v. 1 n. 35 (2023): Estudos Urbanos e das Cidades: Debates e Reflexões
No grande desafio que é interpretar a cidade contemporânea, no intuito
de propor ações a partir de um campo disciplinar que trabalha o espaço e a vida
cotidiana, como Arquitetura e Urbanismo, cada vez mais tornam-se necessárias
pesquisas que cumprem a função de desvendar e investigar o papel determinante
do comércio e do consumo nas transformações sociais, culturais e urbanas no
século XXI.
Aqui, a lente de estudo é o setor terciário em uma cidade nova brasileira,
Palmas, inaugurada em 1989, resultado de um projeto urbano nascido da
prancheta do então coletivo de arquitetos GrupoQuatro. O traçado, de matizes
modernistas, configurou um arranjo inicial de comércio, serviços e lazer que
não priorizou os usos combinados, induzindo uma latente crise de urbanidade
em um sistema que não favorece o encontro e nem a diversidade. Percebe-se,
nas atividades do varejo, um novo tecimento de vida cotidiana nos estéreis espaços
projetados, ao contestar a monotonia da grelha ortogonal por meio de
subversões do projeto original, passando então a romper muros, abrir frentes
onde antes não se permitia, conectar quadras segregadas, criar esquinas, colocar
vitrines, dotar calçadas de mesas e bancos, enfim, dotar um cenário artificial em
consolidação com simultaneidade (de eventos, usos e pessoas), burburinho e um
não planejado mix de atividades.