Sprachmischung: interdição e ressonâncias de elementos identitários

Autores

  • Vejane Gaelzer Instituto Federal Farroupilha

Palavras-chave:

interdição; Sprachmischung; construção imaginária de brasilidade; construção discursiva; escola.

Resumo

o artigo tem o propósito de reler os acontecimentos históricos dos anos 1930 e 1940 no Brasil e compreender como as políticas de nacionalização linguística do Estado Novo interferiram nas práticas sociais de imigrantes alemães no que tange a língua. Para tanto, buscamos analisar as medidas\decretos do Governo de Getúlio Vargas e mostrar como essas imposições interferiram nas práticas sociais de imigrantes e seus descendentes. Destacamos a escola que oficializa o discurso do ensino da língua nacional. A escola e o ensino da língua nacional sob a égide de país miscigenado e unido pela língua nacional configuram a tentativa do início da construção imaginária de brasilidade. Se por um lado, a língua nacional é um atestado jurídico de brasilidade, conforme o projeto de nacionalização do governo varguista, por outro lado, ela traz a injunção ao esquecimento da língua materna dos imigrantes e aos elementos simbólicos de identificação aos quais ela remete. Portanto, a interdição oficial durante o Estado Novo traz consequências para a vida dos imigrantes e interfere diretamente nas suas práticas sociais diárias e essa interdição ainda hoje ecoa na memória social desse grupo. Apesar do esforço e da implementação jurídica do Estado, a língua materna dos imigrantes sobreviveu à proibição e continua viva nas práticas sociais no espaço privado familiar em algumas comunidades. Trata-se de uma língua típica, a mistura do dialeto alemão com a língua Portuguesa: a Sprachmischung[1]. O corpus discursivo é composto por relatos de filhos de imigrantes alemães da região Noroeste do Rio Grande do Sul, que cultivam no seu imaginário social, elementos de ligação com seus antepassados. Assim, com base na análise discursiva do corpus, percebemos a relação dos sujeitos com a Sprachmischung e o modo como ressoam e ecoam vozes, discursos e memórias atravessadas pela interdição do sujeito pela língua. Para tanto, filiamo-nos à Análise do Discurso (AD), mobilizando o conceito de língua, na sua materialidade linguística, afetada e determinada por fatores históricos, ideológicos e políticos.

 

[1] Esse conceito está aprofundado nos estudos da Tese intitulada: Construções imaginárias e memória discursiva de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul. GAELZER, Vejane.– Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012 (publicado sob o mesmo título em Jundiaí: Paco Editorial, 2014).

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Publicado

2020-11-17

Como Citar

Gaelzer, V. (2020). Sprachmischung: interdição e ressonâncias de elementos identitários. Porto Das Letras, 6(5), 33–54. Recuperado de https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/article/view/10121

Edição

Seção

História das Ideias Linguísticas