Um olhar decolonial para a psicologia do trabalho no Brasil: Epistemologias e imaginários para além da mercado-lógica do capital
DOI:
https://doi.org/10.20873/2526-1487e024028Palabras clave:
Psicologia do Trabalho, Decolonialidade, Bem viver, InterseccionalidadeResumen
A intenção deste ensaio é formular proposições críticas ao campo da psicologia do trabalho no
Brasil a partir de contribuições epistemológicas decoloniais. Para tal, primeiramente foram
apresentados aspectos conceituais da filosofia do Bem Viver, proveniente dos povos
originários, andino e amazônico, e sua pertinência para a construção de uma descolonização
intelectual e das práticas em psicologia do trabalho com vistas a imaginar outras
possibilidades de pesquisa e intervenção que problematizam a realidade laboral e os modos de
produção e acumulação de capital. Em seguida, buscou-se demarcar a potência da noção de
interseccionalidade, proveniente do feminismo negro, como importante operador
ético-político para uma atuação crítica no campo da psicologia do trabalho no país, marcado
tradicionalmente pela hegemonia de saberes tecnicistas, disciplinares, adaptacionistas e
classificatórios pautados no paradigma euroamericano e na colonialidade do poder, do saber e
do trabalhar. Propõe-se, a partir deste exercício decolonial, tensionar saberes e práticas
instituídos e refundar as bases científicas da psicolologia do trabalho no Brasil visando
mobilizar uma atuação efetivamente crítica em prol dos mecanismos das lutas plurais por
direitos, pela proteção da saúde e pela afirmação da dignidade para que seja possível imaginar
outros modos de vida, trabalho e psicologia para além da mercado-lógica do capital.
Citas
Acosta, A. (2016). O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. Tradução: Tadeu Breda. São Paulo: Autonomia Literária/Elefante.
Akotirene. C. Interseccionalidade. São Paulo: Polém, 2019.
Almeida, S.L. (2020). O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte (MG): Letramento.
Almeida, I. M. (2020). Proteção da saúde dos trabalhadores da saúde em tempos de COVID-19 e respostas à pandemia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 45(17), 2020. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.140
Andrade, D.E.C.V., Teodoro, M.C.M. (2020). A colonialidade do poder na perspectiva da interseccionalidade de raça e gênero: análise do caso das empregadas domésticas no Brasil. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília,10(2), 564-585. https://doi.org/10.5102/rbpp.v10i2.6855
Antunes, R. (2019). O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2. ed. São Paulo: Boitempo.
Antunes, R. (2020). Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado (Pandemia Capital). 1. ed. São Paulo: Boitempo.
Barbosa, H., & Paiva, I. (2020). Interseccionalidades: categorias articuladas a experiências de trabalhadoras em contexto de pandemia e Covid-19. Revista Inter-Legere, 3(28), c21157. https://doi.org/10.21680/1982-1662.2020v3n28ID21157
Bento, M. A. (2022). O pacto da branquitude. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras.
Bilge, S. (2009). “Théorisations féministes de l’intersectionnalité”. Diogène, 1 (225): 70-88. https://www.cairn.info/revue-diogene-2009-1-page-70.htm
Brown, W. (2019). Nas Ruínas do Neoliberalismo: A Ascensão da Política Antidemocrática no Ocidente. São Paulo: Editora Filosófica Politeia.
Carvalho, M.P., Abreu, T. (2021). Políticas Públicas e interseccionalidades: uma análise sobre o mercado de trabalho e as assimetrias de raça, classe e gênero. Humanidades & Inovação, 8(58) - Interseccionalidades das diferenças I. https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/5486
Codo, W. (1984). O papel do psicólogo na organização industrial :notas sobre o “lobo mau” em psicologia. In: Lane, S. T. M., Codo, W. (org.). Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense.
Collins, P. H. (2019). Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo, Boitempo.
Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo; 2020.
Crenshaw, K. (2022). Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas, Florianópolis, 10(1), 171-188. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2002000100011
Crenshaw, K. (1989). Demarginalizing the intersection of race and sex: a black feminist critique of antidiscrimination doctrine, feminist theory and antiracist politics. The University of Chicago Legal Forum: feminism in the law: theory, practice and criticism, Chicago, 139-167.
Dardot, P., Laval, C. (2016). A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo.
Davis, A. (2017). Mulheres, raça e classe. São Paulo, Boitempo.
De Mozzi, G., De Mello, A. G. (2019). Deficiência e Psicologia: Perspectivas Interseccionais. Florianópolis: Tribo da Ilha, 26-38.
