A Gramatica Annobonesa, de Natálio Barrena: Uma Gramática Missionária de uma Língua Crioula

Autores

  • Ana Lívia Agostinho Universidade Federal de Santa Catarina https://orcid.org/0000-0002-2395-4961
  • Cássio Daniel Siqueira Universida Federal de Santa Catarina

Resumo

O escopo desta pesquisa consiste na análise de descrições gramaticais do fa d’Ambô na obra Gramatica Annobonesa (1957), escrita pelo missionário católico Natalio Barrena, no período colonial. O fa d’Ambô é uma língua crioula falada maioritariamente em Ano Bom – ilha que compõe o território da República da Guiné Equatorial, no Golfo da Guiné. É uma das quatro línguas que constituem a família de línguas do Golfo da Guiné, junto às línguas santome, angolar (Ilha de São Tomé), e lung’Ie (Ilha do Príncipe). Buscaremos, à luz da historiografia linguística (SCHUCHARDT, 1979; GRANDA, 1986; BATISTA, 2005; ALTMAN, 2011; POST, 2013; FERNANDES, 2015): (i) situar a Gramatica Annobonesa (1957) entre obras de tradição gramatical missionária como uma das últimas publicações (e talvez a última) deste tipo, marcada pela transposição do protótipo gramatical renascentista, em conformidade à posição paradigmática do modelo greco-latino (cf. AUTOR 2021); (ii) atentar para as peculiaridades da obra ante a gama de trabalhos produzidos por missionário considerando que não há um modelo greco-latino único (ALTMAN, 2011); e (iii) compreender de que forma os fenômenos linguísticos do fa d’Ambô são classificados, a fim de fornecer hipóteses acerca do olhar do autor sobre a língua, ou seja, a concepção de língua implícita nas descrições.

Referências

AUTOR 2013

AUTOR 2015

AUTOR 2019

AUTOR 2021

ALTMAN, C. A descrição das línguas ‘exóticas’ e a tarefa de escrever a história da linguística. Revista da Abralin. Vol. Eletrônico, N. Especial, p. 209-230, 2011.

AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Tradução Eni Puccinelli Orlandi. Campinas: Editora da Unicamp, 1992.

BANDEIRA, M. Reconstrução fonológica e lexical do protocrioulo do Golfo da Guiné. 2017. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

BARRENA, N. Gramatica Annobonesa. Madrid: Instituto de Estudios Africanos, 1957.

BARRENA, N. Catecismo de la doctrina cristiana del V. P. Antonio María Claret; traducido al fa d’ambô. Madrid: Editorial del Corazón de María, 1928.

BATISTA, R. O. Descrição de línguas indígenas em gramáticas do Brasil colonial. DELTA. Vol. 21, N. 1, p. 121-147, jun. 2005.

BRONKHORST, J. Buddhist Hybrid Sanskrit: The Original Language. In: Aspects of Buddhist Sanskrit. Proceedings of the International Symposium on the Language of Sanskrit Buddhist Texts, Oct. 1-5, 1991. Sarnath, Varanasi: Central Institute of Higher Tibetan Studies, 1993.

BUENO, F. S. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1944.

COSME, A. T. As Relações Filogenéticas entre os Crioulos do Golfo da Guiné. 2014. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Lisboa. 2014.

ECHEGARAY, C. G. Historia de la prensa en Guinea Ecuatorial en el siglo XX: cien años de publicaciones periódicas, 1999. Publicação on-line. Disponível em: https://static.cambridge.org/content/id/urn:cambridge.org:id:article:S026667311500001X/resource/name/S026667311500001Xsup001.pdf. Acesso em :19 jun. 2023.

FERNANDES, G. Primeiras descrições das línguas africanas em língua portuguesa. Revista Confluência. N. 49, 2015.

FONDO Claretiano. Comunidad de Banapá. 1922. Además del P. N. Barrena están los PP. Olangua, Arregui, Jutglar, J. Jimenez, Suberbiola y el H. Iturriza. 2006. 1 fotografia, p&b.

x768 pixels. Disponível em: http://bioko.net/claret/displayimage.php?album=1&pos=12. Acesso em: 19 jun. 2023.

GRANDA, G. Las lenguas de Guinea Ecuatorial: Materiales bibliográficos para su estudio. Thesaurus. Tomo XXXIX. N. 1, 2 e 3, p. 173-193, 1984.

