, London, University of California Press, 1985. 
RIVERA, T. Um amor outro: ensaio psicanalítico sobre a feminilidade, criação e maternidade. In: STEVENS, C (Org.) Maternidade e feminismo: diálogos interdisciplinares. Florianópolis: Ed. Mulheres, 2007.
ROSALDO, M. Toward an Anthropology of Self and Feeling. In: SHWEDER, R. A.; LEVINE, R. (orgs) Culture Theory: Essays on Mind, Self, and Emotions. Cambridge, Cambridge University Press, 1984. 
SCOTT, E. Escapada. Tradução, Introdução e Notas de Maria das Graças Salgado, Rio de Janeiro, Versal Editores, 2019.   
SCHEPER-HUGES, N. Culture, Scarcity and Maternal Thinking: Maternity Detachment and Infant Survival in A Brazilian Shantytown. Ethos. 13, 291-317, 1985. 
WIERZBICKA, A. Cross-cultural pragamatics and different cultural values. In: Cross-cultural pragmatics: The semantics of  human interaction. London, Mouton de Gruyter, 1999. 
_____. Is Pain a Human Universal?: A Cross-Linguistic and Cross-Cultural Perspective on Pain. In Emotion Review, 4, 3, 307–317, 2012.

Downloads

Publicado

2021-04-09

Como Citar

Lessa, A., & das Graças Salgado, M. (2021). O Discurso da dor feminina invisível: um estudo de caso sobre Evelyn Scott no Exílio Brasileiro, em Escapada. Porto Das Letras, 7(2), 251–272. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/11532

Edição

Seção

Discurso, doença, risco