Dowbor, L.. Rentismo, o novo modo de produção. Outras Palavras, 2024. https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/rentismo-o-novo-modo-de-producao/
Dowbor, L. (2017). A era do capital improdutivo – a nova arquitetura do poder: dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta. São Paulo: Outras Palavras & Autonomia Literária.
Druck, M.G. (2013) A Precarização Social do Trabalho no Brasil: alguns indicadores. In: Antunes, R. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. São Paulo: Boitempo Editorial.
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP). (2020). Em duas semanas, número de negros mortos por coronavírus é cinco vezes maior no país. http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/48879
Federici, S. (2017). Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução de Coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante.
Federici S. (2019). O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Elefante.
Filho, J. M. J., Assunção, A. A., Algranti, E. G., Saito, C. A., & Maeno, M. (2020). A saúde do trabalhador e o enfrentamento da COVID-19. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 45(14). https://doi.org/10.1590/2317-6369ED0000120
Fisher, M. (2020). Realismo capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?. São Paulo: Autonomia Literária.
Franco, T., Druck, M.G., Seligmann-Silva, E. (2010). As novas relações de trabalho, o desgaste mental do trabalhador e os transtornos mentais no trabalho precarizado. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 35(122), 229-248. https://doi.org/10.1590/S0303-76572010000200006
Garcia, L. P. (2020). Dimensões de sexo, gênero e raça na pesquisa sobre COVID-19. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 29(3). https://doi.org/10.5123/S1679-49742020000300023
Goes, E.F., Ramos, D.O., Ferreira, A.J.F. (2020). Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trabalho, Educação e Saúde, 18(3), e00278110. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00278
Gonzaga, P.R.B. (2022). Interseccionalidade: uma contribuição do feminismo negro para a construção de práticas e conhecimentos antiracistas na psicologia. Conselho Federal de Psicologia. Psicologia brasileira na luta antirracista. Brasília, v.1, 155-17. https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2022/11/VOLUME-1-luta-antirracista-1801-web.pdf
Gonzalez, L. (1984). Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, 223- 244.
Gonzalez, L. (1982). A mulher negra na sociedade brasileira (uma abordagem político-econômica). In: Luz, M.T. (Org.) O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual. Rio de Janeiro: Graal.
Guimarães Junior, S.D., Ferreira, J. B. de O., & Freitas, L. G. de. (2023). Neoliberalismo e produção de subjetividade: elementos para uma crítica da razão dogmática neoliberal. Psicología del Trabajo y las Organizaciones, 27(43), 69-86.
Guimarães Junior, S.D. (2023). Poeiras de vida: terceirização, subjetividade e possíveis resistências. Porto Alegre: Editora Fi.
Guimarães Junior, S.D, Souza, I.C.A, Nunes, D.S., Lorentz, A.R.K.B. (2022). Efeitos da pandemia de Covid-19 nos modos de vida e trabalho de mulheres brasileiras: interseccionalidades, desafios e urgências. Trabalho (En)Cena, 7, e022013. https://doi.org/10.20873/2526-1487e022013
Han, B. C. (2020). Psicopolítica – o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Âyiné.
Hirata, H. (2018). GÊNERO, PATRIARCADO, TRABALHO E CLASSE. Revista Trabalho Necessário, 16(29), 14-27. https://doi.org/10.22409/tn.16i29.p4552
Hirata, H. (2014). Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais . Tempo Social, 26(1), 61-73. https://doi.org/10.1590/S0103-20702014000100005
Hirata, H., Kergoat, D. (2021). Atualidade da divisão sexual e centralidade do trabalho das mulheres. Revista de Ciências Sociais-Política & Trabalho, 1(53), 22-34. https://doi.org/10.22478/ufpb.1517-5901.2020v1n53.50869
Hooks, b. (1984) Feminist theory: from margin to center. Boston: South end press.
Ibirapitanga e Schucman, L.V. (orgs.) (2023). Branquitude: diálogos sobre racismo e antirracismo. São Paulo: Fósforo Editora.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2019). Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf
Kergoat, D.. (1978), “Ouvriers = ouvrières? Propositions pour une articulation théorique de deux variables: sexe et classe sociale”. Critiques de l’Économie Politique, 5: 65-97, nova série.
Lacerda Neto, M.S., Guimarães Junior, S.D., Monteagudo, P.M., Ferreira, J.B. (2021). Racismo, trabalho e psicologia: provocações ético-políticas à luz da pandemia pela COVID-19. Psicologia para América Latina, 35,105-112, 2021. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870350X2021000100009&lng= pt&nrm=iso
Lander, E. (Org). (2005). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO.
Lorde, A. (2007). Sister outsider: essays and speeches by Audre Lorde. Berkeley: Crossing Press.