HAGEMEIJER, T. As línguas de S. Tomé e Príncipe. Revista de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola. Vol. 1, p. 1-27, 2009.

HAGEMEIJER, T. As Ilhas de Babel: a crioulização no Golfo da Guiné. Revista Camões. N. 6, p. 74-88, 1999.

HOLM, J. Languages in contact: the partial restructuring of vernaculars. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

HOVDHAUGEN, E. ...and the Word was God. Missionary Linguistics and Missionary Grammar. Münster: Nodus, 1996.

LA GUINEA Española. Ano I, N. 1, abr. 1903. Disponível em: http://www.bioko.net/guineaespanola/A1903.htm. Acesso em: 19 jun. 2023.

LA GUINEA Española. Ano VI, N. 14, jul. 1909. Disponível em: http://www.bioko.net/guineaespanola/1909/190907_25.pdf. Acesso em: 19 jun. 2023.

LA GUINEA Española. Ano VI, N. 16, ago. 1909. Disponível em: http://www.bioko.net/guineaespanola/1909/190908_25.pdf. Acesso em: 19 jun. 2023.

MADEIRA, S. L. R. Towards an annotated bibliography of restructured Portuguese in Africa. 2008. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, 2008.

MATTOSO CÂMARA Jr., J. História da Linguística. 6ª. Ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1975.

MEIJER, G.; MUYSKEN, P. C. On the Beginnings of Pidgin and Creole Studies: Schuchardt and Hesseling. In: VALDMAN, A. (Org.). Pidgin and Creole Linguistics. Bloomington: Indiana University Press, 1977.

MUYSKEN, P. C.; SMITH, N. The study of pidgin and creole languages. In: ARENDS, J.; MUYSKEN, P. C.; SMITH, N. Pidgins and Creoles: An introduction. Amesterdão: John Benjamins Publishing Company, 1994.

POST, M. The serial verb construction in Fa d'Ambu. In: d’ANDRADE, E.; KIHM, A. (Orgs.). Actas do colóquio sobre “Crioulos de base lexical portuguesa”. Lisboa: Colibri, 1992.

POST. M. Negation in fa d’Ambô. In: DEGENHARDT, R.; STOLZ, T.; ULFERTS, H. (Orgs.). Afrolusitanistik – eine vergessene Disziplin in Deutschland? Bremen: Universität Bremen.

ROCHA, E. L. F. A Ars Grammatica de Diomedes. Reflexos do bilinguismo greco-latino. 2015. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2015.

ROSA, M. C. Acerca das duas primeiras descrições missionárias de língua geral. Papia. Vol. 2, N. 1, p. 85-98, 1992.

ROSA, M. C. Revendo uma das críticas às descrições missionárias. Revista de Estudos da Linguagem. Vol. 14, N. 1, p. 203-230, jan.-jun. 2006.

SCHUCHARDT, H. The Ethnography of Variation: Selected writings of pidgins and creoles. Ann Arbor: Karoma Publishers, 1979.

SEGORBE, A. Z. Gramática descriptiva del fa d’Ambô. Malabo: Ceiba Ediciones. 2010.

STELLA, J. B. A gramática de Pânini. Revista Letras. N. 2, p. 146-150, 1960.

SWIGGERS, P. 2012. Linguistic Historiography: Object, methodology, modelization. Todas as Letras. Vol. 14, N. 1, p. 38-53, 2012.

TEODORO, L. A.; ALMEIDA, L. A. Os primeiros passos dos escritos em línguas vernáculas na Idade Média. História e Cultura. Vol. 5, N. 1, p. 2-4, mar. 2016.

VILA, I. Elementos de La Gramatica Ambú o de Annobón. Madrid: Imprenta de A. Perez Dubrull, 1891.

WEEDWOOD, B. História Concisa da Lingüística. Tradução Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

ZWARTJES, O. Portuguese Missionary Grammars in Asia, Africa and Brazil, 1550-1800. Amesterdão: John Benjamins Publishing Company, 2011.

Downloads

Publicado

2023-11-20

Como Citar

Agostinho, A. L., & Siqueira, C. D. (2023). A Gramatica Annobonesa, de Natálio Barrena: Uma Gramática Missionária de uma Língua Crioula. Porto Das Letras, 9(2), 390–428. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/16865

Edição

Seção

Instrumentos Linguísticos