O ESTILO DE MARIA VALÉRIA REZENDE
A CONSTRUÇÃO DO ÉTHOS HUMANIZADOR EM PRÁTICAS DE CRENÇA E FÉ
DOI:
https://doi.org/10.20873/asel.v33i2.22204Palavras-chave:
Semiótica Discursiva, Estilo, Discurso literárioResumo
O discurso literário é uma prática que (re)constrói o mundo sob óticas não convencionais, utilizando o caráter plástico da linguagem para apresentar pontos de vista sobre o mundo semiotizado e revelar-se como produto da discursividade. Este estudo integra um projeto que reconstitui o quadro estilístico do enunciador “Maria Valéria Rezende”, analisando recorrências discursivas em suas obras. Objetivamos demonstrar como a fé cristã é construída sob diferentes percepções das narradoras de Outros cantos (2016) e em Carta à Rainha Louca (2019). A escolha destas obras se deve pela linha temática religiosa que se constrói nos enunciados atribuídos à Maria Valéria Rezende (MRV), configurando-se como um vetor estilístico. Para tanto, a metodologia fundamenta-se na Semiótica discursiva e nos estudos de estilo e éthos (Discini, 2004; 2015), por meio dos quais partimos do nível discursivo do percurso gerativo de sentido, ao identificar nos dois enunciados linhas temáticas e valores ideológicos que configuram um vetor estilístico, como hipótese de um efeito de identidade do enunciador, confirmando-o no cotejo entre os dois enunciados (das partes ao todo, do unus ao totus). Identificamos o sujeito da enunciação na totalidade dos discursos, à medida que o enunciador projeta um éthos para convencer o enunciatário, consolidando um pacto fiduciário (Greimas & Courtés). Em MRV, pelo tom humanístico do enunciador, notam-se peculiaridades enunciativas, tais como o povoamento do discurso literário de atores marginalizados. Por meio de suas condições de luta e resistência aos valores cristalizados, a fé cristã, em especial, as práticas do catolicismo, emerge como temática que ora converge para a moral judaico-cristã, ora a subverte, gerando conflitos morais entre os atores discursivos. Isso resulta em múltiplas significações e valores axiológicos em disputa, remetendo-nos ao éthos do enunciador. Assim, vislumbram-se sentidos reformuladores da religiosidade e do conflito Homem-Deus, transcendendo a lógica maniqueísta presente em discursos religiosos.
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