Marchesan, R.. (2020). Por que o desemprego aumentou mais para negros do que brancos na pandemia. CEERT. https://ceert.org.br/noticias/mercado-de-trabalho- comercio-servicos/43392/por-que-o-desemprego-aumenCtou-mais-para-negros-do-que-brancos- na-pandemia
Martín-Baró, I. (2014). Psicologia Política do Trabalho na América Latina. Revista Psicologia Política, 14(31), 609-624.
Mbembe, A. (2018). Necropolítica. 3. ed. São Paulo: n-1 Edições.
Núñez, G. Perspectivas guarani sobre binarismos da colonização: caminhos para além das monoculturas. Tempo e Argumento, 15, 0101-31, 2023. https://periodicos.udesc.br/index.php/tempo/article/view/2175180315402023e0101
Oliveira, R.G., Cunha, A.P., Gadelha, A.G.S, Carpio, C.G., Oliveira, R.B., & Corrêa, R.M. (2020). Desigualdades raciais e a morte como horizonte: considerações sobre a COVID-19 e o racismo estrutural. Cadernos de Saúde Pública, 36(9), e00150120. https://doi.org/10.1590/0102-311X00150120
Oxfam International. DESIGUALDADE S.A. Como o poder das grandes empresas divide o nosso mundo e a necessidade de uma nova era de ação pública. Brasília, 2024. https://ifz.org.br/desigualdade-s-a-como-o-poder-corporativo-divide-nosso-mundo-e-a-necessidade-de-uma-nova-era-de-acao-publica/
Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: Lander, E. (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: CLACSO.
Ribeiro, D. (2019). Pequeno manual antirracista. 1. Ed. São Paulo: Companhia das Letras.
Santos, A. (2024). A terra dá, a terra quer. São Paulo: UBU Editora.
Santos, E. F., Diogo, M. F., Shucman, L. V. (2014). Entre o não lugar e o protagonismo: articulações teóricas entre trabalho, gênero e raça. Cadernos De Psicologia Social Do Trabalho, 17(1), 17-32. https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v17i1p17-32
Santos, M.P., Nery, J.S., Goes, E.F., Silva, A., Santos, A.B.S., Batista, L.E., e Araújo, E.M. (2020). População negra e Covid-19: reflexões sobre racismo e saúde. Estudos Avançados, 34(99), 225-244. https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2020.3499.014
Santos, S. C. dos, Kabengele, D. do C., & Monteiro, L. M. (2022). Necropolítica e crítica interseccional ao capacitismo: um estudo comparativo da convenção dos direitos das pessoas com deficiência e do estatuto das pessoas com deficiência. Revista Do Instituto De Estudos Brasileiros, 1(81), 158-170. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v1i81p158-170
Souza, H.A., Silva, G.R.A., Silva, R.L., & Silva, C.H.F. (2020). Pessoas transgêneras e o mundo do trabalho: desafios e reflexões sobre o compromisso ético e político da Psicologia. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 23(2), 175-188. https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v23i2p175-188
Schwarcz, L. M. (2019). Sobre o autoritarismo brasileiro. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras.
Viegas, M.F.W., Silva, E.N. ; Vieira I.B., Avena, M.J. ; Lagoeiro, M.C., Guimarães Junior, S.D. (no prelo). Por detrás da cortina: uma análise interseccional da invisibilidade do trabalho doméstico no Brasil. Revista Ciências do Trabalho, 2024.
Zanelli, J.C., Bastos, A.V.B., e Rodrigues, A.C.A. (2014). Campo profissional do psicólogo em organizações e no trabalho. In: Zanelli, J.C.; Borges-Andrade, J.E., Bastos, A.V.B. (Orgs.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 526-548.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2024 Sergio Dias Guimarães Junior, Lêda Gonçalves de Freitas
Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.
Os direitos autorais dos artigos publicados pela Revista Trabalho EnCena permanecem propriedade dos autores, que cedem o direito de primeira publicação à revista. Os autores devem reconhecer a revista em publicações posteriores do manuscrito. O conteúdo da Revista Trabalho EnCena está sob a Licença Creative Commons de publicação em Acesso Aberto. É de responsabilidade dos autores não ter a duplicação de publicação ou tradução de artigo já publicado em outro periódico ou como capítulo de livro. A Revista Trabalho EnCena não aceita submissões que estejam tramitando em outra Revista. A Revista Trabalho EnCena exige contribuições significativas na concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito e obrigatoriamente na revisão e aprovação da versão final. Independente da contribuição, todos os autores são igualmente responsáveis pelo artigo.